2006/04/03

Frank London’s Klezmer Brass Allstars (EUA/Israel) / Diabolus in Musica (França)

“Felizes casamentos entre sonoridades tradicionais e outras formas de expressão contemporâneas: os norte americanos Bob Brorman, Bill Laswell e Roswell Rudd com o guineense Djeli Moussa Diawara, os etíopes Abyssinia Infinite e o maliano Toumani Diabaté. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Djeli Moussa Diawara & Bob Brozman (3) Almany (5,02) “Ocean Blues: From Africa do Hawai”
(2) Abyssinia Infinite (10) Ethiopia (6,15) “Zion Roots”
(3) Roswell Rudd’s Toumani Diabaté (1) Bamako (6,29) “Malicool”
(T.T.18,26)

(Separador)

“O idioma judaico, um klezmer (no plural “Klezmorim”) era sempre o oposto de um verdadeiro músico; era apenas alguém que não sabia ler notas e que tocava unicamente de ouvido, num estilo muito popular e, muitas vezes, rústico. Estes músicos judeus, cujo nome deriva dos dois termos bíblicos hebraicos “klej” (instrumento, recipiente) e “zemer” (cantar, tocar música), eram contudo imprescindíveis para acompanhar o evento mais importante da vida judaica: O casamento (em yiddish: “khasene”)
As origens deste estilo específico tocado nos bairros judeus da Europa de leste perderam-se nos tempos. Deveria nessa altura ser uma música particularmente rude e selvagem, a crer num comentário de um convidado de um casamento judaico realizado em 1802 em Podolia (hoje Ucrânia), que referiu que “cada som desta música penetra nos ouvidos como uma flecha”. Estes casamentos representavam um aglomerado de rituais camponeses das populações da Europa de leste e de elementos judaicos próprios. Eram cerimónias complicadas que exigiam uma música solene, à altura da ocasião mas que devia ao mesmo tempo ser adaptada às danças alegres que concluíam os eventos. A música era sobretudo instrumental e, segundo o judeu ucraniano Mosha Beregovskij, um musicólogo dos anos 30, ordenava e dirigia toda a cerimónia.
Apesar das origens seculares, a história da música Klezmer é inconcebível sem a influência da música das sinagogas e dos cantos hassídicos, sobretudo os cantos sem sílabas (“nigun”, no plural “nigunim”) que actualmente são cantados ainda como meditação religiosa pelos discípulos dos movimentos místicos.
”Shpil, Klezmer, biz di strunes plotsn dis” (“Toca, Klezmer, até que as cordas te saltem dos dedos”) – Esta velha expressão yiddish, lembra-nos que, durante séculos, o violino foi o instrumento predominante na música judaica, por vezes acompanhado pelo saltério (Tsimbl) e pelo violoncelo ou pelo baixo. Foi apenas no séc. XIX que outros instrumentos se lhes juntaram como o clarinete, o saxofone ou o trompete, que ganharam importância ma música klezmer graças ao facto dos músicos tocarem em bandas militares czaristas; hoje são instrumentos considerados imprescindíveis pelos músicos klezmorim.
Frank London, conhecido músico klezmer, reuniu mais de 40 músicos de 8 países e 4 continentes para a sua última conspiração judaica: “Carnival Conspiracy” (2005 Piranha). Um multifacetado cocktail que abarca desde o Pop hassídico a canções brasileiras, mexicanos e yiddish sobre o amor e a angústia.
Frank London’s Klezmer Brass Allstars no seu melhor.


(6) 5,54
(9) 5,15
(12) 7,11
(T.T. 18,20)

(separador)

“Um tema do Alto Egipto que evoca tempos passados e um poema litúrgico judaico do Noroeste africano. São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias”

(1) Ganoub (12) Eshado (8,00) “… en arabe vent dire Sud”
(2) Alain Chekroun & Taoufik Bestandji (3) Rahamekha (1,21 – 9,12) (7,51) “Chants des Synagogues du Maghreb”

“Um canto sefardita de Esmirna, um tema alemão do séc. XVIII e uma peça da Inglaterra do séc. XIII”.

(1) Les Fin’Amoureuses (17) Yo era ninya (5,03) “Marions Les Roses: Chansons & psaumes de La France à l’Empire Ottoman”
(2) Ricercar Consort/ Carlos Mena (8) Vater unser … (7,06) “De Aeternitate”
(3) La Reverdie (20) Lux (3,25) “Nox-Lux: France & Angleterre, 1200-1300”


(Separador)

“Heloisa escreveu que Abelardo compôs, aquando da sua relação amorosa, canções que o mundo inteiro cantou. A ser verdade, significa que Pierre Abelardo (1079-1142), contemporâneo de Guillaume IX da Aquitânia (1071-1126), de Hildegard von Bingen (1098-1179) e de Bernard de Clairvaux (1090-1153), teria sido o primeiro dos trovadores, quase um século antes de Guiot de Provins, Blondel de Nesles e Gace Brûlé. Infelizmente, as canções de amor de Abelardo desapareceram e hoje nem sequer sabemos se foram escritas em latim ou em francês. Os primeiros trovadores apareceram, então, numa época em que o amor cortês estava já em declínio. Cantando na língua d’Oc, nos diversos dialectos do Norte de França (em Picard, Champenois ou Wallon), inspiraram-se nos temas da “Fin Amor” nas suas principais formas (a canção, o serventois, o jeu – parti e a serenata) e desenvolveram outros temas como a pastoral e a canção de cruzada, inventando ainda a canção de mesa, a canção da mal-casada e a canção sagrada. Poetas cortesãos, evoluindo numa sociedade urbana e em plena expansão, os trovadores aburguesaram-se rapidamente, escrevendo para um público de ricos mercadores, e reagruparam-se em confrarias, em centros importantes como Arras.
“O grupo “Diabolus in Musica”, dirigido por Antoine Guerber, explora o fascinante repertório dos Trovadores e editou em 2005 para a Alpha o registo “La Doce Acordance: Chansons de Trouvères”,, com temas de Adam de Givenci, Châtelain de Coucy, Chrétien de Troyes, Conon de Béthune, Gautier d’Epinal, Gontier de Soignies, Guillaume le Vinier, Richard de Fournival, Thibaud de Champagne e Thomas Hérier, para além de três temas de trovadores anónimos, todos dos séc. XII e XIII”.


(2) 4,14
(12) 4,23
(9) 3,49
(14) 6,06
T.T. 18,32

(Separador)

“Duas versões da extraordinária Cantiga de Amigo “Ondas do mar de Vigo” de Martim Codax, encerram hoje o Templo das Heresias.

(1) Fin’Amor (4) Ondas do mar de Vigo (13,06) “Martin Codax: Cantigas de Amigo”
(2) Supramúsica (1) Ondas do mar de Vigo (10,31) “Martin Codax: Cantigas de Amigo”