2006/08/27

Ali Farka Touré (Mali) / Ensemble Jehan de Channey (França)

1ª Hora

“Um tema dos nómadas da região do Kordofan, no Sudão, uma canção que exalta a beleza da aurora proveniente do Alto Egipto e um poema litúrgico dos Judeus do Noroeste Africano. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Abdel Gardir Salim All-Stars (6) Almaryood (4,46) “The Merdoum Kings play Songs of Love”
(2) Ganoub (10) Leli (6,26) “… en arabe veut dire Sud”
(3) Alain Chekroun & Taoufik Bestandji (3) Rahamekha (1,21 – 9,12) (7,51) “Chants des Synagogues du Maghreb”

(Separador)

“Ali Ibrahim Touré nascera em 1939, na aldeia de kanau, junto ao rio Níger, no nordeste do Mali; este ano, foi vencido pela morte, aos 67 anos de idade e 55 de carreira de sucesso. O sobrenome “Farka” (que quer dizer “burro”, isto é, “teimoso”), advém-lhe do facto de ter sido o primeiro filho dos seus pais a sobreviver à infância (nove irmãos haviam morrido antes de ele nascer). Apesar de ser de origem nobre, fazendo parte da etnia Arma, Ali Farka Touré não frequentou a escola e foi educado no campo. No entanto, muito cedo se interessou pela música. Começou por ganhar proeminência no Mali, nos anos 60, com a Orquestra da Rádio Mali, descobriu os blues, através da música de John Lee Hooker, mas só em 1976, quando contava já 37 anos, é que lançou o seu primeiro disco. Ligou-se então à editora inglesa World Circuit, resultando desse contrato nove álbuns: “Ali Farka Touré” (1988), “The River” (1990), “The Source” (1992), “Talking Timbuktu” com Ry Cooder (1994) com o qual ganhou um grammy, “Radio Mali” (1996), “Niafunké” (1999), “Red & Green” (duplo constituído por dois discos originalmente editados em vinil em 1979 e 1988) (2004), “In the Heart of the Moon”, com Toumani Diabaté (2005) e, finalmente, “Savane” (2006), editado após a sua morte.
Ao longo dos anos, fomos seguindo com atenção a carreira deste génio maliano, dedicando-lhe programas, cada vez que saía um disco seu. Faltava apenas debruçarmo-nos sobre “Savane”, o que, com justiça, acontece agora. Saído das mesmas sessões que originariam o álbum com Toumani Diabaté, “Savane” aproxima-se das texturas hipnóticas de “Niafunké”, sobretudo pela exímia utilização da njarka (violino de uma corda) e de “Talking Timbuktu” com Ry Cooder , pelo tom bluesy, principalmente do tema título. Delicado e sedutor “Savane” afigura-se-nos, desde já, como um dos mais importantes álbuns de World Music deste ano.


(5) Savane (7,43)
(10) Hommage a Anassi Coulibaly (5,05)
(1) Ewly (4,32)
(T.T. 17,00)

(Separador)

“Uma homenagem libanesa à famosa cantora de rembetiko Rita Abadzi; uma peça senegalesa que aproxima as raízes griot dos Mandingas e a produção contemporânea e um tema guineense sobre a importância do conhecimento e da sua transmissão. São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
1. Abaji - (3) For Rita (4,11) “Oriental Voyage”
2. Cissoko - (7) Miro (5,38) “Diam (la paix)”
3. Mory Kanté – (8) Loniya (6,05) “Sabou”

2ª Hora

“Música medieval da Noruega, França (séc. XII) e Catalunha (séc. XII)”
1. Agnes Buen Garnas - (9) Grisilla (7,15) “Rosensfole: Medieval Songs from Norway”
2. Oni Wytars - (6) Reis Glorios (5,24) “Amar y trobar: El Misterio en la Edad Media “
3. Els Trobadors – (8) I. Lanqand li jorn (4,43) “Et ades será l’alba”
(T.T. 17,22)


(Separador)

““O Ensemble Jehan de Channey, sediado em Avignon, dedica-se desde 1982 à interpretação dos repertórios da Idade Média e da Renascença. Quatro anos após a sua fundação, o grupo abriu um atelier para transmitir o gosto e a ciência da música antiga; em 1987, constituiu um grupo de dançarinos para criar nos seus espectáculos a ambiência medieval ou renascentista. Com várias edições pela De Plein Vent, o Ensemble Jehan de Channey é agora recuperado pelas edições Frémeaux & Associés.
O registo “Chants & Musiques du Moyen-Âge”, que agora se encontra disponível, reúne dois CDs representativos do interesse do Ensemble Jehan de Channey pela Idade Média: o primeiro intitula-se “Trouvères et Troubadours du XIII siècle” e o segundo “Cantigas de Santa Maria / Carmina Burana”.
Desde o séc. XI, uma poesia nova, o Trobar, surge na pena de Guilhem de Poitiers, duque da Aquitânia (1071-1126), o primeiro trovador. A partir daí emergia uma nova primavera de divertimento, amor e juventude, sem complexos, cheia de exuberância e na sua língua materna, a língua d’Oc ou Occitana. Esta poesia é cantada e declamada com toda a liberdade pelos troubadours do sul do Loire, de Limousin à Aquitânia e de Auvergne à Provença, ocupando todo o centro da França. Celebrizaram-se, por exemplo, Bernard de Ventadorn, Bernard de Born, Guiraut de Bornell, Peire Vidal... Paralelamente, no norte de França, surgiram, no século XII, os trouvères, na região parisiense e da Champagne a partir da corte de Thibaut IV, conde da Champagne e de Brie. Tal como os homólogos do sul, cantavam o amor cortês, mas faziam-no na língua d’Oil; celebrizaram-se, entre outros, Gautier de Coinci, Colin Muset, Gace Brulé, Conon de Béthune... Estes poetas-cantores são o alvo do primeiro CD de “Moyen-Âge: Chants & Musiques – XIII”.
No segundo CD, o grupo debruça-se sobre As Cantigas de Santa Maria e sobre Carmina Burana. As Cantigas de Santa Maria, num total de 426 obras dedicadas à Virgem, foram compostas na segunda metade do século XIII, por volta de 1250-80, sob a direcção do então rei de Castela, Afonso X, el sábio (1221-1284). Pela sua coerência temática e formal, pela sua homogeneidade estilística, pelo seu número e até pela beleza dos próprios manuscritos que as contêm (alguns deles com luxuosas miniaturas), esta colecção tornou-se num fenómeno particular na história da música medieval e constitui o cancioneiro com mais variedade de temas acerca da Virgem Maria em toda a Europa. A colectânea de canções, editada em 1847 pelo linguista Johan Andreas Schmeller a que chamou Carmina Burana devido ao respectivo local de origem (o Mosteiro beneditino de Benediktbeuren), datava de cerca de 1300 e continha poesia trovadoresca, sobretudo em latim. A maior parte dos poemas é de temática profana e de origem predominantemente goliardesca: daí o lado fortemente satírico ou claramente desbragado de alguns textos, com a sua celebração muito pagã dos prazeres do vinho, da gula e do deboche, que não excluem, aliás, a profunda interioridade das peças (quantitativamente minoritárias) de inspiração sacra.


I (19) (4,33) / II (8) (3,38) / I (25) (2,04) / II (11) (3,13) / I (13) (3,50) / II (18) (2,52) (T.T. 20,10)

(Separador)

“Uma sibila Latina do séc. X e uma melodia judaica de Marrocos, do séc. XII”.

(1) Montserrat Figueiras (2) Femina Antiqua (10,14) “Lux Feminae”
(2) Meirav Ben David-Harel/ Yaïr Harel/Nima Ben David/ Michèle Claude (Israel) - (1) Yedidi …(7,11) “Yedid Nefesh: Amant de mon ame”
(T.T. 17.25 )