2009/12/27

Samba Touré (Mali) / Zefiro Torna (Bélgica)

“Uma canção tradicional grega, proveniente das ilhas orientais do mar Egeu e do litoral da Ásia Menor; um texto sagrado hebraico; uma variação sobre um tema albanês; e uma interpretação de um tema popular russo; São as Heresias que abrem hoje as portas do Templo”.
(1) Theodora Baka (Grécia) (11) Sto pa kai sto xanaleo (4:03) “Myrtate: Traditional Songs from Greece”
(2) Ruth Wieder Magan (Austrália/Israel) (1) Roza DeShabbos (4:59) “Songs to the Invisible God”
(3) Nomad (França) (3) Alba (4:33) “Ciguri”
(4) Faraualla (Itália) (9) Spondo 2:39) “Faraualla”

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Proveniente de Dabi, uma pequena aldeia no Norte do Mali, Samba Touré assume-se como o legítimo herdeiro de um dos melhores guitarristas de todos os tempos, o também maliano Ali Farka Touré (falecido em 2006). Com efeito, o "John Lee Hooker africano”, inventar do "blues do deserto", grande embaixador musical/cultural da África e vencedor de um Grammy ensinou a Samba, ao longo dos anos, tudo o que sabia sobre música. Deu-lhe, inclusivamente, a oportunidade de se juntar à sua banda na tournée que fez em 1997 e produziu o seu álbum de estreia, Fondo, em 2004. Foi, ainda, Ali Farka Touré que encorajou Samba a olhar para as suas raízes e a estabelecer a sua própria identidade, em vez de seguir as modas passageiras. Quando Samba Touré iniciou a sua carreira como elemento do grupo Farafina Lolo e passava o seu tempo a adaptar ritmos de dança do Congo, seguiu os conselhos e a ajuda de Ali Farka Touré e começou a aprimorar o som do blues africano e a criar o seu próprio estilo.
A música de Samba, baseada na tradicional do Mali, apresenta naturais semelhanças com as do seu mentor, mas revela-se mais cadenciada que a tuaregue dos seus irmãos malianos Tinariwen, Tartit e Toumast e tem um toque de leveza e consideravelmente mais velocidade do que a da maioria dos tocadores de blues do deserto. Por outro lado, a instrumentação que Samba utiliza, baseada nos sons do sokou (violino tradicional), do gnoni (guitarra de quatro cordas), do tamani, calabash e outras percussões, de flautas e do baixo eléctrico, permite-lhe mergulhar por sonoridades imaginativas e até inovadoras.
Em 2009, o cantor e guitarrista de 41anos reúne um grupo de talentosos músicos de apoio (que o acompanharam ao longo dos anos), mergulha na cultura tradicional Songhai e nas suas próprias experiências pessoais, entra em estúdio e grava Songhai Blues: Homage to Ali Farka Touré (World Music Network 2009/Megamúsica).
Constituído por treze faixas, entre temas retirados da sua primeira gravação apenas lançada no Mali, canções do registo de 2007, Aïto, e composições novas, Songhai Blues revela-se como um álbum empolgante para os fãs de blues do deserto e para os que gostam da música do Oeste Africano em geral. Como que um compêndio e uma autêntica viagem através da envolvente e rica tradição musical do Mali, Songhai Blues integra ritmos intensos, festivos e, muitas vezes, difíceis de seguir, tal como os de Ali Farka Touré ou John Lee Hooker. Assume-se, naturalmente, como um dos melhores discos de World music do ano.
Mais informações em: http://www.samba-toure.com/

(05) Yawoye (4:33)
(02) Foda Diakaina (4:34)
(04) Bila (5:06)
(10) Goye(5:33)

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“Uma demonstração das potencialidades do tambur do Uzbequistão; um tema da música clássica iraniana; e um canto feminino dos haréns dos palácios dos sultões otomanos. São as sonoridades que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Hector Zazou & Swara (Argélia/Uzbequistão/Índia) (1) Zannat (4:49) “In the House of Mirrors”
(2) Khatereh Parvaneh (Irão) (I-3) Dastgah of Shour (10:35) “Echos du Paradis: Sufi Soul”
(3) Ensemble des femmes d’Istanbul (Turquia) (8) Ud Taksin (6:41) “Chants du Harem”

2ª Hora

“Um poema épico sobre a visão de uma profetiza que narra a criação do mundo, a chegada dos deuses, a morte do filho de Odin e a destruição do mundo de Ragnarok; uma história sobre uma filha que esconde, ao seu pai discordante, uma criança fruto de uma relação ilícita; e uma balada sobre uma criatura chamada “Lindormen” que se transforma em príncipe e, através do amor, adquire a forma humana. A música medieval da Islândia, Noruega e Suécia abre as portas da 2.ª hora do Templo das Heresias.”
(1) Sequentia (Alemanha) (3) Ti Prophecy of the Seeress (10:10) “Myths from Medieval Iceland”
(2) Agnes Buen Garnas/Jan Garbarek (Noruega) (4) Maalfri mi fruve (5:12) “Rosensfole: Medieval Songs from Norway”
(3) Wisby Vaganter (Suécia) (13) Lindormens Wisa (5:10) “Gotlandz Wiisa: Medeltida musik”

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Zefiro Torna é um ensemble oriundo da Flandres (Bélgica), cujo nome expressa, de forma alegórica, como o deus mitológico do vento do Oeste, Zephyrus, conseguia sempre expulsar os Invernos frios.
Formado em 1996, o grupo Zefiro Torna é constituído por Els Van Laethem e Cécile Kempenaers (voz), Liam Fennelly (viola da gamba, vihuela) e Jurgen De bruyn (alaúde, guitarra e direcção artística), músicos que se distinguiram em grupos como Huelgas Ensemble, Collegium Vocale, La Capilla Flamenca e Het Muziek Lod. Consoante o programa, assim o ensemble se complementa com diferentes vocalistas e instrumentistas da Bélgica, Holanda, França e Itália.
Baseando-se no respeito profundo pelo passado e apoiando-se em apurados estudos musicológicos, os Zefiro Torna fazem renascer, de forma única, o património cultural, sobretudo o medieval, renascentista e barroco. Não admira, por isso, que o grupo opte por utilizar instrumentos autênticos e técnicas históricas de canto, interpretação e improvisação, embora acrescentem, naturalmente, os seus próprios elementos criativos.
Os Zefiro Torna editaram, até à data, seis registos: "Mermaphilia" (2002, Eufoda), cujos textos históricos evocam o mundo imaginário da Sirena; "El Noi de la Mare" (2004, Et’Cetera), galardoado, em 2005, com o prémio "Klara Muziekprijs" para o Melhor Disco da Flandres, Melhor Produção de Música Clássica e "Prémio do Público"; "Les Tisserands" (2006 Homerecords), em que textos medievais e melodias de trovadores como Macabrun e Miraval coabitam com melodias contemporâneas de Jowan Merckx; De Fragilitate: Piae Cantiones (2007 Et’Cetera), uma colecção de cantos escolares e cânticos religiosos provenientes da Finlândia medieval, premiado com o prestigiado Diapason d’Or; Greghesche (2008 Et’Cetera), um tesouro musical da Renascença veneziana; e Assim (2009 Homerecords), uma co-produção em que Dick van der Harst escreveu uma composição baseada nos trabalhos de Jacob Obrecht e na tradição dos gamelões de Java.
O disco que aqui se destaca é o brilhante “De Fragilitate (Hymns from medieval Finland)”, baseado na compilação Piae Cantiones ecclesiasticae et scholasticae veterum episcoporum, com 74 canções em latim da Idade Média tardia, reunidas por Jacobus Finno e publicada em 1582 pelo aristocrata finlandês Theodoricus Petri Nylandensi.
Muitas das canções e melodias de “Piae Cantiones” são originárias da Europa Central mas algumas parecem ter sido escritas em países nórdicos. Existe uma controvérsia sobre se a obra total deva ser atribuída à Suécia ou à Finlândia, uma vez que, na altura da publicação, a Finlândia era parte integrante da Suécia.
Apesar de ter sido publicada em 1582, a melodia de Piae Cantiones é medieval por natureza. A tradução finlandesa de Piae Cantiones por Hemming of Masku é considerada a primeira obra de hinos da Finlândia, ainda que Piae Cantiones seja mais um produto da cultura católica medieval que um produto de uma só nação.
As letras das composições incluídas na colecção Piae Cantiones, executadas na época em diversas escolas catedrais finlandesas, testemunham de forma moderada a Reforma Protestante no Norte da Europa. Apesar de algumas nuances católicas terem sido retiradas, muitas canções ainda carregam traços fortes do culto a Maria, Mãe de Jesus, e actualmente são ainda utilizadas como canções de Natal, nomeadamente Personent hodie e Tempus adest floridum.
As canções de Piae Cantiones continuaram a ser populares nas escolas finlandesas até ao século XIX mas, gradualmente, foram caindo em desuso. No entanto, um novo interesse pela música antiga tornou a colecção muito popular na Escandinávia e surge agora como repertório padrão de vários coros finlandeses e suecos.
Zefiro Torna interpreta as Piae Cantiones com réplicas de instrumentos do século XV e é acompanhado por Jowan Merckx (gaita de foles e guizos), Frank Van Eycken (percussão), pelo finlandês Timo Väänänen (do grupo folk Loituma, que toca kantele nórdico) e por um grupo de vozes do Antwerp Cathedral Choir, sob a direcção de Sebastiaan Van Steenberge.
Mais informações em: http://www.zefirotorna.be/

(06) Personent Hodie (1:30)
(21) Tempus Adest Floridum (1:42)
(15) Scholares Convenite (3:35)
(18) Sum In Aliena Provincia (2:25)
(16) Zachaeus Arboris (1:35)
(14) Cum Sit Omnis Caro Foenum (3:02)
(12) Kurja, Paha Syntinen (4:44)
(20) In Vernali Tempore (2:43)

(Separador)

“Com poemas de Rodolphe de Fénis-Neuchâtel, Blanche de Castille e Walther von der Vogelweide, trovadores europeus medievais, encerramos o Templo das Heresias de hoje”.
(1) Ensemble Lucidarium (Suíça) (6) Gewan ichze minnen ie guoten wan (6:36) “Troubadours & Minnesänger”
(2) Ensemble Perceval (França) (14) Amour ou troptard (5:27) “Minnesänger Troubadours Trouvères”
(3) Dekameron (Polónia) (13) Under der linden (4:53) “A Tale of Medieval Love”
(4) Ensemble für frühe Musik Augsburg (Alemanha) (8) Under der linden an der heide (3:13) “Trobadors Trouvères Minnesänger”