2009/12/27

Samba Touré (Mali) / Zefiro Torna (Bélgica)

“Uma canção tradicional grega, proveniente das ilhas orientais do mar Egeu e do litoral da Ásia Menor; um texto sagrado hebraico; uma variação sobre um tema albanês; e uma interpretação de um tema popular russo; São as Heresias que abrem hoje as portas do Templo”.
(1) Theodora Baka (Grécia) (11) Sto pa kai sto xanaleo (4:03) “Myrtate: Traditional Songs from Greece”
(2) Ruth Wieder Magan (Austrália/Israel) (1) Roza DeShabbos (4:59) “Songs to the Invisible God”
(3) Nomad (França) (3) Alba (4:33) “Ciguri”
(4) Faraualla (Itália) (9) Spondo 2:39) “Faraualla”

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Proveniente de Dabi, uma pequena aldeia no Norte do Mali, Samba Touré assume-se como o legítimo herdeiro de um dos melhores guitarristas de todos os tempos, o também maliano Ali Farka Touré (falecido em 2006). Com efeito, o "John Lee Hooker africano”, inventar do "blues do deserto", grande embaixador musical/cultural da África e vencedor de um Grammy ensinou a Samba, ao longo dos anos, tudo o que sabia sobre música. Deu-lhe, inclusivamente, a oportunidade de se juntar à sua banda na tournée que fez em 1997 e produziu o seu álbum de estreia, Fondo, em 2004. Foi, ainda, Ali Farka Touré que encorajou Samba a olhar para as suas raízes e a estabelecer a sua própria identidade, em vez de seguir as modas passageiras. Quando Samba Touré iniciou a sua carreira como elemento do grupo Farafina Lolo e passava o seu tempo a adaptar ritmos de dança do Congo, seguiu os conselhos e a ajuda de Ali Farka Touré e começou a aprimorar o som do blues africano e a criar o seu próprio estilo.
A música de Samba, baseada na tradicional do Mali, apresenta naturais semelhanças com as do seu mentor, mas revela-se mais cadenciada que a tuaregue dos seus irmãos malianos Tinariwen, Tartit e Toumast e tem um toque de leveza e consideravelmente mais velocidade do que a da maioria dos tocadores de blues do deserto. Por outro lado, a instrumentação que Samba utiliza, baseada nos sons do sokou (violino tradicional), do gnoni (guitarra de quatro cordas), do tamani, calabash e outras percussões, de flautas e do baixo eléctrico, permite-lhe mergulhar por sonoridades imaginativas e até inovadoras.
Em 2009, o cantor e guitarrista de 41anos reúne um grupo de talentosos músicos de apoio (que o acompanharam ao longo dos anos), mergulha na cultura tradicional Songhai e nas suas próprias experiências pessoais, entra em estúdio e grava Songhai Blues: Homage to Ali Farka Touré (World Music Network 2009/Megamúsica).
Constituído por treze faixas, entre temas retirados da sua primeira gravação apenas lançada no Mali, canções do registo de 2007, Aïto, e composições novas, Songhai Blues revela-se como um álbum empolgante para os fãs de blues do deserto e para os que gostam da música do Oeste Africano em geral. Como que um compêndio e uma autêntica viagem através da envolvente e rica tradição musical do Mali, Songhai Blues integra ritmos intensos, festivos e, muitas vezes, difíceis de seguir, tal como os de Ali Farka Touré ou John Lee Hooker. Assume-se, naturalmente, como um dos melhores discos de World music do ano.
Mais informações em: http://www.samba-toure.com/

(05) Yawoye (4:33)
(02) Foda Diakaina (4:34)
(04) Bila (5:06)
(10) Goye(5:33)

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“Uma demonstração das potencialidades do tambur do Uzbequistão; um tema da música clássica iraniana; e um canto feminino dos haréns dos palácios dos sultões otomanos. São as sonoridades que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Hector Zazou & Swara (Argélia/Uzbequistão/Índia) (1) Zannat (4:49) “In the House of Mirrors”
(2) Khatereh Parvaneh (Irão) (I-3) Dastgah of Shour (10:35) “Echos du Paradis: Sufi Soul”
(3) Ensemble des femmes d’Istanbul (Turquia) (8) Ud Taksin (6:41) “Chants du Harem”

2ª Hora

“Um poema épico sobre a visão de uma profetiza que narra a criação do mundo, a chegada dos deuses, a morte do filho de Odin e a destruição do mundo de Ragnarok; uma história sobre uma filha que esconde, ao seu pai discordante, uma criança fruto de uma relação ilícita; e uma balada sobre uma criatura chamada “Lindormen” que se transforma em príncipe e, através do amor, adquire a forma humana. A música medieval da Islândia, Noruega e Suécia abre as portas da 2.ª hora do Templo das Heresias.”
(1) Sequentia (Alemanha) (3) Ti Prophecy of the Seeress (10:10) “Myths from Medieval Iceland”
(2) Agnes Buen Garnas/Jan Garbarek (Noruega) (4) Maalfri mi fruve (5:12) “Rosensfole: Medieval Songs from Norway”
(3) Wisby Vaganter (Suécia) (13) Lindormens Wisa (5:10) “Gotlandz Wiisa: Medeltida musik”

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Zefiro Torna é um ensemble oriundo da Flandres (Bélgica), cujo nome expressa, de forma alegórica, como o deus mitológico do vento do Oeste, Zephyrus, conseguia sempre expulsar os Invernos frios.
Formado em 1996, o grupo Zefiro Torna é constituído por Els Van Laethem e Cécile Kempenaers (voz), Liam Fennelly (viola da gamba, vihuela) e Jurgen De bruyn (alaúde, guitarra e direcção artística), músicos que se distinguiram em grupos como Huelgas Ensemble, Collegium Vocale, La Capilla Flamenca e Het Muziek Lod. Consoante o programa, assim o ensemble se complementa com diferentes vocalistas e instrumentistas da Bélgica, Holanda, França e Itália.
Baseando-se no respeito profundo pelo passado e apoiando-se em apurados estudos musicológicos, os Zefiro Torna fazem renascer, de forma única, o património cultural, sobretudo o medieval, renascentista e barroco. Não admira, por isso, que o grupo opte por utilizar instrumentos autênticos e técnicas históricas de canto, interpretação e improvisação, embora acrescentem, naturalmente, os seus próprios elementos criativos.
Os Zefiro Torna editaram, até à data, seis registos: "Mermaphilia" (2002, Eufoda), cujos textos históricos evocam o mundo imaginário da Sirena; "El Noi de la Mare" (2004, Et’Cetera), galardoado, em 2005, com o prémio "Klara Muziekprijs" para o Melhor Disco da Flandres, Melhor Produção de Música Clássica e "Prémio do Público"; "Les Tisserands" (2006 Homerecords), em que textos medievais e melodias de trovadores como Macabrun e Miraval coabitam com melodias contemporâneas de Jowan Merckx; De Fragilitate: Piae Cantiones (2007 Et’Cetera), uma colecção de cantos escolares e cânticos religiosos provenientes da Finlândia medieval, premiado com o prestigiado Diapason d’Or; Greghesche (2008 Et’Cetera), um tesouro musical da Renascença veneziana; e Assim (2009 Homerecords), uma co-produção em que Dick van der Harst escreveu uma composição baseada nos trabalhos de Jacob Obrecht e na tradição dos gamelões de Java.
O disco que aqui se destaca é o brilhante “De Fragilitate (Hymns from medieval Finland)”, baseado na compilação Piae Cantiones ecclesiasticae et scholasticae veterum episcoporum, com 74 canções em latim da Idade Média tardia, reunidas por Jacobus Finno e publicada em 1582 pelo aristocrata finlandês Theodoricus Petri Nylandensi.
Muitas das canções e melodias de “Piae Cantiones” são originárias da Europa Central mas algumas parecem ter sido escritas em países nórdicos. Existe uma controvérsia sobre se a obra total deva ser atribuída à Suécia ou à Finlândia, uma vez que, na altura da publicação, a Finlândia era parte integrante da Suécia.
Apesar de ter sido publicada em 1582, a melodia de Piae Cantiones é medieval por natureza. A tradução finlandesa de Piae Cantiones por Hemming of Masku é considerada a primeira obra de hinos da Finlândia, ainda que Piae Cantiones seja mais um produto da cultura católica medieval que um produto de uma só nação.
As letras das composições incluídas na colecção Piae Cantiones, executadas na época em diversas escolas catedrais finlandesas, testemunham de forma moderada a Reforma Protestante no Norte da Europa. Apesar de algumas nuances católicas terem sido retiradas, muitas canções ainda carregam traços fortes do culto a Maria, Mãe de Jesus, e actualmente são ainda utilizadas como canções de Natal, nomeadamente Personent hodie e Tempus adest floridum.
As canções de Piae Cantiones continuaram a ser populares nas escolas finlandesas até ao século XIX mas, gradualmente, foram caindo em desuso. No entanto, um novo interesse pela música antiga tornou a colecção muito popular na Escandinávia e surge agora como repertório padrão de vários coros finlandeses e suecos.
Zefiro Torna interpreta as Piae Cantiones com réplicas de instrumentos do século XV e é acompanhado por Jowan Merckx (gaita de foles e guizos), Frank Van Eycken (percussão), pelo finlandês Timo Väänänen (do grupo folk Loituma, que toca kantele nórdico) e por um grupo de vozes do Antwerp Cathedral Choir, sob a direcção de Sebastiaan Van Steenberge.
Mais informações em: http://www.zefirotorna.be/

(06) Personent Hodie (1:30)
(21) Tempus Adest Floridum (1:42)
(15) Scholares Convenite (3:35)
(18) Sum In Aliena Provincia (2:25)
(16) Zachaeus Arboris (1:35)
(14) Cum Sit Omnis Caro Foenum (3:02)
(12) Kurja, Paha Syntinen (4:44)
(20) In Vernali Tempore (2:43)

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“Com poemas de Rodolphe de Fénis-Neuchâtel, Blanche de Castille e Walther von der Vogelweide, trovadores europeus medievais, encerramos o Templo das Heresias de hoje”.
(1) Ensemble Lucidarium (Suíça) (6) Gewan ichze minnen ie guoten wan (6:36) “Troubadours & Minnesänger”
(2) Ensemble Perceval (França) (14) Amour ou troptard (5:27) “Minnesänger Troubadours Trouvères”
(3) Dekameron (Polónia) (13) Under der linden (4:53) “A Tale of Medieval Love”
(4) Ensemble für frühe Musik Augsburg (Alemanha) (8) Under der linden an der heide (3:13) “Trobadors Trouvères Minnesänger”

2009/11/30

Bassekou Kouyate & Ngoni ba (Mali) / Música Antiga da UFF (Brasil)

“Uma composição baseada nas tradições dos Fula do sul do Senegal; um tema que remonta às origens da highlife do Gana, interpretado na seprewa, instrumento de cordas semelhante à kora; e um convite da Guiné Conákry para visitarmos Kindia, a terra da fruta e da abundância São as Heresias que abrem hoje as portas do Templo”.
(1) Daby Balde (2) Lalé Kouma (4:54) “Le Marigot Club Dakar”
(2) Seprewa Kasa (7) Agyese Wobre (8:40) “Seprewa Kasa”
(3) Les Amazones de Guinée (7) Kania (4:57) “Wamato”

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“Eu ouvi o futuro: chama-se Bassekou Kouyate...”. Esta afirmação de Mingus Formentor (La Vanguardia - Espanha) traduz a importância do músico maliano que a BBC Radio 3 considerou como o melhor artista africano de 2008.
Natural de uma pequena aldeia situada a 40 quilómetros da cidade de Segu, nas margens do Níger, Bassekou Kouyate cresceu no ambiente da música tradicional: a sua mãe era cantora e o seu pai e irmãos excepcionais músicos de ngoni (um antigo alaúde tradicional oriundo da África Ocidental). A partir dos 19 anos, passou a viver em Bamako e, no final dos anos oitenta, fez parte do “Symmetric Trio”, ao lado de Toumani Diabaté (kora) e Keletigui Diabaté (balafon). Colaborou, posteriormente, com diversos músicos da sua terra natal e importantes nomes da cena internacional, tendo sido, por exemplo, um dos principais músicos do álbum póstumo de Ali Farka Toure, “Savane”.
Ao formar Ngoni ba, um quarteto de “ngoni”, Bassekou Kouyate introduziu variadas inovações na tradicional forma de tocar o instrumento, acrescentando um ngoni-baixo e adicionando cordas extra para o tornar mais harmonicamente flexível. Conseguiu, assim, produzir um som acústico arrebatador, como que ancestral dos “blues” e os resultados são surpreendentes.
Em 2007 edita o seu primeiro álbum a solo, o sensacional “Segu Blue”, gravado em Bamako por Yves Wernert e misturado em Londres por Jerry Boys, que conquistou o Prémio BBC para "Melhor Álbum World do Ano" e "Melhor Espectáculo Africano", em 2008.
“I Speak Fula” (out/here, 2009), o segundo álbum de Bassekou Kouyate com a banda Ngoni ba, é um passo em frente na carreira do mestre maliano do ngoni. Uma vez mais, os excitantes solos dos ngoni vão desfilando sobre as percussões, as hipnóticas texturas vão-se entrelaçando e formando belíssimas melodias e as vozes, sobretudo a de Amy Sacko (a esposa de Kouyate), ao mesmo tempo, suaves e poderosas, vão aveludando e enriquecendo as composições. Contando com as preciosas colaborações dos consagrados Toumani Diabate, Kasse Mady Diabate e Vieux Farka Toure, “I Speak Fula” arrisca-se, indubitavelmente, a frequentar os lugares cimeiros das listas dos melhores álbuns do ano.
Mais informações em: http://www.myspace.com/bassekoukouyate

(02) Jamana Be Diya (4:56)
(06) Amy (4:29)
(08) Ladon (5:27)
(10) Falani (5:42)

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“Uma canção de embalar do Zimbabwe; uma melodia que mistura instrumentos orientais (como os steel drums, instrumentos de percussão do Oeste da Índia) e africanos (como o sinding, harpa de cinco cordas do oeste do continente) com sonoridades tipicamente europeias; e um tema dos Seri de Sonora (México), habitualmente entoado nas cerimónias de nascimento. São as sonoridades que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Stella Rambisai Chiwesche (14) Chitsidzo (3:03) “African Lullaby”
(2) Stephan Micus (Alemanha) (4) Mikhail’s Dream (8:20) “Desert Poems”
(3) Yaki Kandru(Colômbia) (3) Canto de los Seri… (2:34-7:24) “Music from the Tropical Rainforest & other magic places”


2ª Hora

“Um poema dramático de atmosfera onírica de Federico García Lorca (Espanha); uma canção de embalar da tradição sefardita de cerca de 1500, proveniente de Marrocos; e um romance documentado pela primeira vez em 1702, inspirado num tradicional da Grécia. O maravilhoso universo vocal feminino abre as portas da 2.ª hora do Templo das Heresias.”
(1) Arianna Savall (Suíça) (6) Canción de la muerte pequeña (8:42) “Peiwoh”
(2) Montserrat Figueras (Espanha) (4) Nani, nani (6:00) “Ninna Nanna”
(3) Savina Yannatou & Primavera en Salonico (Grécia) (2) El sueño de la hija del rey (4:50) “Canciones populares sefardíes”

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O ensemble brasileiro Música Antiga da UFF surgiu em 1981 com o objectivo de investigar e de transmitir a música, a cultura e a visão do mundo da Idade Média e do Renascimento. Para fazer face às naturais dificuldades de conhecimento de um repertório com tão escassas fontes e tão distante no tempo (sobretudo para músicos de um país que existe como tal, apenas a partir de 1822), os membros do grupo trabalharam na pesquisa bibliográfica e discográfica disponíveis na actualidade. Por outro lado, muniram-se de réplicas dos instrumentos utilizados naqueles períodos, de modo a que a sua produção se aproximasse, o mais possível, do ideal sonoro da época.
Ao longo de quase três décadas de existência, os integrantes do grupo Música Antiga da UFF estudaram nos EUA e na Europa, adquiriram novos instrumentos, partituras e conhecimentos e especializaram-se na linguagem da música medieval e renascentista. Desde então, deram mais de 500 concertos por todo o Brasil, participaram em programas de rádio e televisão, criaram bandas sonoras e videoclips, organizaram cursos, festivais e feiras renascentistas e editaram seis discos extraordinários: "Lope de Vega - Poesias Cantadas" (1995), com poemas cantados de Lope de Veja (nascido em Madrid, em 1562), de finais do século XVI e inícios do XVII; "Cânticos de Amor e Louvor" (1997), com cantigas de amigo do supremo trovador de Vigo, Martin Codax, e com cantigas de louvor a Santa Maria de Afonso X, o Sábio, rei de Castela (1252-1284); "Música no Tempo das Caravelas", que se incluiu nas comemorações dos 500 anos da conquista da América, uma vez que as músicas seleccionadas são exemplos das que animavam os serões palacianos em Portugal e Espanha, ao tempo das descobertas ultramarinas; “O Canto da Sibila” (2001), gravado ao vivo, que apresenta peças do cancioneiro de Upsalla, algumas cantigas de Santa Maria, peças de Michael Praetorius e o Canto da Sibila; "A Chantar - Trovadoras Medievais”, o resultado do interesse do ensemble Música Antiga da UFF em conhecer e mostrar um pouco do passado literário-musical feminino, na França medieval, através das obras da Condessa Beatriz de Dia, Maroie de Dregnau de Lille, Dame du Fayel e Blanche de Castille, incluindo também danças instrumentais francesas e italianas, de autores anónimos; e “Medievo-Nordeste” (2004), um original trabalho de interacção entre a música medieval ibérica e músicas do folclore brasileiro, principalmente do Nordeste.
Mais informações em:
http://musicaantigadauff.zip.net/
http://www.uff.br/centroarte/musicaantiga.htm
http://www.niteroiartes.com.br/exibe_artistas.php?idartista=376&opc=1

(05) Ondas do mar de Vigo (3:26) "Cânticos de Amor e Louvor"
(02) A chantar m’er de so q’ieu no volria (6:19) "A Chantar”
(12) Santa Maria strela do dia (2:32) "Cânticos de Amor e Louvor"
(04) Amours, u trop tart me sui pris (2:27) "A Chantar”
(03) Mandad’ei comigo (4:39) “Medievo-Nordeste”
(13) Non sofre Santa Maria (4:34) “Medievo-Nordeste”

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“Uma Cantiga de Santa Maria de Afonso X de Castela, do século XIII; um poema do mesmo século do trovador Gautier d’Épinal de Lorraine (França); e uma belíssima simbiose das várias sensibilidades presentes na Andalusia medieval. São os sons que encerram o Templo das Heresias de hoje”.
(1) Antequera / Johannette Zomer (Holanda/…) (5) Virgen Madre groriosa (6:11) “Cantigas de Santa Maria: Eno nome de Maria”
(2) Ensemble Syntagma (Rússia/…) (10) Toz esforciez (6:34) “Touz Esforciez: Trouvères en Lorraine”
(3) Orchestra Arabo-Andalusa di Tangeri (Marrocos/…) (I-3) Secondo Quadro (7,08) “Incontro a Tangeri”

2009/10/11

Lhasa (México) / Paulina Ceremuzynska & Meendinho (Polónia/Espanha)

“Da Polónia surge um lamento de um jovem moribundo ferido na guerra, da Jugoslávia um encontro feliz entre a tradição e a modernidade, da Hungria uma canção sagrada, da Bulgária uma balada habitualmente entoada na altura das colheitas e da Rússia um canto normalmente interpretado nos casamentos. São as Heresias que abrem hoje as portas do Templo”.
(1) Warsaw Village Band (13) Lament (2:30) “Uprooting”
(2) Boris Kovac (2) Noon at Ural (3:58) “Ritual Nova II”
(3) Irén Lovász (5) Márton Szép Ilona (2:05) “Rosebuds In a Stoneyard”
(4) Stefka Sabotinova (11) Mir Stankele (0:18-3:07) “Le Mystère des Voix Bulgares”
(5) Dmitri Pokrovsky Ensemble (5) Pine Tree (2:44) “The Wild Field”

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Filha de um escritor mexicano e de uma fotógrafa e antiga actriz americana, Lhasa de Sela passou grande parte da sua adolescência a viajar numa carrinha com os seus pais e com duas irmãs, pela costa norte-americana e fronteira com o México, onde passa a residir. Aos 25 anos muda-se para o Canadá, onde conheceu o guitarrista Yves Desrosiers, com o qual escreveu os temas que iriam compor o seu primeiro registo de originais, “La Llorona”, pleno de sentimento e sensualidade, em que Lhasa canta em espanhol sobre paisagens sem nome, assombradas pelos blues, pela música cigana, pelos ritmos sul-americanos e pelo cabaret.
Seis anos mais tarde, a cantautora apátrida edita “The Living Road”, optando por diversificar o som e os instrumentos utilizados, cantar em espanhol, inglês e francês e afastar-se das sonoridades do primeiro registo, numa possível alusão à sua adolescência de constante itinerância. Se no primeiro álbum, Lhasa contou com a co-autoria de Yves Desrosiers, no segundo registo as participações estenderam-se a Vincent Segal, Didier Dumoutier e Jérôme Lapierre.
Em 2009, Lhasa de Sela regressa com um registo simplesmente intitulado “Lhasa”, em que a sua voz comovente e bela percorre doze temas cheios de intensidade dramática, vislumbrando um México distante e etéreo construído por sentimentos de amor, desespero e melancolia profunda.
A voz de Lhasa, aqui suficientemente destacada (aquando da edição dos seus dois primeiros registos, bem como das suas duas tournées em Portugal com passagem por Lisboa, Famalicão, Coimbra, Aveiro, Porto), continua a evidenciar uma grande sensibilidade, beleza e maturidade, pelo que não podíamos deixar de a divulgar de novo, ainda que o seu novo registo se revele manifestamente inferior aos anteriores.

(02) Rising (3:49)
(01) Is Anything Wrong (3:55)
(06) Fool’s Gold (3:01)
(03) Love Came Here (3:51)
(09) The Lonely Spider (3:18)

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“Um tema de Rembetiko, a música característica da Grécia, e duas versões de uma balada otomana, uma proveniente de Israel e outra da Turquia. São as sonoridades que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Martha Frintzila (II-2) Thalassa Lipisou (5:22) “The Diaspora of Rembetiko”
(2) Sara Alexander (2) Madré (6,18) “Café Turc”
(3) Istanbul Oriental Ensemble (2) Nihavent Oriental (6,49) “Sultan’s Secret Door”


2ª Hora

“Uma chanson de toile de um trovador anónimo, uma Cantiga de Santa Maria de Afonso X de Castela e uma Canção de Trobairitz da trovadora Condessa Beatritz de Dia. O universo musical dos séculos XII e XIII abre as portas da 2.ª hora do Templo das Heresias.”
(1) Duo Trobairitz (Inglaterra) (10) Bele Doette (9:04) “The Language of Love (Songs of the Troubadours and Trouvères)”
(2) Obsidienne (França) (4) Quen na Virgen (6:25) “Miracle! Cantigas d’Alfonso el Sabio”
(3) Delphine Aguilera/ Marc Bellity (França/Tunísia) (1) A Chantar (5:56) “Fin amor”

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Da rica tradição medieval em lírica profana galaico-portuguesa chegaram até aos nossos dias cerca de 1650 obras, das quais apenas 13 com notação musical. Conhecemo-las graças à descoberta dos manuscritos O Pergamiño Sharrer e o Pergamiño Vindel, ambos conservados pela sua utilização como material de encadernação de códices.
Da poesia trovadoresca, salientam-se as cerca de 500 Cantigas de Amigo, compostas entre 1220 e 1350, por um total de 88 poetas, que constitui o maior espólio de poesia amorosa de voz feminina que sobreviveu da Europa pré-renascentista e a mais antiga manifestação literária da nossa história.
As Cantigas de Amigo são poemas cujo sujeito poético é uma rapariga que se dirige à mãe, à irmã mais velha, à amiga, a um cavaleiro (mais raramente), à natureza (antropomorfismo) ou aos santos da sua devoção, para exprimir o seu amor, a sua angústia ou a sua saudade pelo seu amado, que designa habitualmente por amigo. A figura feminina que as Cantigas de Amigo retratam é, pois, a da jovem que se inicia no universo do amor, por vezes lamentando a ausência do amado, outras cantando a sua alegria pelo próximo encontro. Tratam-se, pois, de cantigas de origem popular, que tiveram as suas origens na Península Ibérica (Galiza e norte de Portugal), com marcas evidentes da literatura oral, nomeadamente pela utilização de recursos como as reiterações, o paralelismo, o refrão e o estribilho, próprios dos textos para serem cantados e que propiciam facilidade na memorização.

Depois das brilhantes interpretações dos La Batalla (Portugal), Ensemble Alcatraz with Kitka (EUA), Supramúsica (Espanha), Paulina Ceremuzyrska (Polónia), Fin’Amor (França), Martin Códax (Espanha) e Ensemble Cantilena Antiqua (Itália), as Cantigas de Amigo conhecem agora mais uma extraordinária versão, a do Grupo Meendinho.
Fundado pela musicóloga e cantora Paulina Ceremuzynska, o ensemble polaco-espanhol Meendinho, especializado na interpretação da música medieval, principalmente da procedente da tradição trovadoresca, aborda nos seus programas uma rigorosa e ao mesmo tempo criativa recuperação das músicas da Idade Média. Em 2006, editou o fabuloso registo E Moiro-me d’ Amor” (Cantigas de desexo e soidade), gravado na Rádio Galega e editado pela Secretaria Geral de Política Linguística, que integra dezasseis Cantigas de Amigo (de Nuno Fernandez, Lourenço xograr, Fernand’Esquío, Martin de Ginzo, Pero Meogo, Pai Gomez Charinho, Martin Codax e Meendinho). Apesar de só agora nos ter chegado às mãos, merece um justo destaque no Templo das Heresias.
(01) Vi eu, mia madr', andar (Nuno Fernandez) (2:26)
(02) Tres moças cantavan d'amor (Lourenço xograr) (3:58)
(03) Vayamos, irmana, vayamos dormir (Fernand'Esquío) (3:20)
(13) As ffroles do meu amigo (Pai Gomez Charinho) (3:16)
(08) Levous' a loaçana, levous' a velida (Pero Meogo) (3:08)
(09) Levad', amigo, que durmides as manhanas frias (Pero Meogo) (4:25)

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“Uma Ballata de um anónimo italiano do século XIV, uma balada do século XVI provavelmente de origem árabe, um tema inspirado no canto gregoriano e um texto da Galiza do século XIII encerram o Templo das Heresias de hoje”.
(1) Ensemble Syntagma (Rússia/França) (1) Che Ti Zova Nasconder (5:10) “Stylems, Italian Music from the Trecento”
(2) Begoña Olavide (Espanha) (1) Paseabase el rey moro (5:27) “Mudejar”
(3) Catherine Braslavsky (França) (12 ) Kyrie de la nuit (4,04) “Un jour d’ entre les jours”
(4) Stellamana (EUA) (3) Zephyrus (4,34) “Star of the Sea”

2009/08/02

Oumou Sangare (Mali) / Martín Códax (Espanha)

“Um tributo belgo-zairense às crianças, uma canção de embalar da Nigéria, uma demonstração das potencialidades do bolombatto (harpa oeste-africana de 4 cordas) por um músico alemão e um tema tradicional do Rwanda sobre a felicidade conjugal de um casal. São as Heresias que abrem hoje as portas do Templo”.
(1) Zapmama (15) Zap Bébés (últimos 1:35) “Ancestry in Progress”
(2) Floxy Bee, The Hikosso Queen (9) Oluronbi (4:15) “African Lullaby”
(3) Stephan Micus (1) Earth (0:05-6:24) “The Garden of Mirrors”
(4) Cécile Kayrebwa (1) Rwanamiza (5:59) “Rwanda”

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Nascida em Bamako, em 1969, Oumou Sangare começou por acompanhar a mãe, desde os cinco anos de idade, a cantar nas cerimónias de baptismo e casamento. No entanto, rapidamente seguiu o seu próprio caminho e, com 21 anos, tornou-se na primeira grande embaixadora da música do Mali, particularmente da região Wassoulou, no sul do país, onde predomina um estilo musical próprio e distinto do universo dos griots.
“Sangare Kono”, a voz de pássaro, uma das mais espantosas do mundo, decidiu cantar para comentar sobre todos os aspectos da vida no seu país, sobretudo os problemas sociais que as mulheres enfrentam diariamente, mas também da sensualidade do amor inexperiente, da dor do exílio, da necessidade de cultivar a terra e da fragilidade da vida humana. Poligamia, arranjo de casamentos, compra de noivas e excisão são alguns dos assuntos tabus abordados por Sangare nas suas canções.
Em 1990, Oumou Sangare editou “Moussolou” (Mulheres), em 1993 lançou “Ko Sira” e, em 1996, fez sair “Worotan”, os três para a etiqueta World Circuit, todos aqui atempadamente destacados no Templo das Heresias. Seguiu-se, em 2003, o lançamento do duplo CD “Oumou”, um álbum que recupera os 12 melhores temas dos seus três registos para a World Circuit e que inclui, ainda, 8 temas nunca antes editados em CD (nomeadamente 6 faixas da bem sucedida cassete “Laban”, apenas disponível no Mali).
Este ano (2009), Oumou Sangare regressa com "Seya" (Divertimento), que levou entre dois a três anos a ser preparado. A diva do Mali confessa que demorou tempo, por ter escolhido cuidadosamente as letras e as melodias, de forma a resultarem sedutoras, vibrantes e poderosas. E assim, Oumou prossegue a cruzada de continuar a encorajar a igualdade entre homens e mulheres e a cantar hipnoticamente temas universais como o amor, a morte, o destino, o respeito recíproco, a esperança, a harmonia e o divertimento.
Mais informações em: www.oumousangare.co.uk
www.worldcircuit.co.uk
(05) Kounadya (4:33)
(04) Donso (6:09)
(06) Senkele Te Sira (4:33)
(02) Sukonyali (6:01)


(Separador)

“Uma melodia zapoteca de devoção à alma, um tema de apelo ao sentimento, uma canção de amor sofrido e uma balada de uma jovem angustiada. A música sentida do México, no encerramento da 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Lila Downs (6) Xquenda (5:03) “Tree of Life”
(2) Chavela Vargas (2) Un Mundo Raro (Até 5:28) “En Carnegie Hall”
(3) El Negro Ojeda (I-11) Albur de Amor (3:37) Cuadernos de Mexico
(4) Astrid Hadad y los Tarzanes (3) Gritenme piedras del campo (3,04) “Ay!”


2ª Hora

“Um tema tradicional da Soria, uma canção de amor da corte de Viena (século XII), um poema trovadoresco de Giraut de Bornelh de Périgord (século XII) e uma cantiga de amigo do rei D. Sancho I de Portugal (século XII) abrem as portas da 2.ª hora do Templo das Heresias.”
(1) Vox Suavis (França/Espanha) (5) Que hermosa noche (3:36) “Vox Suavis”
(2) I Ciarlatani (Alemanha) (4) Der winter were mir ein zit (5:22) “Codex Manesse: Minnesinger of the Great Heidelberg Song Manuscript”
(3) Alba (Suécia/Dinamarca) (1) Reis glorios (9:20) “Songs of Longing & Lustful Tunes”
(4) Ensemble Perceval (França) (5) Ay eu coitada (1:45) “Minnesänger-Troubadours-Trouvères”

(Separador)

O grupo de música antiga Martín Códax, da Galiza, estuda e interpreta o repertório musical escrito, desde a Idade Média até ao Renascimento, dedicando especial atenção à composta nos séculos XII, XIII e XIV.
Desde a sua fundação, em 1993, o ensemble tem participado em numerosos acontecimentos musicais em toda a Espanha, nomeadamente em concertos, programas de rádio e televisão, congressos, feiras medievais, entre outros, com o propósito de divulgar a música medieval (sobretudo, a lírica galaico-portuguesa e, particularmente, a música relacionada com o “Caminho de Santiago”). Por outro lado, o grupo tem colaborado com editoras galegas na difusão da literatura medieval, destacando-se a sua participação na edição dos livros “Martín Códax” (Editorial Galaxia) e “O viño da Vida” (Editorial Xerais).
A discografia do ensemble Martín Códax mergulha exaustivamente nas manifestações musicais mais relevantes da Idade Média na Península Ibérica, nomeadamente nos códices, nos romances de peregrinação e na poesia trovadoresca do século XIII. Nas suas interpretações utilizam reproduções de instrumentos medievais (fídula, organistrum, harpa, guitarra mourisca, chirimía, darbouka...), construídos segundo os modelos que aparecem nas principais fontes iconográficas (nomeadamente no Pórtico da Gloria da Catedral de Santiago de Compostela e nas iluminuras das Cantigas de Santa Maria), bem como instrumentos tradicionais (sanfona, gaita, pandeiro...), procurando, assim, uma plena integração de todos os elementos para a realização de uma música viva e gratificante.
O projecto mais arrojado do ensemble Martín Códax chama-se “Devotio: Música para la Virgen y Santiago”, um duplo CD, com dois libretos de 48 e 52 páginas, respectivamente, editado pela etiqueta Cantus Records. O primeiro disco é dedicado a cantigas do século XIII e inclui treze Cantigas de Santa Maria, composições em galaico-português dedicadas à Virgem e que foram compostas por volta de 1250-80, sob a direcção do então rei de Castela, Afonso X, o sábio (1221-1284); sete Cantigas de Amigo do supremo trovador de Vigo, Martín Códax, as mais importantes da lírica trovadoresca galaico-portuguesa, que figuram no Cancioneiro da Vaticana e no Cancioneiro da Biblioteca Nacional, bem como no pergaminho Vindel; e três Cantigas de Escárnio, um género de poesia trovadoresca, cuja principal característica é a crítica ou sátira, escrita em galaico-português por jograis e menestréis. O segundo disco é dedicado às devoções e inclui nove canções do Codex Calixtinus ou Liber Sancti Jacobi, um conjunto de textos reunidos em Santiago de Compostela, que se apresentava como da autoria do Papa Calisto II (Século XII); quatro composições do Codex Huelgas, manuscrito medieval copiado no início do século XIV no mosteiro cisterciense de monjas de clausura de Santa Maria la Real de Las Huelgas, próximo de Burgos, que contém obras musicais pertencentes a um período da música medieval conhecido como Ars antiqua; duas canções do Llibre Vermell de Montserrat, um manuscrito iluminado contendo uma colecção de canções do final da Idade Média, escrito no século XIV e preservado no Mosteiro de Montserrat, nos arredores de Barcelona; e cinco Romances de peregrinação, nomeadamente a Santiago de Compostela.
Mais informações em:
http://www.martincodax.org/
http://www.cantus-records.com/
I (10) Pois que Deus (3:17)
(11) A madre de Deus (5:34)
(14) Ondas do mar de Vigo (3:01)
(17) Quantas sabedes amar amigo (2:30)
(15) Mandad'éi comigo (2:37)
II (14) Cuncti simus concanentes (3:25)


(Separador)

“Recuando ainda mais no tempo, o Templo das Heresias incide, no final do programa de hoje, nos sons da música do Antigo Egipto”.
(1) Ali Jihad Racy (Líbano) (2) The land of the Blessed (6:56) “Ancient Egypt”
(2) Michael Atherton (Austrália) (17) Shen(song) (5:02) “Ankh: The Sound of Ancient Egypt”
(3) Rafael Pérez Arroyo / Hathor Ensemble (Espanha) (3) Iba Dance (6:59) “Ancient Egypt: Music in the age of the Pyramids”

2009/05/24

Rokia Traoré (Mali) / The Renaissance Players Winsome Evans (Austrália)

“De Israel provém uma fusão perfeita entre as músicas de origem muçulmana e judaica e da Argélia uma improvisação no oud, o alaúde árabe. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.
(1) Yair Dalal (4) Al Ol (7:39) “Al Ol”
(2) Alla (5) Espérance (9:57) “Tanakoul”

(Separador)

Rokia Traoré é uma jovem do Mali que representa uma nova geração de artistas africanos que permanecem fiéis às suas raízes e que, simultaneamente, mantêm um olhar sobre as tendências do mundo moderno. Esta espécie de cantautora africana conhece bem os griots, mas também o jazz, a música clássica, o rock, os blues e a música indiana. De forma segura, Rokia Traoré tem seguido as tradicionais características das músicas do oeste africano, mas enveredado também por caminhos inovadores. Por vezes, arrisca combinações instrumentais únicas, quando, por exemplo, utiliza o balafon balaba (característico de Bélédougou, a sua região, no sul do Mali) e o n’goni (espécie de guitarra maliana, o instrumento favorito dos griots Bambara). Por outro lado, Rokia rejeita definitivamente a kora, o instrumento de cordas emblemático do oeste africano, substituindo-a por uma guitarra acústica.
Depois de aqui termos destacado Mouneïssa (1998), Wanita (2000) e Bowmboï (2003), a talentosa compositora maliana regressou com Tchamanché (2008), um registo onde, uma vez mais, inclui autênticas pérolas de depuração acústica, em que a delicadeza e simplicidade não se confundem com fragilidade. A guitarra eléctrica Gretsch, a harpa, o N’Goni, a voz sussurrante de Rokia, as letras na língua Bambara e os instrumentos clássicos, tudo em perfeita harmonia, criam uma atmosfera envolvente e hipnótica, fazendo de Tchamanché um dos discos do ano.


(05) Kounandi (6:20)
(01) Dounia (5:23)
(02) Dianfa (4:33)

(Separador)

“De Espanha provém um poema de Garcia Lorca, do Indostão uma composição do século XVI e da comunidade indiana de Inglaterra um tema de Ghazal, a forma suprema da expressão do amor. São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Camarón de la Isla (1) Nana del caballo grande (4:58) “Autorretrato”
(2) Ali Akbar Khan (4) Tarana (8:21) “Legacy”
(3) Najma Akhtar (4) Apne Hathon (5:36) “Qareeb”


2ª Hora

“Extraordinárias fusões entre a música antiga europeia e a tradicional indiana: Um canto gregoriano acompanhado pela sitar, um tema da Itália do século XIII cruzado com um canto devocional da Índia do Sul e um raga ocidentalizado.”
(1) Ustad Nishat Khan & Ensemble Gilles Binchois (7) Alleluia – Excita Domine, potentiam tuam (3:37) “Meeting of Angels”
(2) Aruna Sairam & Dominique Vellard (4) Ave vergene & Raga Caliani (11:31) “Sources: Devotional Chants of Southern India & Medieval Europe”
(3) Alain Zaepffel, Véronique Dietschy, Sulochana Brahaspati, Zakir Hussain et l’ensemble Gradiva (5) 3ème leçon du mercredi Saint (8:19-11:53) “Leçons de ténebres & Raga de la nuit avancée”

(Separador)

Fundado em 1967 pelo professor Winsome Evans, da Universidade de Sidney, o ensemble The Renaissance Players Winsome Evans é o mais conceituado agrupamento australiano dedicado à música antiga. Tornou-se conhecido principalmente pelos seus variados e imaginativos concertos, que comportam poesia, música, dança e procissões. Como o próprio nome indica, The Renaissance Players foram constituídos para demonstrar a função particular do ensemble em dar uma nova vida e fazer reviver a música do passado, baseando o seu trabalho numa recolha exaustiva e posterior estudo e prática, no sentido de reproduzirem os estilos e géneros musicais há muito perdidos no tempo.
Em 1999, The Renaissance Players lançaram a caixa com 4 CDs “The Sephardic Experience” (Celestial Harmonies) - dedicada ao espólio das comunidades sefarditas da Europa, Império Otomano e Norte de África, (previamente editado nos registos “Thorns of Fire”, “Apples & Honey”, “Gazelle & Flea” e “Eggplants”) - que atempadamente foi destacada em “O Templo das Heresias”.
Em 2001, The Renaissance Players lançaram a antologia “Of Numbers And Miracles: Selected Cantigas de Santa Maria” (Celestial Harmonies), que compilava temas dos registos “Songs For A Wise King” (Cantigas I) “Maria Morning Star” (Cantigas II) e “Mirror Of Light” (Cantigas III).
Como temos relembrado, por variadíssimas ocasiões, a colecção de “Cantigas de Santa Maria” abarca 426 obras dedicadas à Virgem, compostas na segunda metade do século XIII, por volta de 1250-80, sob a direcção do então rei de Castela, Afonso X, o sábio (1221-1284). Pela sua coerência temática e formal, pela sua homogeneidade estilística, pelo seu número e até pela beleza dos próprios manuscritos que as contêm (alguns deles com luxuosas miniaturas), esta colecção tornou-se num fenómeno particular na história da música medieval e constitui o cancioneiro com mais variedade de temas acerca da Virgem Maria em toda a Europa.
(13) Cantiga 100: Santa Maria strela do dia (3:55)
(02) Cantiga 10: Rosa das rosas (5:34)
(05) Cantiga 2: Muito devemos varões (7:36)
(14) Cantiga 340: Virgen madre groriosa (10:08)

(Separador)

“Cânticos religiosos do Líbano, Bulgária e Austrália/Inglaterra encerram o Templo das Heresias de hoje”.
(1) Soeur Marie Keyrouz & L’Ensemble de la Paix - (2) Ilahi hanayta-s-sama (8:11) “Cantiques de l’Orient”
(2) Vox (10) Alleluja (7:46) “X Chants from Christian Arab Tradition”
(3) Sinfonye (10) O Bonifaci (3:04) “O nobilissima viriditas (The Complete Hildegard Von Bingen, volume three)”

2009/04/06

Bako Dagnon (Mali) / Capella de Ministrers (Espanha)

“Um diálogo intenso entre a tradição do Senegal e a modernidade, um manifesto do Burkina Faso sobre a tolerância, uma canção da Gâmbia acerca da saudade da família e uma homenagem da Guiné à desaparecida rainha das Amazonas. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Seckou Keita Quartet (CD 2 - 10) Tounga (5:42) “Desert Blues 3: Entre Dunes et Savanes”
(2) Victor Démé (2) Djôn’maya (4:04) “Victor Démé”
(3) Justin Adams & Juldeh Camara (11) Me Wairi Bainguray Am (2:20) “Soul Science”
(4) Les Amazones de Guinée (3) Reine Nyépou (6:20) ”Wamato”

(Separador)

Bako Dagnon, "uma das grandes figuras da música tradicional do Mali", segundo o jornal “L'Essor Bamako”, faz parte de uma geração de proeminentes griots do oeste africano. Nascida em N'Golobladji, perto de Kita, em 1948, Bako começou a cantar desde criança, para acompanhar a mãe em cerimónias, nomeadamente em baptizados e casamentos. Sendo uma griot, Bako Dagnon foi educada no sentido de estudar a genealogia e a história do Mali, recuando ao império Mandinga do século XIII, a fim de perpetuar o grande passado do seu país.
Após ter participado em espectáculos a nível local, em Kita, Bako Dagnon foi seleccionada para a Bienal de Bamako em 1972, para representar a sua região. Em 1974, foi convidada para se juntar ao Ensemble Instrumental do Mali, onde permaneceu 10 anos. Com este grupo, juntamente com grandes cantoras como Mokontafe Sacko, Sarafing Kouyaté, Wandé Kouyaté e Nantenedié Kamissoko, Bako Dagnon ajudou a desenvolver e a promover a música tradicional do Mali, pelo que o reitor (dean) da música do país, o falecido Bazoumana Sissoko, a convidou por diversas vezes para cantar em sua casa.
Bako Dagnon produziu no Mali, ao longo dos anos, cinco cassetes. Ainda assim, a sua importância para a música do seu país vai além disso. O seu conhecimento enciclopédico das línguas, das tradições e da história do Mali era sobejamente conhecido e até o célebre Ali Farka Touré a consultou e recorreu aos seus ensinamentos, por diversas ocasiões. Bako foi convidada para participar no registo “Electro Bamako”, de Mamani Keita & Marc Minelli e quando o produtor senegalês Ibrahima Sylla da Syllart Productions lhe pediu para participar na gravação do segundo volume do projecto “Mandekalou”, abriu-se-lhe o caminho para gravar um álbum no seu próprio país.
Bako Dagnon publicou o seu primeiro registo, Titati, em Novembro de 2007, gravado principalmente no Estúdio Bogolan, em Bamako, e, parcialmente, em Paris. Com arranjos do director artístico François Bréant, que se tornou conhecido por ter trabalhado com Salif Keita, Sekouba Bambino, Idrissa Soumaoro e Thione Seck, "Titati” oferece uma muito interessante mistura de canções antigas com arranjos modernos. Descreve as realidades da vida maliana (“Toubaka”); celebra a beleza da mulher (“Sansando Minata”); conta como um caçador impressiona a esposa do rei (“Donsoke”); defende a importância da verdade (“Telemba”); elogia um ferreiro (“Noumou”); ou faz uma homenagem a Bakary Soumano, um dos mais importantes griots (“Bounteni”)… O variadíssimo repertório e a voz sublime de Bako Dagnon fazem de "Titati” um clássico instantâneo.

(06) Bounteni (4:57)
(10) Ikérifayé (7:28)
(05) Noumou (3:59)
(07) Titati (5:52)

(Separador)

“Um tema do Ghana sobre a saudade de outros tempos, uma canção tradicional do Togo de apelo à união, uma melodia do Quénia que celebra a chegada da chuva e um lamento do Uganda sobre a dor de quem é forçado a abandonar a sua pátria. São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Aaron Bebe Sukura & the Local Dimension Palm Wine Band (3) Asaakummene Tengdar (3:39) “Acoustic Ghanaian Highlife”
(2) Ali Bawa (6) Ki Man Wo (3:40) “Togo: Music from West Africa”
(3) Ayub Ogada (9) Kothbiro (5:36) “En Mana Kuoyo”
(4) Geoffrey Oryema (6) Makambo (5:00) “Exile”


2ª Hora

“Um canto sefardita de Esmirna, um romance de origem árabe do século XV e uma ballata de um anónimo italiano do século XIV.”

(1) Constantinople (8) El rey de Francia (4,29) “Memoria Sefardí: Musique d’ Espagne juive et chrétienne”
(2) Begoña Olavide (1) Paseabase el rey moro (5,27) “Mudejar”
(3) Ensemble Syntagma (1) Che Ti Zova Nasconder (5,10) “Stylems: Italian Music From The Trecento”

(Separador)


Sob a direcção de Carles Magraner, o ensemble Capella de Ministrers foi fundado em 1987, com o objectivo de recuperar o património musical espanhol, sobretudo o valenciano. Especializou-se na interpretação do repertório musical anterior ao século XIX e, em pouco tempo, consolidou-se como um dos grupos de referência nos domínios da música antiga vocal e instrumental.
Uma intensa actividade dedicada a espectáculos ao vivo, aliada a tarefas de recuperação e de investigação musicológica, impulsionadas por Carles Magraner e patrocinadas pela Universidade de Valência, deixam perceber o duplo compromisso adquirido pela Capella de Ministrers: resgatar a música antiga como parte essencial e fundamental da memória colectiva e aproximá-la do nosso tempo, à luz do século XXI, em que a arte e a cultura se nos apresentam como autênticos pilares do pensamento contemporâneo.
Entre as obras que a Capella de Ministrers tem recuperado, poderão citar-se a adaptação para palco da zarzuela do século XVIII “La Madrileña” de Vicente Martín y Soler (nunca antes publicada), o primeiro “Oratorio Sacro” espanhol, a mais antiga versão de “El Misteri d'Elx” e a ópera “Dido e Aeneas” de Henry Purcell.
A Capella de Ministrers, por outro lado, tem colaborado com realizadores como Alex Rigola, Juli Leal, Vicent Genovés, Jaume Martorell; fez programas para a TVE (Televisão Nacional de Espanha), a Radio 2 e a RNE (Rádio Nacional Espanha), bem como para várias estações de rádio e televisão europeias e sul-americanas; publicou cerca de 20 gravações através da EGT, Blau, Auvidis e CDM (esta última a gravadora do grupo desde 2002), algumas delas alvo de várias distinções, entre as quais se destacam o prémio de Melhor Produção pelo Ministério da Cultura e um conceituado prémio da Editorial Prensa Valenciana.
A música da Capella de Ministrers para “Cant de la Sibil.la” fez parte da banda sonora do filme “Son de Mar” de Bigas Luna e iniciou uma série de colaborações entre o grupo e o director catalão. Em 2002, o Workshop de Bigas Luna criou o segmento audiovisual da peça “Lamento di Tristano” e em 2003, Luna, mais uma vez, contou com a participação da Capella, desta vez na adaptação de “Comédias Bárbaras” de Valle-Inclán, que encerrou a Bienal de Valência.
Arrojado e ambicioso foi o projecto da Capella de Ministrers, em 2008 intitulado “Música en Temps de Jaume I”, para comemorar o aniversário do nascimento de Jaume I (1208-1276), rei conquistador, homem de estado e político hábil e realista, fundador do reino dos valencianos no século XIII. Trata-se de um livro luxuoso com 200 páginas e que inclui as três novidades discográficas da Capella: “Ad honorem Virginis” (Polifonia sacra a la Corona d’ Aragó i el Cant de la Sibil.la (s. XII-XV), “Amors e Cansó” (Trobadors de la Corona d’ Aragó (s. XII-XIII) e “Al-hadiqat Al-dai´a” (Música i poesia andalusí a la Valènciadels s. XII-XIII). Um documento imprescindível em qualquer discografia que se preze.

(01) Ab hac familia (1:41) “Ad honorem Virginis”
(07) Nativitas Marie virginis (5:03) “Ad honorem Virginis”
(04) Ab la fresca clardat (6:34) “Amors e Cansó”
(13) Amors, mercê no sia (4:02) “Amors e Cansó”
(03) Oh València, tu no ets tu (3:35) “Al-hadiqat Al-dai´a”
(05) La Russafa de València (2:57) “Al-hadiqat Al-dai´a”

(Separador)

“Um poema de amor do Minnesänger Konrad von Würzburg do século XIII, uma cantiga dedicada a Santa Maria do rei Afonso X de Castela, uma prosa do século XIV do Códex Huelgas de Burgos, um texto do Codex Manesse de Heidelberg do século XIII e outra cantiga de Santa Maria. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.

(1) Ensemble Lucidarium - (12) Winter vf der heide blvomen selwet (2,12) “En chantan m’ aven a membrar” (Troubadours, Trouvères et Minnesänger du Rhône au Rhin)
(2) Camerata Mediterranea (13) Cantiga 200 Santa Maria Loei (5,34) “Cantigas de Santa Maria”
(3) Voces Huelgas (6) Cetus Apostolici (2:42) “Inedit Poliphony”
(4) Freiburger Spielleyt (10) Willekomen si der sumer schoene (3:17) “O Fortuna”
(5) Ensemble Unicorn (6) Que por al non devess (2:20) “Alfonso X el Sabio”

2009/02/08

Mari Boine (Noruega) / Ensemble Cantilena Antiqua (Itália)

1ª Hora

“Um tema da Argélia sobre a tristeza, uma melodia do México sobre a atracção pelas viagens, uma canção que reinventa o tango argentino e um canto da máfia italiana sobre a importância da honra. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Souad Massi (10) Malou (6:08) “honeysuckle (mesk elil)”
(2) Lhasa de Sela (6) La frontera (3:02) “The Living Road”
(3) Silvana Deluigi (1) La Cumparsitta (3:36) “Yo!”
(4) Autor desconhecido (13) Tira la pinna (4:27) ”Omertà, Onuri e Sangu”

(Separador)

O território Saami é a maior região rural contínua da Europa, estendendo-se pela costa noroeste da Noruega, pelo Norte da Suécia e da Finlândia e ainda pela península de Kola, no Noroeste da Rússia. Os Saami, estimados em cerca de 50 mil, são, muitas vezes, conhecidos no Ocidente por Lapões e o seu território por Lapónia. No entanto, preferem que os tratem por Saami, palavra que significa simplesmente “Homem”, enquanto Lapão se pode traduzir por “povo que foi levado para o fim do mundo”.
A canção tradicional dos Saami, a joik, é anterior à sua evangelização e foi caracterizada por alguns investigadores como uma das mais antigas tradições musicais da Europa. Normalmente interpretadas à capela, ou seja, sem acompanhamento musical, com palavras ou só com sons vocais, que procuravam transmitir a essência de uma pessoa, de uma vida, de uma realidade, de um fenómeno, as joik foram rejeitadas pelos primeiros missionários cristãos que as consideravam “canções do diabo”.
Um joik pessoal é um símbolo acústico individual Saami, que é partilhado apenas num muito restrito círculo de pessoas. Aprende-se a joik quando se é criança. Os pais podem oferecer uma joik ao seu filho e, mais tarde, quando a criança se torna adulta, essa joik pode alterar-se. Também se pode dar uma joik à pessoa amada e, nesse caso, trata-se de um compromisso, de algo que está sempre presente. É uma oferta, uma prenda que durará para toda a vida.
A principal embaixadora cultural dos saami, a norueguesa Mari Boine, tem-se dedicado a recuperar as entoações xamânicas do canto joik, cruzando-o com ritmos de todo o mundo. Com efeito, Mari Boine, saami mas também cidadã do mundo, junta a música tradicional do seu povo com a riqueza rítmica e harmónica de outras culturas ancestrais. Um encontro que passa pelo cruzamento dos sons étnicos de África ou da América do Sul com influências mais actuais como o jazz, o rock, a pop ou mesmo a música electrónica. Enceta, a cada álbum, autênticas peregrinações sonoras, utilizando instrumentos como o violino árabe, a charanga peruana, as flautas andinas ou as percussões africanas.
Com mais de vinte anos de carreira e treze álbuns editados, Mari Boine tem vindo a ser destacada, ao longo dos anos, no Templo das Heresias, nomeadamente aquando da edição dos registos “Gula Gula” (1989), “Goaskinviellja/Eagle Brother” (1993), “Leahkastin/Unfolding” (1994), Bálvvoslatnja/Room of Worship” (1998), “Odda Hámis” (Remixed) (2001) e “Gávcci Jahkejuogu/Eigth Seasons” (2002). Voltamos agora, para vos dar a conhecer “Idjagieđas/In the Hand of the Night” (2006) e “Bodes Bat Gal Buot Biros/It Ain’t Necessarily Evil” (Remixed Vol II) (2008), os seus dois últimos álbuns, verdadeiros manifestos que acrescentam novas sonoridades à joik tradicional.


(3) Suoivva/The Shadow (6:03) “Idjagieđas/In the Hand of the Night”
(1) Vuoi Vuoi Mu/ Vuoi Vuoi Me (4:49) “Idjagieđas/In the Hand of the Night”
(2) Gos bat munno cinat leat/syntax Erik (6:07) “It Ain’t Necessarily Evil”
(4) Boadan nuppi bealde/120 Days (5:27) “It Ain’t Necessarily Evil”

(Separador)

“Um tema tradicional do Uzbequistão em homenagem aos pais, um fragmento de uma história arménio-curda sobre o rapto de uma jovem e uma demonstração das potencialidades do Kanoun (instrumento que descende da harpa faraónica). São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Matlubeh (9) Ateh-Anah (4:50) “Yar Kelour”
(2) Kotchnak (8) Gulizari voghpe (4:53) “Chants Populaires Arméniens”
(3) Soliman Gamil (7) Sufi Dialogue (5:26) “The Egyptian Music”


2ª Hora

“Um canto anónimo da Sicília do Séc. XV, um hino a Santiago retirado do Codex Calixtinus do Séc. XII e um tema anónimo dos Cruzados, do Séc. XIII.”

(1) Al Qantarah (8) Dolce lo mio drudo (6,40) “Abballati, abballati! Canti e suoni della Sicília Medievale”
(2) Ensemble Weltgesang (1) Dum Paterfamilias (7,36) “Primus ex Apostolis: Saint Jacob in the Medieval Pilgrimage Songs”
(3) The Toronto Consort (5) Quen quer que na Virgen fia (5,59) “The Way of the Pilgrim: Medieval Songs of Travel”

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Se nos debruçarmos sobre os últimos séculos da Idade Média, concretamente entre XII e XIV, constatamos que a fermentação social e cultural desta época não se pode pôr em paralelo com o imobilismo até então reinante. É certo que, a partir do séc. X, findas as últimas invasões, a Europa se começa lentamente a transformar; mas só então a nova mentalidade, a princípio confinada à orla mediterrânea, passa a ocupar o primeiro plano.
É a vez da língua vulgar ascender à dignidade da escrita, tradicionalmente restrita ao latim; é a vez do indivíduo se descobrir como autor, reivindicando uma voz original. Saímos do reino dos anónimos, dos que apenas julgam transmitir uma herança e entramos no reino dos criadores, dos que deixam assinatura.
Nascendo no seio de uma cultura oral, a expressão da nova atitude é, naturalmente poética: a poesia, com as suas rimas, a sua métrica, e o seu repertório de expressões, facilita a memorização. Por outro lado, um suporte musical permite realçar certas características formais da poesia, enquanto dá tempo à sua fixação e à sua reprodução. A lírica do séc. XII a XIV surge, pois, com dois aspectos inseparáveis: o literário e o musical.
É sobretudo sobre as produções poéticas e musicais da Baixa Idade Média, mas também do Renascimento, que se move a acção do Ensemble Cantilena Antiqua, fundado por Stefano Albarello em Bolonha (Itália) em 1987 e composto por músicos que se especializaram em realizar simultaneamente repertórios sagrados e profanos.
A recuperação dos repertórios antigos pelos elementos dos Cantilena Antiqua é o resultado de uma investigação cuidada em fontes musicais, na literatura e na história das épocas medieval e renascentista. A recolha musical abrange uma vasta gama de diferentes tradições musicais e a interpretação tem em conta, o mais possível, uma fidelidade à tradição, uma vez que o Ensemble assegura que são preservados os sons e estilos originais do período que abarcam.
Naturalmente que o Ensemble Cantilena Antiqua faz uso de réplicas de instrumentos para aprofundar particularmente o aspecto do desempenho. Desses instrumentos, que variam de acordo com o período abordado, contam-se alaúdes de vários tamanhos, flautas, bombardas, realejos, symphonia, percussões e violas, entre outros. Relativamente às vozes, os intérpretes variam cada tempo, de acordo com a polifonia, dando preferência a vozes masculinas e a contra tenor.
Da riquíssima produção discográfica do Ensemble Cantilena Antiqua, destacamos três registos: “Ondas do Mar” (el canto de amor en el Mediterráneo del siglo XIII) (Symphonia 1998), uma mistura de sons, ritmos e letras que expressam com clareza o mundo musical do século XIII, principalmente da Espanha e da Sicília, mas também da Grécia e da Turquia; “Canticum Canticorum” (il simbolo sacro dell’amore nella tradizione musicale Medioevale dell XII e XIII Secolo) (Symphonia 1995), que tem por base o "Cântico dos Cânticos", que na Idade Média se tornou uma das mais importantes referências do ascetismo espiritual, a chave que abriu as portas para o caminho que conduz a alma a Deus, tornando-a perfeita na união com a mente; e “Aines” (Mistero Provenzale Medioevale dell XV Secolo) (Symphonia 1999), sobre o Mistério de Santa Agnes, cujo martírio, narrado num manuscrito conservado na Biblioteca do Vaticano, se insere numa tradição de teatro popular religioso que se desenvolveu nos meios seculares.



(30) Rex Salomon fecit templum (3:52) “Canticum Canticorum”
(19) Virgines egregie/Veni dilectus meus in hortum/Veni in ortum meum (4:12) “Canticum Canticorum”
(12) Ay ondas (3:47) “Ondas do Mar”
(02) Ai tal domna (5:09) “Ondas do Mar”
(05) Rei Glorios (5:51) “Aines”

(Separador)

“Uma oração penitencial sefardita e uma cantiga dedicada a Santa Maria, do tempo do rei Afonso X, de Castela. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.

(1) Alia Musica - (2) Eleja (7,52) “Puerta de Veluntad: Liturgia y mística en la música judeoespañola”
(2) Malandança (5) Cantiga 323 Ontre todalas vertudes (12,50) “Unha noite na corte do rei Afonso”