2010/04/12

Ali & Toumani (Mali) / Ensemble Cantilena Antiqua (Itália)

“Um casamento perfeito entre as vozes do Gabão e a música clássica europeia; um canto de encorajamento ao trabalho, da Costa do Marfim; um tema inspirado nos cânticos dos pigmeus da África Central; uma variação baseada nas melopeias tradicionais dos nativos americanos; e uma melodia dos índios Shawnee (EUA), habitualmente entoado no final das colheitas. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.
(1) Lambarena (Gabão/Alemanha) (2) Sankanda+Lasset uns den nicht zerteilen (5:00) “Bach to Africa”
(2) Nipa (Ghana) (13) Adjiman Mo (2:12) “Ghana a Capella”
(3) Zap Mama (Bélgica/Zaire) (1) Mupepe (3:50) “Zap Mama”
(4) Faraualla (Itália) (8) Spirits (2:22) “Faraualla”
(5) Yaki Kandru (Colômbia) (9) Canto de los Shawnee (2:16) “Music from the Tropical Rainforest & Other Magic Places”

(Separador)

Ali Farka Touré nascera em 1939, na aldeia de kanau, junto ao rio Níger, no nordeste do Mali e, aos 67 anos de idade e 55 de carreira de sucesso, foi vencido pela morte. Começou por ganhar proeminência no seu país natal, depois em toda a África Ocidental e, finalmente, no resto do mundo, graças a um contrato com a editora inglesa World Circuit, do qual resultaram dez álbuns, alguns deles em parceria. Celebrado como o John Lee Hooker africano, Ali Farka Touré venceu um grammy graças a “Talking Timbuktu” (1993), álbum gravado em Los Angeles com Ry Gooder, e outro graças a “In the Heart of the Moon” (2005), com Toumani Diabaté, troféus que acrescentou a outros já ganhos anteriormente no Mali.
Toumani Diabaté, de 50 anos de idade, é conhecido como o maior tocador de kora do planeta, a harpa de 21 cordas que tantas vezes aqui divulgámos. Descendente há 71 gerações dos griots mandinka, os contadores de histórias do ocidente africano, Toumani Diabaté foi promovido ao mercado World Music ocidental graças à sua colaboração com os espanhóis Ketama em “Songhai” e “Songhai 2”. Em 99, Toumani Diabaté encetaria novas parcerias: com Ballaké Sissoko e com Taj Mahal, das quais resultaram respectivamente os brilhantes álbuns “New Ancient Strings” e “Kulanjan”, aqui atempadamente destacados.
Em 2005, Ali Farka Touré e Toumani Diabaté criaram o fabuloso “In the Heart of the Moon”, vencedor de um grammy, e, em 2010, regressam com “Ali & Toumani”, um álbum gravado pouco antes da morte de Ali Farka Touré. Para a sua realização contam com a contribuição de Orlando "Cachaíto" López no baixo, Vieux Farka Touré nas congas e vocais, Souleye Kane e Ali Magasa nas vozes e Tim Keiper na percussão. Tal como em “In the Heart of the Moon”, o que podemos ouvir em “Ali & Toumani” são complexas tapeçarias musicais, tecidas através de sinuosos mas sempre dialogantes improvisos, que se entrecruzam com uma elegância e espiritualidade transcendentes. Desta vez maioritariamente instrumental, “Ali & Toumani” revela-nos os dois mais importantes músicos do Mali ao seu melhor nível. Edição da World Circuit e distribução da Megamúsica.
Mais informações em: http://www.worldcircuit.co.uk/#Home

(03) Be Mankan (5:07)
(10) Machengoidi (5:01)
(09) Fantasy (2:15)
(01) Ruby (5:50)

(Separador)

“Temas populares nostálgicos provenientes do Peru e do México; um bolero de Cuba; um diálogo entre as tradições do Senegal e das Caraíbas; e um tema tradicional de Cabo Verde. São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Susana Baca (Peru) (3) Heces (2:48) “Susana Baca”
(2) Lila Downs (México) (10) Paloma Negra (4:30) “Una Sangre One Blood”
(3) Buena Vista Social Club (Cuba) (7) Veinte años (3:32) “Buena Vista Social Club”
(4) Orcherstra Baobab (Senegal) (7) Hommage à Tonton Ferrer (5:52) “Specialist in all Styles”
(5) Simentera (Cabo Verde) (1) Ami Xintadu (4:32) “Tradictional”


2ª Hora

“Um poema árabo-andaluz do século XI; um hino religioso bizantino à Virgem Theotokos; e uma Cantiga de Santa Maria do século XIII, de Afonso X, de Castela.”
(1) Jon Balke/Amina Alaoui (Noruega/Marrocos) (3) Jadwa (5:18) “Siwan”
(2) Sophia Papazoglou (Grécia) (13) At the Beauty of your Virginity (8:22) “World Festival of Sacred Music Europe”
(3) Ensemble Wayal (França/Espanha) (13) A que por nos salvar (4:11) “Cantigas et Romances: Chants d’amour et de sagesse (XIe-XIVe siècles)”

(Separador)

O Império Carolíngio marca um momento importante na história da poesia e da música medieval do ocidente europeu. No manuscrito Lat 1154, da Aquitânia, escrito entre o final do século IX e o início do século X, agora guardado em Paris, encontraram-se uma série de composições, algumas delas com notação musical, relacionadas com factos históricos do tempo de Carlos Magno. Constitui, assim, uma verdadeira compilação testamentária da cultura carolíngia e um precioso contributo para entendermos a música e a poesia do primeiro milénio.
Ainda que em reduzido número, as canções incluídas no manuscrito representam um importante “repertório” da época, oferecendo o conhecimento da tradição épica e do quotidiano, com fortes reminiscências da tradição latina clássica, nomeadamente de Virgílio, Horácio e Boécio. Com efeito, o período carolíngio foi fundamental para o renascimento de uma tradição clássica que as invasões bárbaras tinham interrompido. De facto, um conjunto de elementos da tradição greco-romana serviu de base para a emergência de uma nova cultura.
É sobre as produções poéticas e musicais do Império Carolíngio, que o Ensemble Cantilena Antiqua, se debruça no fabuloso registo “Epos: Music of Carolingian era” (Documenta, 2009). Fundado por Stefano Albarello em Bolonha (Itália), em 1987, e composto por músicos que se especializaram em realizar simultaneamente repertórios sagrados e profanos, o Ensemble Cantilena Antiqua encetou uma investigação cuidada em fontes musicais, na literatura e na história da época medieval, assegurando, o mais possível, uma fidelidade à tradição, de modo a preservar os sons e os estilos originais do período que abarcam. Naturalmente que o Ensemble Cantilena Antiqua faz uso de réplicas de instrumentos do tempo para aprofundar particularmente o aspecto do desempenho, nomeadamente as tibiae (flautas), a fidula (instrumento de cordas), a cithara, a lyra, o psalterium (dulcimer) e a percussão.
“Epos: Music of Carolingian era” contém, assim, preciosas relíquias de uma época musicalmente pouco explorada e quase nunca interpretada nos tempos modernos. Ouvi-lo significa uma oportunidade única para desfrutar do mais antigo repertório medieval profano que chegou até nós, bem como do seu encanto poético e sonoro.
Dos dois temas anónimos retirados do manuscrito Lat 1154 e incluídos em “Epos”, saliente-se Planctus Karoli ("Lamento [sobre] a morte de Carlos Magno"), um poema associado ao Renascimento Carolíngio em letras latinas e um elogio ao monarca Carlos Magno, escrito em verso, pouco depois da sua morte em 814. Também retirados de Lat 1154, incluem o disco dos Cantilena Antiqua dois poemas contemporâneos: Ut quid iubes pusiole de Godescalcus de Orbais (teólogo e poeta nascido na Saxônia, expulso do mosteiro de Fulda, após ter sido acusado de heresia), que aborda a sua grande angústia sobre o exílio; e Aurora cum primo mane de Agilbertus (poeta e diplomata de ascendência franca, que passou os seus primeiros anos na corte de Carlos Magno e, mais tarde, se tornou abade em Saint-Riquier), que retrata a batalha de Fontenoy. De Boécio (Severinus Boethius, c. 475 a 480 - 524), filósofo, estadista e teólogo romano (cuja reavaliação da sua figura e obra se deve à dinastia carolíngia) estão incluídos em “Epos” duas composições do seu trabalho “De philosophiae consolatione”. De Horácio (Quintus Horatius, 65 - 8 a.C.), poeta lírico, satírico e filósofo latino nascido em Venúsia (Itália), cuja obra exerceu forte influência sobre os autores renascentistas e classicistas em geral, estão incluídos os temas Albi ne doleas e Est mihi nonum retirados das Odes. De Virgílio (Publius Vergilius Maro, 70 - 19 a.C.), cantor da tradição criadora e conservadora da grandeza de Roma e o poeta mais conceituado do seu tempo estão em “Music of Carolingian era” os temas Aeneis Liber II e Aeneis Liber IV retirados da obra-prima Eneida, que, surpreendentemente, continha já fragmentos de música, constituindo, assim, um precioso documento que atesta o facto de que, no início da Idade Média, era uma prática comum cantar os versos desse monumental poema.
Mais informações em: http://web.tiscali.it/cantilenantiqua/

(02) Ut quid iubes pusiole (7:04)
(01) Bella bis quinis (6:16)
(07) Albi ne doleas (3:23)
(09) Est mihi nonum (3:49)

(Separador)

“Uma cantiga trovadoresca de Guilhem de Peitieu, do século XII; uma Canção de Trobairitz da Condessa Beatriz de Dia, também do século XII; e uma Cantiga de Amigo, de Martim Codax, o supremo trovador de Vigo, do século XIII. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.
(1) La Capella Reial de Catalunya/Hespèrion XXI/Jordi Savall (Espanha) - (I.11) Pos de chantar (6:06) “Le Royaume Oublié: La Croisade contre les Albigeois/La tragédie Cathare”
(2) Música Antiga da UFF (Brasil) (2) A chantar m’er de so q’ieu no volria (6:19) “A chantar: Trovadoras Medievais”
(3) The Dufay Collective (Inglaterra) (13) Mandad’ei comigo (5:52) “Music for Alfonso the Wise”.