2006/09/27

Tartit (Mali) / Dekameron (Polónia)

1ª Hora

“Uma canção de amor da Mauritânia, um elogio à mulher proveniente do Níger, um tema dos poetas rebeldes do Mali desértico e um manifesto político dos Sahraoui, de Marrocos. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Malouma (9) Mahma El Houb (5,49) “Dunya”
(2) Etran Finatawa (2) A Dunya (5,03) “Desert Crossroads”
(3) Tinariwen (3) Chatma (5,36) “Amassakoul”
(4) Mariem Hassan (8) Id Chab (3,34) “The Rough Guide to the Music of the Sahara”


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Os homens Tuareg do deserto do Sahara estão cobertos por véu, as mulheres não. A Sociedade Tuareg é uma das poucas do continente africano em que as mulheres estão autorizadas a escolher os seus maridos e para se divorciar deles se o entenderem.
Nada evoca com tanta autenticidade a imensidão do deserto do Sahara como a música dos Tartit, uma banda Tuareg constituída por cinco mulheres e quatro homens que residem na região de Timbuktu.(Mali)
A música dos Tartit é uma espécie de Trance hipnótica: as mulheres, sentadas, cantam e tocam ritmos cíclicos nos seus tambores típicos, enquanto os homens cantam e tocam instrumentos de corda acústicos e eléctricos.
A banda formou-se num campo de refugiados, tal como os Tínariwen, que já aqui destacámos, durante o levantamento Tuareg nos inícios dos anos 90. Os Tartit realizaram já pela Europa várias tournées, a mais recente fazendo parte dos concertos “Desert Blues”.
Depois de um registo editado pela Network (“Ichichila”), os Tartit regressam em 2006 com “Abacabok” para a Crammed, um registo gravado em Bamako e no norte desértico do Mali pelo produtor dos Congotronics, Vincent Kenis, no seu estúdio móvel. Distribuição: Megamúsica.

(2) 5,23
(5) 4,32
(9) 4,45
(12) 5,52


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“Um tema inspirado na música clássica da Índia do Sul e um Khyal, a forma musical característica da Índia do Norte. A música do subcontinente indiano no encerramento da 1ª parte do Templo das Heresias”.

(1) Selvaganesh (3) Love to my brothers (8,40) “Soukha”
(2) Lakshmi Shabkar (2) Khyal … (11,45) “Les heures et les saisons”



2ª Hora

“Uma sibila Latina do séc. X e uma melodia judaica de Marrocos, do séc. XII”.

(1) Montserrat Figueiras (2) Femina Antiqua (10,14) “Lux Feminae”
(2) Meirav Ben David-Harel/ Yaïr Harel/Nima Ben David/ Michèle Claude (Israel) - (1) Yedidi …(7,11) “Yedid Nefesh: Amant de mon ame”


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“O culto da Virgem Maria faz parte da civilização cristâ desde os seus primórdios. Começou por florescer na Europa medieval a partir das actividades de S. Bernardo e, subsequentemente, de S. Domingos. Desde o séc. XII algumas das mais esplêndidas igrejas foram construídas em louvor à mãe de Deus, inúmeras abadias e catedrais incluindo as de Notre Dame (Paris), Chartres e Rheims.
O séc. XIII assistiu à emergência das peregrinações aos santuários marianos de Montserrat, Puy, Rocamadour, Mariazell e a dezenas de outros lugares da Europa, onde os crentes oravam em frente a imagens e figuras miraculosas da Mão de Deus. A Madonna e o filho constituíram mesmo um dos motivos favoritos da iconografia medieval. Inicialmente foram apresentados com total esplendor, quase sempre rodeados por anjos em adoração. Com o passar do tempo, as imagens da Madonna começaram a perder a sua divina majestade e a esplendorosa, sorridente ou pensativa Mãe de Deus, emanando calor humano, tornou-se particularmente fechada ao Homem. As populações rezavam à Nossa Senhora para que intercedesse junto de Deus na concessão de graças; canções foram escritas para exultar a sua glória. Ela era a heroína de inúmeras lendas sobre eventos miraculosos. Entre as mais belas colecções de peças poéticas e musicais dedicadas à Mãe de Deus constam os “Miracles de Nostre-Dame” por Gautier de Coincy, de França, dos inícios do séc. XIII, a as Cantigas de Santa Maria, de Afonso X, o Sábio, de Castela, dos finais do séc. XIII.
As canções germânicas de louvor à Mãe de Deus são orações fervorosas com características íntimas e pessoais, mas também adaptações livres e perífrases de textos litúrgicos. Na Polónia, as canções marianas, a mais conhecida das quais foi Bogurodzica (“Mãe de Deus”), apareceram um pouco mais tarde que no Ocidente europeu. Muitas delas eram versões polacas de canções de outros países, como é o caso, por exemplo, de “Ave Mater o Maria”, importada de Itália.
São pois, temas da Espanha, França, Alemanha e Polónia medievais, dedicados à Virgem, que constituem o registo “Ave mater, o Maria”. Interpretam-nas o grupo polaco Dekameron.
Fundado em 1993 para popularizar a cultura musical da Europa da Idade Média, sobretudo dos séc. XII ao XV, os Dekameron liderados por Tadeusz Czechak servem-se de réplicas de instrumentos antigos construídos a partir sobretudo de iconografias medievais.


(13) 1,44
(2) 3,18
(1) 3,47
(5) 1,49
(4) 3,19
(17) 6,10

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“Música do Antigo Egipto, da Roma Antiga e da Grécia Antiga”.

(1) Hathor Ensemble (9) Processional … (9,52) “Ancient Egypt: Music in the Age of the Pyramids”
(2) Synaulia (5) Synphoniaci (5,53) “Music from Ancient Rome, vol. 2: String instruments”
(3) Cristodoulos Halaris (3) Second Delphic Hyme (6,14) “Music of Ancient Greece” (T.T. 21,00)

2006/09/12

Lullabies (ellipsis arts) / Ensemble Alpha (Portugal)

“Uma canção tradicional da Sardenha, uma versão de um tema popular da Bulgária, um canto baseado numa melodia da Mongólia, e uma dança dos dervishes do vale das sombras. São os sons que abem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Ghjuvanpetru Lanfrsnchi (9) Brunetta (4,29) “David Rueff: Tra Ochju e Mare”
(2) Passio (1) Stava la madre (4,29) “Passio”
(3) Faraualla (5) Szerelem (1,34) “Faraualla”
(4) Nomad (9) Mokilikili (3,18) “Ciguri”
(5) Sainkho (6) Valley of Shadows (4,25) “Naked Spirit”

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“Ao longo dos tempos e nos mais variadíssimos lugares, a canção tem sido um das expressões fundamentais da existência humana. Tal como os lamentos fúnebres, as celebrações dos casamentos, os cantos do trabalho e a música ritual, também as canções de embalar datam de tempos imemoriais. Intimamente e quase exclusivamente ligado a experiências femininas (as mães, naturalmente, mas também as avós, as tias, as amas…), as canções de embalar constituem o primeiro contacto das crianças com a música; mas é, também, o amor e a linguagem do coração que são transmitidos através destas canções, destinadas a acalmar as crianças e a conduzi-las serenamente ao sono.
Em termos musicais, as canções de embalar, sejam quais forem as suas proveniências, mostram um certo número de similaridades: versos simples, refrões baseados em cantos onomatopaicos, um número limitado de sequências melódicas que podem ser repetidas e ritmos suaves e monótonos para ajudarem as crianças a adormecer. A origem dos textos pode ser extremamente diversa: a promessa de um objecto ou de um brinquedo, a referência ao regresso de um pai ausente, a incorporação de temas religiosos, a evocação de circunstâncias próprias e pessoais dos intérpretes, sobretudo quando as crianças ainda não dominam a linguagem, etc.
Já aqui destacámos, em diversas ocasiões, alguns discos dedicados às canções de embalar (“The Planet Sleeps”, “Cuban Lullaby”, “Brazilian Lullaby”, “African Lullaby”, “Traditional Lullabies” de Nikos Kypourgos e Savina Yannatou, “Ninna Nanna”, de Montserrat Figueres, entre outros). Hoje vamo-nos debruçar sobre cinco antologias da etiqueta americana ellipsis arts …: “Latin Lullaby”, “Mediterranean Lullaby”, “American Lullaby”, “World Music for little ears” e “Lullabies for a small world”, autênticas viagens musicais ao mundo das canções de embalar.

(1) Nelie Lebron – A dormir ticura (0,52) Porto Rico
(2) Ntomb’khona Diamini-thula A Sul Latim(3,08) Zimbabwe
(3) Clara Alonso - Oguere (1,41) Cuba
(4) Chiara Civello – Ninna Nanna (3,39) Sicília
(5) Alessandra Belloni – Nia, Nia (3,00) Itália/ Grécia

(Separador)

“Uma tema basco sobre o exílio, uma canção tradicional da etnia saami da Lapónia e um canto dos índios Seri de Sonora (México) que acompanha o nascimento enceram a 1ª parte do Templo das Heresias”

(1) Pedro Soler & Benãt Achiary (7) Chant d’exil (4,59) “Prés du coeur sauvage”
(2) Wimme (6) Boaimmas (5,35) “Wimme”
(3) Yaki Kandru (3) Canto de los seri (7,00) “Music from the Tropical rainforest & other Magic Places”


2ª Hora

“Musica do Antigo Egipto”

(1) Ali Jihad Racy (Líbano) (2) The land of Blessed (6,56) “Ancient Egypt”
(2) Michael Atherton (Austrália) (17) Shen song (5,02) “Ankh: The Sound of Ancient Egypt”
(3) Rafael Pérez Arroyo/ The Hathor Ensemble (3) Iba Dance (6,59) ) “Ancient Egypt: Music in the age of the Pyramids”

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As variadíssimas tradições de canto litúrgico cristão, ortodoxas e católico – romanas, não só reflectem a triste separação entre o Oriente helénico e o Ocidente latino, mas também mostram interligações, tanto com outras tradições de canto como com repertórios populares. São estes contrastes e ligações que fornecem o pretexto para a edição de “O Divina Virgo”, do Ensemble Alpha (2005 DARGIL).
”Kyrie Cunctipotens” em notação bizantina, de um manuscrito proveniente do centro de espiritualidade ortodoxa – O Monte Athos, na Grécia, é a obra emblemática do “convívio” Oriente/Ocidente e do disco; um hino à Virgem contado normalmente para concluir a anáphora (Cânon) da Divina Liturgia e um apolitíquio (hino de demissão) para a festa de São João Crisóstomo, exemplo paradigmático do canto do Mosteiro de Valaam (Rússia/Finlândia), um cântico da tradição carpato-russa entoado nas Grandes Completas de Natal são outros exemplos da vertente oriental na gravação.
Para representar a tradição ocidental em “O Divina Virgo”, está incluída uma série de obras medievais que mostram uma espiritualidade mais popular, entre as quais dois hinos em canto chão, publicadas em Espanha no séc. XVI, um virelai com refrão coral incluído no Llibre Vermell de Montserrat (séc. XIV) e textos de louvor à Virgem Maria (séc. XIII).
Interpretam “O Divina Virgo” O Ensemble Alpha, sediado em Lisboa, um grupo especializado nos contrastes e ligações entre várias tradições medievais de música sacra, com ênfase especial nas de países ortodoxos e da Península Ibérica, e com uma abordagem fortemente influenciada por diversas tradições populares.


(12) 4,21
(6) 3,07
(14) 3,11
(1) 4,43
(2) 4,01
(T.T. 19,23)

(Separador)

“Um tema sefardita., uma peça do Cancioneiro de Barbieri (séc. XVI) e um tema do séc. XII do Codex Calixtimius (Catedral de Santiago) São os sons que encerram hoje o Templo das Heresias.”

(1) Arianna Savall (2) Yo m’enamori (5,08) “Bella Terra”
(2) Begoña Olavide/ Mudejar (3) Los Sospiros (7,13) “Cartas al rey moro”.
(3) Ensemble Weltgesang (1) Dum Paterfamilias (7,36) “Primus Ex Apostolis”.