2010/12/24

Anghjula Potentini (Córsega) / Ensemble Kantika (Alemanha/França/…)

“Uma composição baseada numa canção de amor greco-tunisina, uma prece arabo-andalusa habitualmente entoada de madrugada, um texto sagrado hebraico, um takhsefto (canto sagrado de Tagore) e um tema tradicional iraniano. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Savina Yannatou e Primavera en Salonico (Grécia) (19) Rabbi Blonni Bemlayan (3:35) “Songs of the Mediterranean”
(2) Amina Alaoui (Marrocos) (10) Batahouvat el Qama Bachahar (3:17) “Alcantara”
(3) Ruth Wieder Magan (Israel) (1) Roza Deshabbos (4:59) “Songs of the Invisible God”
(4) Evelyne Daoud (Palestina) (13) Akh tagore h’achire (4:44) “Chants sacrés”
(5) Nomad (França) (6) Manasiko (4:22) “Ciguri”

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Depois de um período de esquecimento e relativa decadência, o canto corso da tradição oral revigorou-se para atingir, no presente, uma indubitável expressividade e significado culturais. O dinâmico movimento de revivificação conseguiu levar de novo para as igrejas corsas as magníficas polifonias religiosas e, nos bistrots e alpendres, passou de novo a ouvir-se a paghjelle, a resposta profana às polifonias litúrgicas. A essa efervescência não serão certamente alheios os esforços, por exemplo, do malogrado Hector Zazou com Les Nouvelles Polyphonies Corses ou de Cinqui So, David Rueff, Donnisulana, Tavagna e Barbara Fortuna, entre outros.
Do novo fôlego do canto corso faz indubitavelmente parte a extraordinária voz de Anghjula Potentini, através dos discos “A lettera d’amore” e “Fiara”, editados pela Buda Musique.
Acompanhada por músicos talentosos, Anghjula Potentini interpreta o repertório popular corso com respeito, talento e criatividade. As letras das canções, como em todos os cantos populares corsos, são simples. Falam das esperanças, dos amores, das flores e dos corpos. E têm esse significado apenas: esperanças, vidas, ventos, dias... E o canto de Anghjula é a representação mais rude e bela que se pode fazer da voz dos anjos. A terra inóspita e os que vivem em comunhão de vidas com os elementos, conseguiram gerar essa voz que atravessa a alma, que envolve para além da mera sensação de felicidade imediata. É uma voz intemporal que tanto cria torrentes de evocação como o mais completo desejo de alegria tranquila.
Existe em Anghjula Potentini uma postura elevada de mostrar que a música popular é algo que continua a revelar tesouros escondidos.
Mais informações em: http://www.myspace.com/anghjulapotentini


(02) Amore speratu (4:26) “Fiara”
(04) Di veru è di Passione (4:56) “Fiara”
(13) Dio vi salvi Regina (2:50) “A lettera d’amore”
(10) O Dumè (2:54) “A lettera d’amore”
(04) Francesca Maria (4:26) “A lettera d’amore”
(06) Minicola (3:14) “A lettera d’amore”

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“Um tema basco sobre o exílio, uma canção tradicional da etnia Saami da Lapónia e um canto dos índios Seri de Sonora (México) que acompanha o nascimento encerram a primeira parte do Templo das Heresias”.

(1) Pedro Soler & Benãt Achiary (País Basco/França) (7) Chant d’exil (4:59) “Prés du coeur sauvage…”
(2) Wimme (Finlândia) (6) Boaimmas (5:35) “Wimme”
(3) Yaki Kandru (Colômbia) (3) Canto de los Seri (7:00) “Music from the Tropical rainforest & other Magic Places”

2ª Hora

“Curiosas interpretações da música do Antigo Egipto dão início à segunda hora do Templo das Heresias”.

(1) Ensemble De Organographia (EUA) (25) Harp piece II (2:02) “Music of the Ancient Sumerians, Egyptians & Greeks”
(2) Ali Jihad Racy (Líbano) (2) The Land of Blessed (6:56) “Ancient Egypt”
(3) Michael Atherton (Austrália) (17) Shen (song) (5:02) “Ankh: The Sound of Ancient Egypt”
(4) Rafael Pérez Arroyo (Espanha) (3) Iba Dance (6:59) “Ancient Egypt: Music in the age of the Pyramids”

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Kantika é um ensemble de música antiga, fundado em 1998 em Paris, que se especializou no repertório pré-renascentista, desde o canto gregoriano do século XI às cantigas das cortes régias e senhoriais da Baixa Idade Média. Incidindo, sobretudo, sobre o canto sacro, o ensemble faz, no entanto, incursões regulares em áreas como o madrigal, o conto, a polifonia contemporânea ou as cantigas dos trovadores.
Liderado pela musicóloga e cantora Kristin Hoefener, este grupo vocal, geralmente composto por cinco vocalistas femininas, privilegia, no seu trabalho, o património musical medieval europeu, o culto dos santos locais e das liturgias esquecidas e a interpretação o mais próxima possível das acústicas originais. As Kantika incluem, também, uma componente de transmissão que engloba actividades como a formação contínua, oficinas com coros e grupos vocais, ateliers de design e de projectos artísticos e estágios de canto gregoriano e de músicas medievais.
Nos concertos, o Ensemble Kantika convida a audiência para uma viagem ao passado, ao universo misterioso de um mosteiro medieval, à imponência de uma catedral ou à riqueza de uma corte senhorial. No final, as intérpretes comunicam e interagem com académicos e artistas e respondem às perguntas dos interessados.
Através da vigorosa interpretação das suas cantoras, cada uma com a sua própria personalidade e potencial artístico, as KANTIKA têm contribuído, ao longo dos anos, para a revitalização da música medieval. O seu estilo musical único combina a alma de cânticos antigos com um som contemporâneo refinado, apresentado em quatro registos de arquitectura excepcional: “A summo cello” (2005), com cantos e polifonias gregorianas dos séculos XI-XII, da Aquitânia; “Lux” (2006), com cantos de manuscritos dos séculos XI-XIV, da Catedral de Apt; "O Maria Virgo” (2007), uma reconstrução de uma missa cantada na abadia cisterciense feminina de Santa Maria de Las Huelgas, em 1300; e “Estel de mar” (2009), um programa com as canções dos peregrinos medievais de veneração à Virgem Maria (século XIV).
É este último, “Estel de mar”, que contém os maravilhosos cantos do Llibre Vermell de Montserrat da Catalunha, que aqui divulgamos hoje. As Kantika editaram este registo para a Christophorus, utilizando apenas gravador, violino, rabeca e pandeiro, evitando, assim, qualquer exagero. Cantoras de diferentes origens europeias, cada uma emprestando um colorido vocal diferente, fazem de “Estel de mar”, uma gravação animada, surpreendente e cheia de contrastes.
Mais informações: http://www.kantika.com/en/news/


(02) Stella splendens (6:45)
(06) Los set gotxs recomptarem (6:32)
(11) Inperayritz de la ciutat joyosa (8:06)

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“Um tema arabo-andaluz da Espanha medieval, um canto trovadoresco do séc. XIII, um texto bíblico e uma cantiga de amigo de Martin Codax encerram as portas do Templo de hoje”.

(1) Calamus (Espanha) (6) Quddâm (8:06) “The Splendour of Al-Andalus”
(2) Eduardo Paniagua/ … (Espanha/França/…) (5) Tres enemics e dos mals senhors ai (5:00) “Luz de la Mediterrania”
(3) Catherine Braslavsky (França) (5) Beati (3:56) “Un jour d’entre les jours…”
(4) The Dufay Collective (Inglaterra) (1) Quantas saberes amar (5:49) “Music for Alfonso the Wise”

2010/11/22

Wimme Saari (Lapónia) / Ensemble Laude Novella (Suécia)

“Um feliz encontro entre a ebulição rítmica do Zaire e as encantatórias vozes búlgaras, um canto libertário da Argélia, um tema tradicional do Iémen e um poema árabo-andaluz. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Ray Lema, Professeur Stefanov et Les Voix Bulgares de L’Ensemble Pirin’ (Zaire/Bulgária) (10) Lyliano Mome (3:55) “idem”
(2) Houria Aïchi (Argélia) (7) Vie Nouvelle (2:51) “Hawa”
(3) Ora Sittner/Youval Micenmacher (Israel) (1) Qyria Yéféfyia (3:57) “Lamidbar: Chants Hébreux d’Israel et d’Orient”
(4) Amina Alaoui (Marrocos) (2) Ya ‘Ouchaq (7:14) “Alcantara”

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Domingos Costa com Wimme Saari em Sines (Portugal)

O território da Lapónia estende-se pela Suécia, Noruega e Finlândia, ora por planícies e lagos numa sinfonia única de verde e azul, ora por montanhas impenetráveis e florestas cerradas de bétulas e arbustos carregados de espinhos. Por todo o lado, o inconfundível cheiro a peixe fumado, o dia vencendo a noite com o sol bailarino da meia-noite e o joikh, o canto xamânico do povo Sáami em dias festivos.
De acordo com a tradição, os Sáami são os herdeiros directos das canções dos Uldas, uma indefinida espécie de criaturas mitológicas residindo nas florestas, nos lagos e nas montanhas. Cantar de acordo com a tradição, significa, na Lapónia, fazê-lo com total espontaneidade, privilegiando a expressão de sentimentos e de emoções, sob a forma de melodias quase demoníacas. É isto o joikh, que o povo Sáami canta, seja pelo prazer de saudar o Sol, sozinhos ou em pequenos grupos perdidos na imensidão da tundra, seja durante as festas ou no decurso das reuniões de família.
A par de Ulla Pirttijärvi e Mari Boine, Wimme Saari assumiu-se como um dos maiores cantores joik. Com seis discos editados (“Wimme” de 1995, "Gierran" de 1997, “Cugu” de 2000, “Bárru” de 2003, “Gapmu” de 2004 e “Mun” de 2010) e colaborações com artistas como Hedningarna ou Hector Zazou, Wimme Saari é exímio na improvisação e na gestão do arco tímbrico exigido pelo canto gutural do joikh, apresentado a capella ou com a delicada companhia instrumental de clarinete, percussões, cordas e electrónica.
Mais informações:
http://www.myspace.com/wimmeofficial
http://www.rockadillo.fi/wimme/index.htm

(12) Agálas johtin / The Eternal Journey (Até 5:56) “Cugu”
(27) Soajaidat vuollái govcca / Take me under thy Wings (1:30) “Gapmu / Instinct”
(01) Soahkesuovva / Birch Smoke (5:21) “Mun”
(06) Boaimmás / Rough-Legged Buzzard (5:35) “Wimme”
(02) Havana (4:41) “Gierran”
(04) Suhpi / Aspen (4:15) “Bárru”

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“Uma sanaa, peça da tradição andaluso-marroquina que traduz o amanhecer dos amantes que se separam; um canto feminino dos haréns dos palácios dos sultões otomanos; e uma típica peça folk dos portos de Creta, sobre a desilusão amorosa. São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Luís Delgado (Espanha) (6) Bilaya 5:04) “As-Sirr”
(2) Ensemble des femmes d’Istanbul (Turquia) (2) Gül yüzlülerin sevkine gel nus edelim mey (6:22) “Chants du Harem”
(3) Ross Daly & Labyrinth (Grécia) (6) Afou ‘Heis Allon Sti Kardia (5:27) “Mitos”


2ª Hora

“Uma Ballade do poeta francês Jehan de Lescurel (século XIV); uma Canção de Trobairitz da Condessa Beatriz de Dia (século XII); e duas Cantigas de Amigo de Pero Meogo e de Martín Códax (século XIII). São os sons que reabrem o Templo das Heresias”.

(1) Amadis (França) (12) Amours, que vous ai meffait (4:18) “Anges ou démons”
(2) Música Antiga da UFF (Brasil) (2) A chantar m’er de so q’ieu no volria (6:19) “A chantar: Trovadoras Medievais”
(3) Paulina Ceremuzynska (Polónia) (9) Levad’, Amigo, que durmides as manhanas frias (4:25) “E Moiro-me d’Amor”
(4) Ensemble Martín Códax (Espanha) (I.14) Ondas do mar de Vigo (3:01) “Devotio: Música para la Virgen y Santiago"

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Composto basicamente por Ute Goedecke (canto, flauta doce e harpa gótica) e Per Mattsson (rabeca medieval e lira da braccio), o Ensemble Laude Novella tem, no entanto, enquadrado outros músicos, dependendo do programa que escolham. Sediado em Skåne (Suécia), especializou-se na interpretação do repertório medieval e dos inícios da Renascença, sobretudo do período Ars Nova e do século XV, quando os novos sons se tornaram cada vez mais populares.
Desde a sua fundação em 1991, com o regresso a casa de Per Mattsson, proveniente da Schola Cantorum de Basileia, os Laude Novella realizaram regularmente vários programas em diferentes contextos. Concertos em catedrais e em igrejas, em ruínas de castelos e em salas de espectáculos, em escolas e em hospitais, em festivais na Suécia e noutros países e em programas de rádio e de televisão foram fazendo a delícia dos apreciadores das músicas sacra e vernácula, interpretadas pelo Ensemble.
O repertório seleccionado pelos Laude Novella é essencialmente da Europa do Sul, uma vez que não existem muitas fontes de música medieval da Suécia. Ainda assim, o Ensemble tenta incluir nos seus programas música com conexões escandinavas, tais como as canções do Livro Piae Cantiones, impresso em 1582, com raízes musicais provenientes da Idade Média.
As performances dos Laude Novella têm uma grande variedade de sons, bem do agrado do público. Para além dos numerosos concertos, (nomeadamente na Suécia, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Holanda, Itália, Letónia, Lituânia, Estónia, Ucrânia, Rússia e Marrocos), o Ensemble Laude Novella tem ministrado, ao longo dos anos, cursos de Música Antiga. Por outro lado, foi editando vários discos, dos quais vamos destacar “O in Italia: Instrumental & vocal music from 14th Century Italy”, que abarca a idade de ouro da música em Itália, o Trecento, século de numerosos manuscritos, música polifónica, teóricos inteligentes e excelentes compositores como Jacopo da Bologna, Francesco Landini, Antonio Zacharia da Teramo e Laudario di Cortona; “Den Bakvända Visan: Medieval music back and forth”, com os compositores dos séculos XIV e XV (Guillaume de Machaut, Jehan de Lescurel, Francesco Landini, Guillaume Dufay, entre outros) cuja complexidade e originalidade não foram ultrapassadas até ao século XX; e “Armed men & fair ladies”, com peças dos séculos XV e XVI de compositores renascentistas como Guillaume Dufay, Gilles Binchois ou Robert Morton.
Mais informações em: http://www.laudenovella.com/


(05) Par ung jour de matinée (Alexander Agricola, ~1446-1506) (1:39) “Armed men and fair ladies”
(14) Saltarello (London MS., século XIV) (4:29) “O In Italia”
(13) Tre fontane (Anónimo, 1300-tal) (4:27) “Den Bakvända Visan”
(15) Musicalis sciencia (Anónimo, 1300-tal) (2:54) “Den Bakvända Visan”
(09) Donnes l’assault a la fortresse (Guillaume Dufay, ~1400-1474) (4:35) “Armed men and fair ladies”
(17) Ave Donna Santissima (Laudario di Cortona, séc. XIII) (4:37) “O In Italia”

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“Um tema do poeta lírico, satírico e filósofo latino Quintus Horatius (65-8 a.C.), retirado das Odes; um canto aos estudantes da Finlândia do século XVI; uma Ballata de Gherardello da Firenze, (c.1322-63), retirada do códice Squarcialupi; e uma dança inspirada na música latina do século XIII. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.

(1) Ensemble Cantilena Antiqua (Itália) (9) Est mihi nonum (3:49) “Epos: Music of carolingian era”
(2) Zefiro Torna (Bélgica/Finlândia) (15) Scholares convenite (3:35) “De Fragilitate: Hymns from Medieval Finland”
(3) Mediva (Inglaterra) (3) I’vo’ bene (3:54) "Viva Mediva!"
(4) Ensemble Alcatraz (EUA) (5) DS 11:11 (7:15) “Danse Royale”

2010/10/08

Mariem Hassan (Sahara Ocidental) / Musica Ficta (Dinamarca)

“Uma canção tradicional da Mauritânia dedicada aos homens; um canto dos tuaregues do Mali sobre as recordações da juventude; um tema de música mística de transe da Argélia; e um tema de música Gnawa de Marrocos, dedicado aos Sherfa, os santos descendentes do profeta Mohammed. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Khalifa Ould Eide & Dimi Mint Abba (Mauritânia) (7) Art’s Plume (8:03) “Moorish Music from Mauritania”
(2) Tinariwen (Mali) (12) Chabiba (3:20) “Imidiwan: Companions”
(3) Hasna El Becharia (Argélia) (06) Galbi (3:55) “Smaa Smaa”
(4) Hassan Hakmoun (Marrocos) (1) Sala Alla ‘Alik Dima Dima (4:10) “The Fire Within”

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Mariem Hassan, a residir actualmente em Barcelona, é a mais importante voz e, de certa forma, a embaixadora da música do Sahara Ocidental. Fazendo-se acompanhar por tambores tradicionais, alaúdes, guitarras e baixo, canta apaixonadamente os blues do deserto e narra as difíceis condições do povo Saharaui.
Nascida em 1958, perto da cidade santa de Smara, Mariem Hassan, vivendo no seio de uma família modesta (que criava camelos e caprinos), não pertencia a uma família de Igawa (griots), embora a música fosse uma parte importante da sua vida familiar. O seu pai tinha uma boa voz e a sua mãe cantava habitualmente em aniversários, casamentos e outras celebrações; a sua tia Zaina era conhecida como cantora e dançarina, o seu tio Bushad como um poeta e, de entre os seus irmãos, um é guitarrista e outro compositor. Mariem seguiu-lhes as pisadas e, ainda muito jovem, quando o Sahara ainda pertencia à Espanha, começou a cantar em pequenas festas privadas e a participar em reuniões clandestinas, onde o povo saharaui desenvolvia a sua cultura musical.
Mariem tinha dezassete anos quando a "Marcha Verde" teve lugar. Os dois irmãos militares levaram a família para o enclave de Mjeriz, a primeira etapa do exílio, e de lá para a Argélia, a um passo da inóspita Hamada. Depois da Espanha ter deixado o Sahara Ocidental a Marrocos e à Mauritânia, o povo Saharaui, antes maioritariamente nómada, passa a viver no exílio, em grandes campos. Mariem passou vinte e sete anos no campo de Smara (Argélia) e aí nasceram os seus cinco filhos.
Mariem Hassan começou por enquadrar o grupo El Hafed (que, mais tarde, mudou o nome para Mártir Luali), com o qual viajou para vários países participando em eventos culturais carregados com um alto teor político. No entanto, em plena guerra com Marrocos, eram muitas vezes boicotados por activistas e funcionários marroquinos no estrangeiro. Foi preciso esperar até 1998 para poder desfrutar da voz de Mariem Hassan, sobretudo com o grupo Leyoad, que actuou por toda a Europa. Após quatro anos de trabalho intensivo com a editora espanhola Nubenegra, Leyoad afirma-se graças à permanência no seu seio de Mariem Hassan e de Nayim Alal, duas das maiores figuras da música saharaui. Em 2002, Mariem gravou com o grupo um disco de medej e, desde então, consolidou-se como uma artista solo, participando em numerosas tournées e apresentações, sob o seu nome próprio. Esporadicamente actuava, no entanto, com as mulheres saharaui, com quem gravou Medej, uma colecção de cantos espirituais antigos.
A consagração final chegou com "Deseos", o seu primeiro álbum a solo, uma obra ardente, sólida e plena de ritmo, que aparentemente não deixa perceber as duas tragédias que ocorreram durante a sua realização, a leucemia e morte do seu produtor e o cancro da mama da própria Mariem.
Em 2009, Mariem Hassan regressou com "Shouka" (A espinha), um hino desafiante, honesto e eloquente, para orgulho e alento do povo saharaui, bem como de dor e suplício desde a invasão marroquina do Sahara Ocidental, em 1975. A voz de Mariem, com a sua intensidade e poder, é a espinha cravada na alma mórbida da consciência marroquina e na apática amnistia internacional. A sua paleta de emoções oscila entre o desafio e a melancolia, evocando o amor pela pátria e a alegria do ardente vento do deserto. Todas estas cores estão pintadas com palmas cadenciadas, tebales (tambores) ressonantes, coros efusivos, clarinetes evanescentes, guitarras hipnóticas e a suavidade dos nay (flautas). A experiente produção de Manuel Domínguez converte este complexo manifesto político numa das mais importantes edições discográficas do ano.
Mais informações:
http://www.nubenegra.com/artistas/index_ampli.php3?id=36


(01) Azzagafa (4:49)
(04) Baba Salama (4:17)
(11) Hinwani (3:11)
(02) Terwah (3:23)
(10) Ragsat naáma (3:55)

(Separador)

“Um tema onde um ensemble ocidental penetra nos meandros do klezmer, a música judaica do leste europeu, entre duas composições onde o oud, o zarb, o daf, o gatam, congas e percussões indianas interagem maravilhosamente com saxofones, contrabaixos, trompetes e flautas; Extraordinárias fusões do jazz com as sonoridades tradicionais encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Michel Bismut/… (Tunísia) (2) Ludio (7:26) “Ur”
(2) John Zorn/Masada Chamber Ensembles (EUA) II (1) Tannaim (4:38) “Bar Kokhba”
(3) Rabih Abou-Khalil (Líbano) (1) Sahara (8:18) “Blue Camel”


2ª Hora

“Um canto aos estudantes da Finlândia do século XVI, um tema sobre um rei sobrenatural das montanhas da Noruega e uma balada da Suécia sobre uma mulher do mar que simboliza os desejos carnais. A música medieval da Escandinávia na abertura da 2.ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Zefiro Torna (Bélgica/Finlândia) (15) Scholares convenite (3:35) “De Fragilitate: Hymns from Medieval Finland”
(2) Agnes Buen Garnas/Jan Garbarek (Noruega) (5) Venelite (7:34) “Rosensfole: Medieval Songs from Norway”
(3) Lena Willemark/Ale Möller (Suécia) (2) Gullharpan (6:33) “Nordan”

(Separador)

O ensemble Musica Ficta, sediado em Copenhaga, fundado em 1996 pelo compositor e maestro Bo Holten, é um notável grupo vocal profissional que se dedica à música antiga. Tendo-se especializado em música vocal, na polifonia, em madrigais e na música medieval, o grupo tem trabalhado exclusivamente em projectos temáticos, com base na ideia de que a experiência musical é reforçada pelas perspectivas histórica, literária ou filosófica, que desempenham um papel activo na programação. Entre outros, lançou registos dedicados à Renascença, à música da corte do Rei Cristian III, a cantigas dinamarquesas, a músicas infantis e a canções de Natal.
Em 1999, os Musica Ficta editaram o extraordinário registo “Medieval Music in Denmark”, que abarca as primeiras referências conhecidas da música dinamarquesa, desde o século IX ao XV. O registo, editado pela Dacapo, inclui uma polifonia parisiense do século XIII, encontrada numa notável fonte da Dinamarca, e versões dinamarquesas de canções do repertório internacional. Ilustra, assim, tanto a contribuição dinamarquesa para a música europeia como os contactos musicais que a Dinamarca desfrutou com o resto da Europa na Idade Média.
Em certa medida, a Música Medieval na Dinamarca e nos outros países escandinavos, tem sido quase sempre sinónimo de baladas nórdicas para dançar, que dependem da cooperação entre o vocalista principal, que narra uma história na língua vernácula, e sua audiência, que dança. Mas, apenas um pequeno número de peças medievais sobreviveram na Dinamarca e torna-se mesmo difícil decidir o que é dinamarquês dessa época. Há autores que consideram virtualmente impossível constituir um programa que inclua exclusivamente a música medieval da Dinamarca, mesmo que se utilizem fontes dinamarquesas. Contudo, é possível (e os Musica Ficta fizeram-no com mestria) elaborar um programa com uma ou outra conexão com a Dinamarca do ano 1000 até cerca de 1500, quando os reis dinamarqueses, tal como outros príncipes da Europa do tempo, começaram a dar ênfase à música como uma importante actividade cultural das cortes.
Mais informações em: http://www.myspace.com/musicafictadk


(12) Dromdae mik aen drom (c. 1300) (1:21)
(05) Decus regni (1170) (2:54)
(03) Regalis ostro sanguinis (2:06)
(07) Maria candens lilium (c. 1450) (2:29)
(18) O rosa in Iherico (c. 1450) (1:12)
(14) Mith hierthae brendher (c. 1450) (2:10)
(16) Nicolai solempnia (c. 1450) (1:23)

(Separador)

“Um hino da Escócia do século XIII, retirado do Manuscrito Uppsala; o mais antigo tema secular inglês conhecido, de um anónimo de cerca de 1250; um conhecido poema do género “canções de raparigas” do Minnesänger alemão Walther von der Vogelweide (c. 1170 – c. 1230); uma composição polaca do século XVI, de devoção à Virgem; e um tema da Hungria do século XVIII, sobre damas e bruxas. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.

(1) Graysteil (Escócia) (3) Hymn to St Magnus (5:14) “Music from the Middle Ages and Renaissance in Scotland”
(2) Ensemble Belladonna (Suécia/Canadá/Alemanha) (3) Miri is while sumer ilast (3:03) "Melodious Melancholye”
(3) Freiburger Spielleyt (Alemanha/Suíça) (12) Under der linden na der heide (4:27) “O Fortuna”
(4) Dekameron (Polónia) (18) Zdrowa Badz Maria (3:25) “Ave Mater, O Maria!”
(5) Musica Historica (Hungria) (3 What a pity that I will remain single (4:13) “Dames and Witches”

2010/08/28

Hasna el Becharia (Argélia) / Diabolus in Musica (França)

“Um poema escrito em Bagdad sobre a errância do autor, uma canção que exalta a beleza da aurora no Alto Egipto, um tema dos tuaregues do Sahara de devoção a uma jovem e um canto do Povo Saharaui sobre a paixão e o desespero. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Jon Balke/Amina Alaoui (Noruega/Marrocos) (3) Jadwa (5:17) “Siwan”
(2) Ganoub (Egipto) (10) Leli (6:26) “… en arabe veut dire Sud”
(3) Tamikrest (Mali) (2) Aicha (3:18) “Adagh”
(4) Mariem Hassan (Sahara Ocidental) (3) La Tumchu Anni (4:47) “Deseos”

(Separador)

Natural de Béchar, uma localidade situada na área desértica do sudoeste da Argélia, Hasna El Becharia é a única mulher no Magrebe a tocar música Gnawa. Género praticado exclusivamente por homens - desde que as crenças animistas dos Bilad es-Sudan (em árabe, a Terra dos Negros, hoje Guiné, Senegal, Mali, Níger e Chade), vindas do outro lado do deserto, se reuniram com a fé monoteísta do Islão, - exerceu, no entanto, um fascínio em Hasna, levando-a a romper com a tradição.
A opção de Hasna El Becharia fez com que fosse alvo de grande rejeição e sarcasmo, mas a sua mente e alma estavam irrmediavelmente embrenhadas na música mística de transe que aprendera com o pai, um homem devoto, ele próprio um maâllem (mestre do sincretismo Gnawi - o plural de Gnawa).
Hasna El Becharia começou por interpretar, durante cerca de 30 anos, as músicas tradicionais dos árabes e berberes do deserto, sobretudo peças para abrilhantar casamentos. Primeiro tocou numa espécie de guitarra acústica denominada gumbri (um baixo arcaico de três cordas, tradicionalmente feito de tripa). Depois adoptou, também, a guitarra eléctrica, não para se aproximar do rock - que chegou à Argélia no final dos anos 50 -, mas para melhor se fazer ouvir durante os concertos, onde o público abafava a sua voz, quando se lhe juntava nas suas músicas. Exímia instrumentista, Hasna toca, ainda, oud, darbouka, bendir e até banjo.
Em 2002, com cerca de cinquenta anos de idade, Hasna lançou o seu álbum de estreia, Djazaïr Johara (Argélia, a Jóia) (Label Bleu/Indigo), em Paris, onde entretanto se radicara, após tomar parte no Festival Femmes d’Algérie, em 1999. A gravação, na altura destacada no “Templo das Heresias”, conta com grandes músicos da Argélia, mas também de Marrocos, Tunísia e Níger.
Em 2010, Hasna El Becharia regressa com Smaa Smaa (Il canto di Lilith/Lusafrica), gravado entre as dunas do Sahara, com simples e extraordinários instrumentos acústicos, descrevendo-o como um álbum muito pessoal. Uma vez mais, Hasna canta com uma voz calma, profunda e quase masculina e expressa inteiramente a sua espiritualidade numa linguagem contemporânea. Por um lado, desenvolve um estilo enraizado na tradição (nos ritmos gnawi, mas também nos populares estilos chaâbi da Argélia e Marrocos) e, por outro, pisca os olhos às novas sonoridades, pontuadas por guitarras, clarinete e violino.
Mais informações: http://www.myspace.com/hasnaelbecharia


(01) Smaa Smaa (5:12)
(02) Sadrak(4:09)
(06) Galbi (3:55)
(09) Hamou (5:19)

(Separador)

“Uma fusão suíço-guineense em que as sonoridades da kora entrelaçam brilhantemente nos instrumentos de cordas ocidentais, uma morna cabo-verdiana adornada com arranjos de cordas egípcias, uma guajira (dança de salão de Cuba e um curioso diálogo entre as tradições do Senegal e das Caraíbas. São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Taffetas (Guiné Bissau/Suíça) (1) Fano Keita (7:50) “Taffetas”
(2) Cesária Évora (Cabo Verde) (3) Vento de Sueste (4:44) “Nha Sentimento”
(3) Guillermo Portabales (Cuba) (10) Al Vaivén de mi Carreta (3:17) “El Carretero”
(4) Orchestra Baobab (Senegal) (7) Hommage a Tonton Ferrer (5:52) “Specialist in all Styles”


2ª Hora

“Um mawwal, isto é, um tema livre e com introdução improvisada, cantado em circunstâncias felizes; um poema andaluz do século XII interpretado numa métrica longa, próxima da Mashri egípcia; e um texto místico baseado na música otomana clássica. A poesia litúrgica judeo-espanhola na abertura da 2.ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Naguila (França) (1) Rahamekha (7:08) “Chants Mystiques Séfarades”
(2) Meirav Ben David-Harel/Yaïr Harel/Nima Ben David/Michèle Claude (Israel) (1) Yedidi Hashakhakhta (7:11) “Yedid Nefesh – Amant de mon âme”
(3) Alia Mvsica (Espanha) (2)Nostalgia y alabanza de Jerusalém (5:58) “El Camino de Alia Mvsica”

(Separador)

Desde 1992, o grupo francês Diabolus in Musica tem-se dedicado ao estudo e interpretação de todas as músicas medievais, desde o canto gregoriano até a grande polifonia do século XV.
Fundado e dirigido por Antoine Guerber (tenor e exímio instrumentista – harpa e tambores, consoante o repertório), editou até à data 14 discos, o último dos quais "Rose Tres Bele: Chansons & polyphonies des Dames trouvères" (2010 Alpha).
Neste registo, o ensemble explora todos os aspectos da presença feminina no repertório dos trouvères, os trovadores do norte da França medieval. Para o efeito, recorreu a vários tipos de fontes: as cantigas atribuídas às mulheres pelas rubricas de vários manuscritos (autoria feminina), embora sejam raras (dos 250 trouvères conhecidos, apenas oito são mulheres); os (poucos) poemas falados nas vozes femininas (a voz da mulher), embora não seja certa a sua autoria; algumas das cantigas trovadorescas anónimas expressas gramaticalmente na voz feminina, supondo-se que, algumas delas, tenham sido de facto escritas por mulheres; e as canções religiosas em langue d'oïl que dão uma ideia dos sentimentos das mulheres medievais.
Apesar de alguns estudos sobre a matéria, a voz da mulher na literatura medieval é um enigma. O historiador Georges Duby defendeu, por diversas vezes, que na Idade Média a representação da mulher era claramente moldada por uma perspectiva masculina (clérigos, escribas ou directores espirituais), fazendo com que a vida real das mulheres fosse inacessível e os seus pronunciamentos praticamente inaudíveis. Por sua vez, as teorias de Pierre Bec (1979) de que nenhuma das cantigas dos Trouvères foi escrita por mulheres e de Michel Zink (1977) de que a cantiga feminina seria uma ficção artística criada pelo homem, nomeadamente no género chanson de toile (cantigas de tear) prevaleceram durante muito tempo.
Alguns pesquisadores, no entanto, já não afirmam que cada canção com um texto falando do ponto de vista da mulher foi escrita por um homem. Acreditam que, pelo contrário, as mulheres foram as autoras de um grande número de peças que não só lhes dão uma voz, mas que também exploram toda uma gama de sentimentos e comportamentos que são supostamente característicos das mulheres. O facto de, a partir do século VI, a Igreja ter condenado as canções escritas por mulheres demonstra não só a sua existência, mas também, e sobretudo, a sua popularidade. O famoso moçárabe kharjas, por exemplo, no século XI, evidenciou um tipo de canções de mulheres, provavelmente canções de dança, em torno da bacia do Mediterrâneo. Por outro lado, romances do século XII, no norte da França, incluem muitas inserções líricas, compostas e cantadas por uma das heroínas. Além disso, vários textos, como também uma rica iconografia, provam que, no século XIII, havia muitas mulheres cantoras e instrumentistas no norte da França, nomeadamente as jongleresses na corte e na cidade e as freiras de clausura nos conventos. Nos estatutos da guilda de menestréis de Paris de 1321, por sua vez, surge a referência a “menestreus et menestrelles, jougleurs et jougleresses” e cita trinta e sete nomes, incluindo os de nove mulheres.
O programa dos Diabolus in Musica tem como objectivo mostrar que as mulheres da Idade Média se expressavam lírica e musicalmente, mesmo que a imagem que dão delas possa ser transmitida através do prisma masculino. O eco da voz que chega até nós, embora em surdina, mantém, por vezes, uma incrível e singular força e vitalidade, levantando uma ponta do véu que mantém as vozes das mulheres medievais ainda envolto em mistério.
Mais informações em: http://www.myspace.com/ensemblediabolusinmusica


(15) Dudous Jhesu (5:11)
(01) Las, Las, Las (2:54)
(02) Onques n’aimai (6:48)
(11) Amours que vous ai meffait (3:34)
(06) Margot, Margot (2:15)

(Separador)

“O extraordinário tema La Serena (Si la mar era de leche), dos judeus sefarditas expulsos de Espanha no século XVI, em diferentes versões. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.

(1) Mosaic (Israel) (12) La Serena (2:19) “Yiddish & Judeo-Spanish Songs”
(2) Ensemble Lyrique Ibérique (Marrocos/França) (12) La Serena (3:43) "Romances Judéo-Espagnoles”
(3) Renaissance Players Winsome Evans (Austrália) (7) Si la mar era de leche (6:40) “The Sephardic Experience, Volume 4: Eggplants”
(4) Ensemble Accentus (Áustria) (2) La Serena (3:26) “Sephardic Romances”
(5) Azam Ali (Irão) (29 La Serena (4:32) “Portals of Grace

2010/07/18

Aromates (França) / Martin Best Medieval Ensemble (Inglaterra)

“Um texto religioso judaico, um canto cigano da Rússia, uma canção tradicional da Sérvia e uma melodia de sevdah (característica de Herzegovina). São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) The Klezmatics (Israel/EUA) (10) Ale Brider (até 3:56) “Brother Moses Smote the Water”
(2) Loyko (Rússia) (I. 16) Gulya (5:47) “Road of the Gypsies”
(3) Boris Kovac & Ladaaba Orchest (Sérvia) (12) In Bukovac (4:40) “Ballads at the End of Time”
(4) Mostar Sevdah Reunion (Bósnia/Herzegovina) (10) Psenicica Sitno Sjeme (3:01) “Mostar Sevdah Reunion”

(Separador)

O Ensemble Aromates, liderado por Michèle Claude, depois de lançar dois discos na Alpha, dedicados à música arabo-andalusa do Médio Oriente (“Jardin de Myrtes: Mélodies andalouses du Moyen-Orient” e “Rayon de Lune: Musique des Ommeyades”), propôs-se agora revisitar a música do nordeste do Mediterrâneo, mais precisamente do sul dos Balcâs.
No cruzamento entre o Oriente e o Ocidente, os Balcâs possuem uma dupla herança em que as influências se encontram e se fundem para dar origem aos estilos típicos da região. Sob a influência otomana durante alguns séculos, os Balcâs apreenderam e guardaram o gosto pelos ritmos irregulares que Bartok qualificou de ritmos “Aksak”, termo turco que significa “coxo”, reassumindo também a designação de uma moda balcânica muito conhecida, a famosa “moda Bartok”.
Conhecida pelas suas danças e pelos seus cantos religiosos, a música balcânica possui, no entanto, um restrito repertório de música erudita e Michèle Claude e os Aromates optaram por tentar colmatar essa lacuna. A líder dos Aromates mergulhou, assim, nos perfumes de temas búlgaros, macedónios ou gregos, piscou o olho à música erudita e à improvisação e baseou-se em ornamentações ocidentais e nas melodias ciganas.
“Aksak: Mélodies du sud des Balkans” (2009 Alpha), o resultado desse fascínio pelas sonoridades da Península Balcânica, assume-se, assim, por um registo inovador, que nos revela um surpreendente oriente erudito. Para o efeito, músicos de formação clássica utilizaram instrumentos antigos (viola de gamba, sanfonas, saltério, organeto, clavecino, percussões) e mais modernas (flautas, violões, contrabaixo…) e deambularam entre a tradição e a improvisação.
Mais informações: http://www.myspace.com/aromates



(11) Manaki (4:00)
(02) Dospat (5:08)
(10) Graovsko (4:26)
(04) Danse 25 (5:00)

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“Um tema de Jaipongan, o género musical característico do oeste da ilha de Java, uma canção do Cambodja de apelo ao esforço, um canto devocional do Tibete e uma história épica do tempo da última dinastia da China. São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Idjah Hadidjah (Indonésia) (5) Arun Bandung (7:11) “Sundanese Jaipong and other Popular Music”
(2) Musicians of the National Dance Company (Cambodja) (1) Breu Peyney (4:52) “Homrong”
(3) Yungchen Lhamo (Tibete) (8) Dradul Nyenkyon (4:10) “Tibet, Tibet”
(4) The Guo Brothers & Shung Tian (China) (11) The Dream of the Red Mansion (5:30) “Yuan”

2ª Hora

“Uma canção sefardita em Ladino, a língua dos judeus que habitaram a Península Ibérica na Idade Média; uma Cantiga de Santa Maria, de Afonso X, o Sábio, de Leão e Castela (1221-1284); um poema do século XIII do trovador germânico Walter Von der Vogelweide; e um tema da famosa abadessa visionária do século XII, Hildegard von Bingen. A música medieval à luz das novas tecnologias.”

(1) Suzy (Turquia) (3) Mar de leche (3:30) “Herencia”
(2) Maciej Malenczuk & Consort (Polónia) (6) Strela do dia (3:31) “Cantigas de Santa Maria”
(3) Jaramar (México) (3) Palästinalied (5:14) “Lenguas”
(4) Garmarna (Suécia) (7) Virga ac diadema (6,47) “Hildegard von Bingen”

(Separador)

Martin Best é um dos intérpretes mais importantes do repertório dos trovadores medievais. Fundador de um ensemble de música medieval com o seu nome, é um exímio instrumentista, tendo aprendido guitarra clássica com dois dos maiores mestres do século vinte, Andrés Segovia e John Williams.
Martin Best começou a carreira de músico com uma grande variedade de álbuns instrumentais e vocais abarcando vários séculos (música popular inglesa desde Shakespeare até ao século XX) e diferentes grupos linguísticos (inglês, espanhol, francês e provençal).
Em 1981, Best aperfeiçoou a sua especialidade às tradições dos trovadores europeus, o que, a determinada altura, considerou como o seu "primeiro amor". Nessa altura, resolveu formar o Martin Best Medieval Ensemble, com o qual lançou uma série de gravações, acusticamente inovadoras, sobre um grupo de poetas e de composições, nomeadamente Guiraut Riquier, Bernart de Ventadorn, italianos e franceses contemporâneos de Dante, trovadores e trouvéres, o Lamento de Tristano e as Cantigas de Santa Maria.
Martin Best dá primazia ao texto e é suficientemente comunicativo. É certo que não tem propriamente a mais bela das vozes, mas o que faz, soa de forma convincente e natural, dando a sensação de que passou toda a sua vida a cantar estas canções. Acompanham-no Jeremy Barlow, David Corkhill McLachlan e Alastair, que tocam uma variedade de instrumentos, incluindo tamborim, rabeca, guitarra mourisca, pandeiro, saltério, oud e alaúde.
Graças ao Martin Best Medieval Ensemble, há uma série de gravações excelentes que dão um sabor generoso da música e da época dos trovadores, cuja influência na poesia e na música foi substancial, e cujos comentários sobre usos e costumes da Idade Média são referências inestimáveis para a compreensão de certos aspectos da época. Da discografia do Martin Best Medieval Ensemble, salientam-se: “The Last of the Troubadours (The Art & Times of Guiraut Riquier 1230-1292)" (1981 Nimbus), cuja música e poesia celebra o último exemplar conhecido da longa tradição da poesia cantada, que começou no sudoeste da França, no final do século XI; “The Dante Troubadours” (1982 Nimbus), que explora um grupo de trovadores, (Guiraut de Bornelh, Bertran de Born e Arnaul Daniel), que foram colocados por Dante no auge da tradição lírica provençal; “Songs of Chivalry” (1982 Nimbus), que celebra as peripécias dos cavaleiros da França dos séculos XII e XIII; e “Cantigas of Santa Maria of Alfonso X” (1987 Nimbus), que, naturalmente retratam a riqueza das poesias dedicadas à Virgem, no tempo de Afonso X, o Sábio, rei de Castela.
Mais informações em:
http://test.allmusic.com/cg/amg.dll?p=amg&sql=41:38894~T1



“Cantigas of Santa Maria of Alfonso X”
(07) Muit é mais a piadade (2:57)
(05) A Santa Maria dadas sejan loores (0:48)
(08) A Virgen, que Deus Madre est (1:25)
(18) Santa Maria loei (0:51)
“The Dante Troubadours”
(08) Can vei la lauzeta (3:40)
“The Last of the Troubadours”
(03) No.m say d’amor (4:16)
(05) Planh for the Lord of Narbonne (4:04)
“Songs of Chivalry”
(17) Pois tals sabers (4:46)
(05) Tan tai amors (3:34)

(Separador)

“Uma Ballade do poeta francês Jehan de Lescurel e uma ballata do italiano Gherardello da Firenze, ambas do século XIV; um tema anónimo da França do século XIII; e um romance do Al-Andaluz de Pérez de Hita do século XVI. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.

(1) Amadis (França) (3) Amours, trop vous dói cherir (4:08) “Anges ou démons”
(2) Mediva (Inglaterra) (3) I’vo’ bene (3:54) "Viva Mediva!"
(3) La Reverdie (Itália) (5) Pange melos lacrimosum (4:00) “Nox-Lux (France & Angleterre, 1200-1300)”
(4) Begoña Olavide (Espanha) (1) Paseabase el Rey Moro (5:31) “Mudejar”

2010/06/20

Tamikrest (Touaregs) / Ensemble Mediva (Inglaterra/…)

“Texturas mágicas extraídas do rabab, um instrumento de 13 cordas do Afeganistão; a música dos Uigures, o grupo étnico mais importante da China; e uma excelente demonstração do throat singing, o canto harmónico de Tuva. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Stephan Micus (Alemanha) (4) For M’schr and Djingis Khan (6:24) “Implosions”
(2) Pasha Ishan & Dalirhan (China) (4) Primavera Branca (3:54) “Vozes e Ritmos do Oriente, Vol. I”
(3) Ensemble Tuva (Tuva) (3) Tying Siirtuktiilerining Iri(5:41) “Voices from the Land of the Eagles”

(Separador)

O grupo tuaregue Tamikrest, cujo nome significa "o nó, a junção ou a coligação", uma referência ao facto dos membros da banda serem provenientes de diferentes regiões, é constituído por sete jovens músicos originários do Mali, do Níger e da Argélia. Formaram-se em 2006 para expressar a identidade do povo nómada que habita o deserto do Sahara, nos países citados e na Líbia. Sob o lema "Um deserto nos rege, uma língua nos une e uma cultura nos aproxima", os Tamikrest exprimem-se orgulhosamente em Tamasheq, a língua dos tuaregues, e cultivam o rock Ishumar, a música rebelde tuaregue. Andy Morgan, durante muitos anos gerente dos Tinariwen, aponta-os mesmo como “o futuro da música Tamasheq”.
Ousmane Ag Mossa, o líder dos Tamikrest, teve uma infância fustigada pelos ventos implacáveis da história recente dos Tuaregues e esse facto reflecte-se na sua música. As secas de 68 a 74 quase destruíram os rebanhos e, com eles, o antigo modo de vida nómada dos Tuaregues e as secas de 84 e 85 quase deram o golpe final. Milhares de tuaregues jovens fugiram para o exílio na Argélia, Líbia, Burkina Faso e arredores e assim nasce o moderno estilo de música tuaregue alimentada pela raiva, saudades, frustrações e sonhos de uma vida melhor. Esta geração de homens Tuaregues, conhecida como Ishumar, retornou ao Mali e ao Níger, em 1990, para se revoltar contra a indiferença, a corrupção e a arrogância dos governos nas capitais distantes de Bamako e de Niamey. É neste contexto que se situam os Tamikrest.
Revelando-se determinados na afirmação da música tuaregue e prosseguindo os caminhos trilhados pelos Tinariwen - os pioneiros e expoentes do rock Ishumar - de quem se consideram "filhos espirituais, os Tamikrest centram-se sobretudo na repressão de que são vítimas os tuaregues na actual sociedade maliana e na luta pela auto-determinação do povo nómada. Naturalmente que também louva o deserto, um lugar fundamental para os Tuaregues. E foi nas dunas de seda de Essakane, no Festival do Deserto de 2008, que encontraram os Dirtmusic, grupo que, mais tarde, retorna ao Mali para gravar o álbum "BKO" e apresentar os Tamikrest, bem como Fadimata dos Tartit e Lobi Traoré. Daí à gravação de “Adagh” (2010 Glitterhouse Records), o álbum de estreia dos Tamikrest, produzido por Chris Eckman dos Dirtmusic, em Bamako, a capital do Mali, foi um passo.
Ao ouvirmos os primeiros acordes de “Adagh", de imediato os associamos às melodias intensas e hipnóticas do blues e do rock dos seus vizinhos Tinariwen, nomeadamente nos inevitáveis ecos do estilo de guitarra rítmica galopante. Ainda 2010 vai a meio e já está encontrado o Álbum do Ano.
Mais informações em: http://www.myspace.com/tamikrest



(04) Tamiditin (3:37)
(02) Aicha (3:18)
(09) Adagh (3:07)
(01) Outamachek (3:24)
(05) Aratane N' Adagh (5:10)

(Separador)

“Um bhajan, canto tradicional sagrado de devoção proveniente da Índia; e uma curiosa composição inspirada no canto bifónico dos monges budistas do Tibete, enriquecida por sonoridades provenientes de instrumentos orientais (tabla, oud, zarb). São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Shri Anandi Ma (Índia) (3) Guru Vandan (11:51) “Divine Bliss”
(2) David Hykes (EUA) (2) True to the Times (8:06) “True to the Times (How to be?)”

2ª Hora

“Um poema do século II da autoria de Mesomedes, da Grécia Antiga; uma demonstração das potencialidades da lira de Ur (Mesopotâmia) no 3.º milénio a.C. e da cithara na Roma Antiga; e uma dança do Antigo Egipto, dedicada à deusa Hathor, de cerca de 2500 a.C.”

(1) Ensemble De Organographia (EUA/Grécia Antiga) (6) Invocation of Calliope and Apollo (3:22) “Music of the Ancient Greeks”
(2) Janet Smith (EUA/Suméria) (4) The Hurrian Hymn (4:52) “Seven Modes for an Ancient Lyre”
(3) Synaulia (Itália) (5) Symphoniaci (5:50) “Music from Ancient Rome, Vol. 2: String Instruments”
(4) Rafael Pérez Arroyo/Hather Ensemble (Espanha) (3) Iba Dance (7,08) “Ancient Egypt: Music in the Age of the Pyramids”

(Separador)

O ensemble Mediva, liderado pela proeminente inglesa Ann Allen, tem sido um imaginativo grupo medieval que se tem dedicado, sobretudo, à interpretação do repertório dos séculos XII a XV. Surgiu no cenário musical em 1998 com um brilhante concerto no Royal Academy of Music e, a partir daí, passou a enquadrar os principais eventos dedicados à música antiga. Composto por uma mistura eclética de dez intérpretes, o grupo foi criado com a intenção de trazer paixão e vida à música de épocas anteriores e de ir além da sua autenticidade, experimentando-a com o jazz, a improvisação, o teatro e a dança. Com efeito, os Mediva fazem música medieval surpreendentemente moderna através de arranjos inovadores e de exímias performances que podem ir do desempenho num organum do século XI a partir da notação original num proeminente Festival de Música Antiga até ao balançar roqueiro, à improvisação e aos cruzamentos num qualquer clube nocturno.
Inovação e diversidade são as características principais dos Mediva, alimentadas pela visão criativa e energia de Ann Allen e pelo contributo de cantores e multi-instrumentistas, expoentes nas suas áreas e recrutados em toda a Europa, que actuaram com alguns dos principais grupos medievais, como Alla Francesca, Sarband, Lucidarium, Les Haulz et Les Bas e Micrologus. Apresentando uma mistura exótica de instrumentos medievais e árabes, como o oud, saz, shawms, flautas, harpa, saltério, violino e percussão, bem como uma variedade de técnicas do canto para se adequar a cada repertório, os Mediva desenvolveram uma nova forma de executar a música medieval e, ao invés de tentarem recriar o passado, usam a música antiga como fonte de inspiração para um novo som do mundo.
Até à data, os Mediva lançaram dois registos: “Viva Mediva!” (2000 Mediva), em que as sofisticadas polifonias de Itália do século XIV intercalam na perfeição com as Cantigas de Santa Maria (Afonso X, o Sábio de Castela) e as Cantigas de Amigo (Martin Codax), do século XIII; e “Gabriel's Message” (2005 Mediva), uma celebração do Advento, que reúne peças dos manuscritos ingleses dos séculos XIII ao XV e que retratam a visita do Anjo Gabriel à Virgem Maria.
Mais informações em: http://www.mediva.co.uk/



(10) Mui grandes noit' e dia (3:59) “Viva Mediva!”
(13) Verbum caro factum est (3:10) “Gabriel's Message”
(03) I’vo’ bene (3:54) “Viva Mediva!”
(08) Nota (2:01) “Gabriel's Message”
(03) Edi beo thu hevene quene (5:53) “Gabriel's Message”
(08) Ondas do Mar (3:53) “Viva Mediva!”

(Separador)

“Uma Cantiga de Santa Maria, de Afonso X, o Sábio, de Leão e Castela (1221-1284); uma composição anónima da Catalunha, do famoso Llibre Vermell de Montserrat (século XIV); e um canto de devoção da Itália das Comunas. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.

(1) Obsidienne (França) (3) Como somos per conssello (6:32) “Miracle! Cantigas d’Alfonso el Sabio”
(2) Abendmusik (Espanha) (2) Los set gotxs (7:19) “Música en tiempos de las Catedrales”
(3) La Reverdie (Itália) (5) Voi ch’amate (5:10) “Laude di Sancta Maria”.

2010/05/08

Kroke (Polónia) / Ensemble De Organographia (Suméria, Egipto e Grécia Antiga)

“Dois curiosos cantos tradicionais joikh da etnia Saami da Lapónia, um poema árabo-andaluz sobre o estado estático em que a luz divina nos penetra e um lamento de uma alma touareg atormentada. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.
(1) Sainkho/Ned Rothenberg (Tuva/EUA) (5) Lake Song (5:10) “Amulet”
(2) Wimme (Lapónia) (2) Alit Guoldu (4:17) “Wimme”
(3) Steve Shehan (EUA) (1) Wajd (4:08) “Safar”
(4) Toumast (Mali-Touaregs) (9) Amidinine (6:06) “Ishumar”

(Separador)

Os Kroke (nome que em Yiddish significa Cracóvia) são um trio polaco especializado na música klezmer, a música tradicional judaica instrumental da Europa do leste. O grupo é formado pelo contrabaixista Tomasz Lato, pelo violinista, flautista e pianista Tomasz Kukurba e pelo acordeonista Jerzy Bawoł, colegas da Academia de Música de Cracóvia. Todos têm formação clássica e conhecimentos de jazz e já tocaram com Ravi Shankar, Bustan Abraham, Klezmatics, Van Morrison, Natacha Atlas e Nigel Kennedy. Começaram a sua carreira internacional em 1993, em Jerusalém, num Encontro de sobreviventes do Holocausto promovido por Steven Spielberg, que ficara impressionado quando os viu actuar num auditório de Cracóvia, na altura das filmagens de “A Lista de Schindler”. Em Portugal, actuaram em 2000, no Seixal, aquando da 11.ª edição do “Cantigas de Maio”. Têm até à data oito registos editados, sendo “The Sounds of the Vanishing World” (1999) - o excelente quarto registo, premiado pela crítica discográfica alemã - o responsável pela sua vinda a Portugal.
O último “Out of Sight” (2009 Oriente Musik/ Megamúsica) é um registo onde, naturalmente, predominam os andamentos klezmer, mas enriquecidos com doses controladas das músicas tradicionais grega e turca, sefardita, cigana, clássica e jazz. O resultado é um exótico caldeirão de sonoridades ora melancólicas ora festivas, mas sempre com um toque assumidamente contemporâneo.
Mais informações em: http://www.kroke.krakow.pl/html_en/main_en.html


(02) Janitsa (5:33)
(01) Medinet (5:23)
(06) A Luftmentsch (6:48)

(Separador)

“Uma dança apocalíptica da Jugoslávia que envolve o tango nas típicas secções de metais dos Balcãs e uma peça instrumental tradicional do Egipto que evoca o tempo dos faraós. São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Boris Kovac & Ladaaba Orchest (Jugoslávia) (2) Begin-ing (7:57) “The Last Balkan Tango”
(2) Mahmoud Fadl (Egipto) (4) Ishlonak (9:05) “Love Letter from King Tut-Ank-Amen”

2ª Hora

“Um poema do século XVI do húngaro Bálint Balassi, sobre o sofrimento de um jovem apaixonado; um tema inspirado nos Cátaros, um movimento espiritual dos séculos XII e XIII; uma canção dos judeus sefarditas de Izmir; e um cantiga do trovador do século XII, Berenguer de Palol, da Catalunha.”
(1) Musica Historica (Hungria) (I.5) Siralmas nékem idegen földen (2:05) “Jelentem Versben Mesémet (Songs of Bálint Balassi)”
(2) Zefiro Torna (Bélgica) (16) Tan tai mon còr (4:44) “Compilation CD”
(3) Amadis (França) (6) Reina de la gracia (5:42) “Cantos de la Vida: Chansons de l’Espagne Médiévale”
(4) Ensemble Cantilena Antiqua (Itália) (3) De la gençor qu’om vey (6:48) “Berenguer de Palol: joys amors et chants”

(Separador)

É impressionante que tenham sobrevivido ao tempo um número significativo de composições e de textos teóricos sobre a música da Grécia Antiga. Autores como Platão e Aristóteles, entre outros, contribuíram com informações teóricas, a educação musical e o papel da música na sociedade. Aristoxenus, um discípulo de Aristóteles, escreveu sobre os aspectos práticos da performance musical e, juntamente com Euclides, Pitágoras e Ptolomeu, foi um importante precursor da acústica. Por sua vez, um tratado de Alípio constituiu a principal fonte de informações para a interpretação da notação musical grega. Esses documentos escritos serviram de modelos para os tratados teóricos posteriores e ajudaram a moldar o curso da música ocidental e do Médio Oriente.
Outros meios de informação sobre a música grega antiga foram adquiridos a partir dos objectos de arte sobreviventes, especialmente esculturas e pinturas em vasos, que retratam músicos e instrumentos. Por outro lado, há, ainda, uma série de auloi e de outros instrumentos sobreviventes.
Lamentava-se, no entanto, o facto de existir na actualidade apenas um pequeno número de composições da Grécia Antiga. Felizmente, graças a pesquisas recentes, mais de 50 exemplos desse emocionante repertório foram descobertos com notação musical, nomeadamente em Oxyrhynchus (Egipto) e incluídos, pela primeira vez, nos registos do Ensemble De Organographia, um extraordinário grupo de Oregon (EUA) constituído por Philip Neuman e Gayle Neuman, especializado na música da Antiguidade, da Idade Média, do Renascimento e do século XIX.
Descobertas arqueológicas na Síria e no Iraque, durante as últimas décadas, trouxeram ao conhecimento novos documentos musicais que têm aumentado bastante a nossa compreensão da música antiga. Textos que descrevem a notação musical da Babilónia foram descobertos em Ur e em Ashur e composições escritas nesse sistema foram encontrados em Ugarit e Nippur. Essas descobertas ajudaram a clarificar a arte musical Sumero-Babilónica e, enquanto as informações sobre a notação musical egípcia permanecem obscuras por comparação, várias descrições verbais de performances instrumentais e alguns documentos musicais que sobreviveram ao tempo foram identificados.
Na gravação “Music of the Ancient Greeks” (1995, 1997 Pandourion Records), aparece a maior parte do repertório grego antigo existente, preservado principalmente na pedra e no papiro, abarcando quase 800 anos (desde o século V a.C. ao século III), excepto algumas peças que se pensa serem apócrifas, vários fragmentos muito curtos, e uma série de outras peças que aparecem em “Music of the Ancient Sumerians, Egyptians & Greeks”, (2006, 1999 Pandourion Records). O repertório desta gravação remonta ao século XX a.C. e vai até ao século III e inclui, entre outras, as instruções musicais para o hino a Lipit-Ištar, o Rei da Justiça, que é considerado o mais antigo exemplo de notação musical sobrevivente até ao nosso tempo. As selecções abarcam temas em diferentes estados de preservação, desde o quase perfeito “Hino 6 a Hurrian”, até a pequenos fragmentos de melodia e texto.
Todos os instrumentos utilizados nos discos são originais (o par de címbalos krotala, por exemplo) ou cópias de instrumentos antigos, construídos principalmente pelos executantes, a partir de representações iconográficas, nomeadamente a lira, cítara, pandoura, salpinx, trichordon, aulos, psithyra, sistro, monokalamos, siringe e tympanon.
Mais informações em: http://www.emgo.org/performers.htm
Discos disponíveis em: http://www.northpacificmusic.com/


“Music of the Ancient Sumerians, Egyptians & Greeks”
(25) Harp Piece II (6th c. BC) EGYPTIAN MUSIC (2:02)
(01) Musical Excerpts (2th c. AD) GREEK MUSIC FROM EGYPT (3:02)
(11) A Zaluzi to the Gods (c. 1225 BC) SUMERO-BABYLONIAN (3:49)
“Music of the Ancient Greeks”
(15) Dramatic lament on Ajax's suicide (late 2nd c. AD) (4:26)
(02) Hymn to the Sun, Mesomedes (2nd c. AD) (2:45)
(17) Christian hymn (3rd c. AD) (Oxyrhynchus 1786) (2:27)
(06) Invocation of Calliope and Apollo, Mesomedes (2nd c. AD) (3:21)

(Separador)

“Uma composição de Hayne van Ghizeghem, do século XV, do Cancioneiro do Escorial; um tema espanhol anónimo, do século XVI; uma extraordinária versão do tema Ave Maria, proveniente da Bielorrússia; e uma cantiga do poeta Gillebert de Berneville, do século XIII, da Aquitânia. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.
(1) Speculum (Espanha) (15) De Tous bien playne (4:49) “Splendor: Cancionero de El Escorial Vol. IV”
(2) Carlos Bica & Azul (Portugal) (8) Ay! Linda Amiga (6:23) “Twist”
(3) Vyatchescav Kagen-Paley (Bielorrússia) (2) Ave Maria Remix #3 (5:39) “Trance Planet, Volume Three”.
(4) Constantinople (Irão/...) (2) De moi dolereus vos chant (5:00) “Constantinople”

2010/04/12

Ali & Toumani (Mali) / Ensemble Cantilena Antiqua (Itália)

“Um casamento perfeito entre as vozes do Gabão e a música clássica europeia; um canto de encorajamento ao trabalho, da Costa do Marfim; um tema inspirado nos cânticos dos pigmeus da África Central; uma variação baseada nas melopeias tradicionais dos nativos americanos; e uma melodia dos índios Shawnee (EUA), habitualmente entoado no final das colheitas. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.
(1) Lambarena (Gabão/Alemanha) (2) Sankanda+Lasset uns den nicht zerteilen (5:00) “Bach to Africa”
(2) Nipa (Ghana) (13) Adjiman Mo (2:12) “Ghana a Capella”
(3) Zap Mama (Bélgica/Zaire) (1) Mupepe (3:50) “Zap Mama”
(4) Faraualla (Itália) (8) Spirits (2:22) “Faraualla”
(5) Yaki Kandru (Colômbia) (9) Canto de los Shawnee (2:16) “Music from the Tropical Rainforest & Other Magic Places”

(Separador)

Ali Farka Touré nascera em 1939, na aldeia de kanau, junto ao rio Níger, no nordeste do Mali e, aos 67 anos de idade e 55 de carreira de sucesso, foi vencido pela morte. Começou por ganhar proeminência no seu país natal, depois em toda a África Ocidental e, finalmente, no resto do mundo, graças a um contrato com a editora inglesa World Circuit, do qual resultaram dez álbuns, alguns deles em parceria. Celebrado como o John Lee Hooker africano, Ali Farka Touré venceu um grammy graças a “Talking Timbuktu” (1993), álbum gravado em Los Angeles com Ry Gooder, e outro graças a “In the Heart of the Moon” (2005), com Toumani Diabaté, troféus que acrescentou a outros já ganhos anteriormente no Mali.
Toumani Diabaté, de 50 anos de idade, é conhecido como o maior tocador de kora do planeta, a harpa de 21 cordas que tantas vezes aqui divulgámos. Descendente há 71 gerações dos griots mandinka, os contadores de histórias do ocidente africano, Toumani Diabaté foi promovido ao mercado World Music ocidental graças à sua colaboração com os espanhóis Ketama em “Songhai” e “Songhai 2”. Em 99, Toumani Diabaté encetaria novas parcerias: com Ballaké Sissoko e com Taj Mahal, das quais resultaram respectivamente os brilhantes álbuns “New Ancient Strings” e “Kulanjan”, aqui atempadamente destacados.
Em 2005, Ali Farka Touré e Toumani Diabaté criaram o fabuloso “In the Heart of the Moon”, vencedor de um grammy, e, em 2010, regressam com “Ali & Toumani”, um álbum gravado pouco antes da morte de Ali Farka Touré. Para a sua realização contam com a contribuição de Orlando "Cachaíto" López no baixo, Vieux Farka Touré nas congas e vocais, Souleye Kane e Ali Magasa nas vozes e Tim Keiper na percussão. Tal como em “In the Heart of the Moon”, o que podemos ouvir em “Ali & Toumani” são complexas tapeçarias musicais, tecidas através de sinuosos mas sempre dialogantes improvisos, que se entrecruzam com uma elegância e espiritualidade transcendentes. Desta vez maioritariamente instrumental, “Ali & Toumani” revela-nos os dois mais importantes músicos do Mali ao seu melhor nível. Edição da World Circuit e distribução da Megamúsica.
Mais informações em: http://www.worldcircuit.co.uk/#Home

(03) Be Mankan (5:07)
(10) Machengoidi (5:01)
(09) Fantasy (2:15)
(01) Ruby (5:50)

(Separador)

“Temas populares nostálgicos provenientes do Peru e do México; um bolero de Cuba; um diálogo entre as tradições do Senegal e das Caraíbas; e um tema tradicional de Cabo Verde. São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Susana Baca (Peru) (3) Heces (2:48) “Susana Baca”
(2) Lila Downs (México) (10) Paloma Negra (4:30) “Una Sangre One Blood”
(3) Buena Vista Social Club (Cuba) (7) Veinte años (3:32) “Buena Vista Social Club”
(4) Orcherstra Baobab (Senegal) (7) Hommage à Tonton Ferrer (5:52) “Specialist in all Styles”
(5) Simentera (Cabo Verde) (1) Ami Xintadu (4:32) “Tradictional”


2ª Hora

“Um poema árabo-andaluz do século XI; um hino religioso bizantino à Virgem Theotokos; e uma Cantiga de Santa Maria do século XIII, de Afonso X, de Castela.”
(1) Jon Balke/Amina Alaoui (Noruega/Marrocos) (3) Jadwa (5:18) “Siwan”
(2) Sophia Papazoglou (Grécia) (13) At the Beauty of your Virginity (8:22) “World Festival of Sacred Music Europe”
(3) Ensemble Wayal (França/Espanha) (13) A que por nos salvar (4:11) “Cantigas et Romances: Chants d’amour et de sagesse (XIe-XIVe siècles)”

(Separador)

O Império Carolíngio marca um momento importante na história da poesia e da música medieval do ocidente europeu. No manuscrito Lat 1154, da Aquitânia, escrito entre o final do século IX e o início do século X, agora guardado em Paris, encontraram-se uma série de composições, algumas delas com notação musical, relacionadas com factos históricos do tempo de Carlos Magno. Constitui, assim, uma verdadeira compilação testamentária da cultura carolíngia e um precioso contributo para entendermos a música e a poesia do primeiro milénio.
Ainda que em reduzido número, as canções incluídas no manuscrito representam um importante “repertório” da época, oferecendo o conhecimento da tradição épica e do quotidiano, com fortes reminiscências da tradição latina clássica, nomeadamente de Virgílio, Horácio e Boécio. Com efeito, o período carolíngio foi fundamental para o renascimento de uma tradição clássica que as invasões bárbaras tinham interrompido. De facto, um conjunto de elementos da tradição greco-romana serviu de base para a emergência de uma nova cultura.
É sobre as produções poéticas e musicais do Império Carolíngio, que o Ensemble Cantilena Antiqua, se debruça no fabuloso registo “Epos: Music of Carolingian era” (Documenta, 2009). Fundado por Stefano Albarello em Bolonha (Itália), em 1987, e composto por músicos que se especializaram em realizar simultaneamente repertórios sagrados e profanos, o Ensemble Cantilena Antiqua encetou uma investigação cuidada em fontes musicais, na literatura e na história da época medieval, assegurando, o mais possível, uma fidelidade à tradição, de modo a preservar os sons e os estilos originais do período que abarcam. Naturalmente que o Ensemble Cantilena Antiqua faz uso de réplicas de instrumentos do tempo para aprofundar particularmente o aspecto do desempenho, nomeadamente as tibiae (flautas), a fidula (instrumento de cordas), a cithara, a lyra, o psalterium (dulcimer) e a percussão.
“Epos: Music of Carolingian era” contém, assim, preciosas relíquias de uma época musicalmente pouco explorada e quase nunca interpretada nos tempos modernos. Ouvi-lo significa uma oportunidade única para desfrutar do mais antigo repertório medieval profano que chegou até nós, bem como do seu encanto poético e sonoro.
Dos dois temas anónimos retirados do manuscrito Lat 1154 e incluídos em “Epos”, saliente-se Planctus Karoli ("Lamento [sobre] a morte de Carlos Magno"), um poema associado ao Renascimento Carolíngio em letras latinas e um elogio ao monarca Carlos Magno, escrito em verso, pouco depois da sua morte em 814. Também retirados de Lat 1154, incluem o disco dos Cantilena Antiqua dois poemas contemporâneos: Ut quid iubes pusiole de Godescalcus de Orbais (teólogo e poeta nascido na Saxônia, expulso do mosteiro de Fulda, após ter sido acusado de heresia), que aborda a sua grande angústia sobre o exílio; e Aurora cum primo mane de Agilbertus (poeta e diplomata de ascendência franca, que passou os seus primeiros anos na corte de Carlos Magno e, mais tarde, se tornou abade em Saint-Riquier), que retrata a batalha de Fontenoy. De Boécio (Severinus Boethius, c. 475 a 480 - 524), filósofo, estadista e teólogo romano (cuja reavaliação da sua figura e obra se deve à dinastia carolíngia) estão incluídos em “Epos” duas composições do seu trabalho “De philosophiae consolatione”. De Horácio (Quintus Horatius, 65 - 8 a.C.), poeta lírico, satírico e filósofo latino nascido em Venúsia (Itália), cuja obra exerceu forte influência sobre os autores renascentistas e classicistas em geral, estão incluídos os temas Albi ne doleas e Est mihi nonum retirados das Odes. De Virgílio (Publius Vergilius Maro, 70 - 19 a.C.), cantor da tradição criadora e conservadora da grandeza de Roma e o poeta mais conceituado do seu tempo estão em “Music of Carolingian era” os temas Aeneis Liber II e Aeneis Liber IV retirados da obra-prima Eneida, que, surpreendentemente, continha já fragmentos de música, constituindo, assim, um precioso documento que atesta o facto de que, no início da Idade Média, era uma prática comum cantar os versos desse monumental poema.
Mais informações em: http://web.tiscali.it/cantilenantiqua/

(02) Ut quid iubes pusiole (7:04)
(01) Bella bis quinis (6:16)
(07) Albi ne doleas (3:23)
(09) Est mihi nonum (3:49)

(Separador)

“Uma cantiga trovadoresca de Guilhem de Peitieu, do século XII; uma Canção de Trobairitz da Condessa Beatriz de Dia, também do século XII; e uma Cantiga de Amigo, de Martim Codax, o supremo trovador de Vigo, do século XIII. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.
(1) La Capella Reial de Catalunya/Hespèrion XXI/Jordi Savall (Espanha) - (I.11) Pos de chantar (6:06) “Le Royaume Oublié: La Croisade contre les Albigeois/La tragédie Cathare”
(2) Música Antiga da UFF (Brasil) (2) A chantar m’er de so q’ieu no volria (6:19) “A chantar: Trovadoras Medievais”
(3) The Dufay Collective (Inglaterra) (13) Mandad’ei comigo (5:52) “Music for Alfonso the Wise”.

2010/03/21

Staff Benda Bilili (Congo) / Speculum (Espanha)

“A kora e o balafon da Guiné Bissau, do Mali e da Guiné Conákri tecem melodias sobre o baixo, o trombone e a guitarra de músicos da Suíça e dos EUA. Extraordinários encontros entre compositores ocidentais e africanos abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.
(1) Taffetas (2) Saudade do meu Amor (8:47) “Taffetas”
(2) Roswell Rudd & Toumani Diabate (1) Bamako (4:50) “Malicool”
(3) Djeli Moussa Diawara & Bob Brozman (3) Almany (5:42) “Ocean Blues”

(Separador)

Staff Benda Bilili é um grupo de músicos de rua, proveniente de Kinshasa (Congo), que se afirmou como uma das grandes revelações de 2009, tendo ganho o prémio de melhor intérprete do ano, no Womex (World Music Expo).
O núcleo dos Staff Benda Bilili é composto por quatro cantores / guitarristas, todos eles deficientes físicos, que sofreram de poliomielite quando eram jovens, e se movimentam em cadeiras de rodas ou triciclos espectacularmente personalizados. São apoiados por uma secção de ritmo, composta por crianças e adolescentes de rua abandonados e que foram tomados sob a protecção dos membros mais velhos da banda. O solista é um jovem de 18 anos de idade que toca solos surpreendentes, numa espécie de alaúde de uma corda que ele próprio projectou e construiu a partir de uma lata. Paraplégicos, incapazes de trabalhar, pobres e forçados a viver na rua da República Democrática do Congo, recebendo um diminuto apoio do estado, os jovens tornaram-se músicos de rua, até que foram descobertos por um par de cineastas franceses e lançam “Très Très Fort”, o primeiro álbum.
Produzido por Vincent Kenis, o responsável pelo som electro-artesanal dos Kasaï Allstars e dos Konono nº1, e editado pela etiqueta belga Crammed Discs (distribuição Megamúsica), “Très Très Fort”, apresenta letras poderosas, que chamam a atenção para uma série de importantes questões sociais, nomeadamente a pobreza, a deficiente saúde pública e a violência em África. A música, criada a partir de instrumentos acústicos inventados, é uma mistura de sonoridades tradicionais e modernas, com pitadas de jazz cubano, afro-pop, soul, rumba, rhythm'n'blues e reggae.
Imagine-se todos os músicos do grupo sentados em círculo, a tocar e a cantar (em várias línguas) construindo harmonias vocais (uma das suas imagens de marca), alimentando-se uns aos outros, interagindo com os espectadores, com performances todas diferentes. Com efeito, a maior parte de “Très Très Fort” foi gravado ao ar livre, nos enclaves desabrigados próximos do jardim zoológico em Kinshasa, onde os membros da Staff Benda Bilili chamam de casa há bastante tempo.
A música de Très Très Fort é poderosa, familiar e agradável e transpira uma emoção desconcertante e surpreendente. Um dos álbuns do ano.
Mais informações em: http://www.myspace.com/staffbendabilili

(02) Polio (3:08)
(04) Sala Keba (4:25)
(09) Marguerite (6:45)
(01) Moto Moindo (5:47)

(Separador)

“Um tema popular egípcio sobre a decepção provocada pelo amor não correspondido, um canto religioso da Tunísia de louvor a Deus, uma canção evocativa da abertura das portas do Grande bazar de Istanbul e uma típica peça folk dos portos de Creta, sobre a desilusão amorosa. São as sonoridades que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Hanan (4) Matajarahnish (4:12) “Sif Safaa: New Music from the Middle East”
(2) Jerrari (1) Sidi Mansour (5:50) “Tunisie: Chants & Rythmes”
(3) Istanbul Oriental Ensemble (1) Elden Ele (4:51) “Grand Bazaar”
(4) Ross Daly & Labyrinth (6) Afou ‘Heis Allon Sti Kardia (5:27) “Mitos”


2ª Hora

“Uma balada de um compositor e poeta da França dos finais do século XIII; um romance dos judeus sefarditas; uma cantiga de Santa Maria, de Afonso X, rei de Castela; e duas danças italianas dos séculos XIII e XIV. São os sons que abrem as portas da 2.ª hora do Templo das Heresias.”
(1) Ensemble Syntagma (Rússia/França) – Abundance de felonie (3:55) “Jehan de Lescurel, Ex Tempore. Vocal-Instrumental Poem”
(2) Ensemble Accentus (Áustria) (4) Partos trocados (5:54) “Sephardic Romances”
(3) Dekameron (Polónia) (1) Como Jesu Christo fezo a San Pedro (3:47) “Ave Mater, O Maria!”
(4) Musica Historica (Hungria) (19) Saltarello II (1:46) “Amor ey”
(5) Ioculatores (Alemanha) (11) Trotto (2:16) “Songs and Dances of the 13th to 15th Centuries”

(Separador)

Dirigido por Ernesto Schmied, um especialista em flautas históricas, o grupo espanhol Speculum tem-se dedicado, desde 1996, ano da sua formação, à recuperação da música da Idade Média em diante. Centrando-se, preferencialmente, na Ars Hispanica, os Speculum têm contribuído decisivamente para o conhecimento de um património tão raramente explorado, mas de primordial importância no panorama da música antiga.
Debruçando-se sobre diversos manuscritos europeus, os Speculum encetam um minucioso trabalho de pesquisa e utilizam vozes e instrumentos perfeitos para traçar as linhas da arquitectura musical medieval, renascentista e barroca.
Segundo os próprios Speculum, o significado da criação musical para o grupo está perfeitamente expresso nas palavras do famoso escritor e humanista britânico do século XV, Thomas More, num fragmento da Utopia: "...toda a sua música, a que criam com instrumentos e a que cantam com a voz humana, expressa as paixões e os afectos naturais; o timbre e a melodia elaboram-se à medida da obra, seja de uma oração ou uma canção alegre, sossegada, agitada, de lamentação ou de ira; representam o significado de cada estado de espírito e, maravilhosamente, logram comover, provocar, penetrar e inflamar as almas dos que a escutam."
O impacto da música dos Speculum tem sido tão frutífero e determinante que, desde a sua fundação, têm sido, por variadíssimas ocasiões, convidados para diversos eventos europeus, sobretudo na Península Ibérica, onde têm actuado em praticamente todos os festivais importantes.
Conjugando a música e a poesia da Idade Média espanhola em espectáculos de grande rigor e dramatismo e elaborando programas temáticos apelativos, os Speculum lograram, de uma forma subtil, aproximar o público dos cada vez mais apreciados meandros da música antiga.
Até à data, os especialistas da Ars Nova espanhola editaram sete registos fundamentais: “Fumeux fume par fumee” (1998), premiado com o prestigioso Choc de Le Monde de la Musique, em Janeiro de 2000; “Il Grant Desio e la Dolce Esperanza” (2006), o primeiro disco dedicado integralmente ao Cancioneiro do Escorial, co-produzido pela Comunidad de Madrid e pela etiqueta Openmusic para a colecção Madrid en su Música; “Cancionero de El Escorial” (2007) uma colaboração dos Speculum com o fantástico contratenor Carlos Mena, galardoado com 5 DIAPASONS (revista Diapason) e 4 estrelas no Le Monde de la Musique; “Ars Mediterranea” (2008), um variado repertório musical das diferentes expressões do Mediterrâneo; “O Rosa Bella, Cancionero de El Escorial, Vol. III” (2008); Live (2009); e “Splendor” (2009), o volume IV dedicado ao impressionante cancioneiro que se alberga na Biblioteca do Mosteiro de San Lorenzo de El Escorial.
Mais informações em: http://www.openmusic.es/autores/mostrar/18-speculum

(01) O Virgo Splendens (2:29) “Fumeux fume par fumee”
(16) Imperayritz de la ciudad ioyosa (4:05) “Il Grant Desio e la Dolce Esperanza”
(13) Amours me fait commencier (4:53) “Ars Mediterranea”
(05) Ne vous plaindes de mes yeulx (5:13) “Cancionero de El Escorial”
(17) Mercé te chiamo, o dolze anima mia (4:35) “O Rosa Bella”
(15) De tous bien playne (4:49) “Splendor”

(Separador)

““Uma outra balada do compositor e poeta francês Jehan de Lescurel, dos finais do século XIII/inícios do XIV; uma cantiga de amor do século XII do trovador catalão Berenguer de Palou; e mais uma cantiga do século XIII, de louvor à Virgem Maria. Assim se encerra o Templo das Heresias de hoje”.
(1) Amadis (França) (3) Amours, trop vous dói cherir (4:08) “Anges ou démons”
(2) Ensemble Cantilena Antiqua (Itália) (2) Ai tal domna (5:09) “Ondas do Mar”
(3) The Renaissance Players Winsome Evans (Austrália) (14) Virgen Madre Groriosa (10:08) “Of Numbers and Miracles”