2010/08/28

Hasna el Becharia (Argélia) / Diabolus in Musica (França)

“Um poema escrito em Bagdad sobre a errância do autor, uma canção que exalta a beleza da aurora no Alto Egipto, um tema dos tuaregues do Sahara de devoção a uma jovem e um canto do Povo Saharaui sobre a paixão e o desespero. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Jon Balke/Amina Alaoui (Noruega/Marrocos) (3) Jadwa (5:17) “Siwan”
(2) Ganoub (Egipto) (10) Leli (6:26) “… en arabe veut dire Sud”
(3) Tamikrest (Mali) (2) Aicha (3:18) “Adagh”
(4) Mariem Hassan (Sahara Ocidental) (3) La Tumchu Anni (4:47) “Deseos”

(Separador)

Natural de Béchar, uma localidade situada na área desértica do sudoeste da Argélia, Hasna El Becharia é a única mulher no Magrebe a tocar música Gnawa. Género praticado exclusivamente por homens - desde que as crenças animistas dos Bilad es-Sudan (em árabe, a Terra dos Negros, hoje Guiné, Senegal, Mali, Níger e Chade), vindas do outro lado do deserto, se reuniram com a fé monoteísta do Islão, - exerceu, no entanto, um fascínio em Hasna, levando-a a romper com a tradição.
A opção de Hasna El Becharia fez com que fosse alvo de grande rejeição e sarcasmo, mas a sua mente e alma estavam irrmediavelmente embrenhadas na música mística de transe que aprendera com o pai, um homem devoto, ele próprio um maâllem (mestre do sincretismo Gnawi - o plural de Gnawa).
Hasna El Becharia começou por interpretar, durante cerca de 30 anos, as músicas tradicionais dos árabes e berberes do deserto, sobretudo peças para abrilhantar casamentos. Primeiro tocou numa espécie de guitarra acústica denominada gumbri (um baixo arcaico de três cordas, tradicionalmente feito de tripa). Depois adoptou, também, a guitarra eléctrica, não para se aproximar do rock - que chegou à Argélia no final dos anos 50 -, mas para melhor se fazer ouvir durante os concertos, onde o público abafava a sua voz, quando se lhe juntava nas suas músicas. Exímia instrumentista, Hasna toca, ainda, oud, darbouka, bendir e até banjo.
Em 2002, com cerca de cinquenta anos de idade, Hasna lançou o seu álbum de estreia, Djazaïr Johara (Argélia, a Jóia) (Label Bleu/Indigo), em Paris, onde entretanto se radicara, após tomar parte no Festival Femmes d’Algérie, em 1999. A gravação, na altura destacada no “Templo das Heresias”, conta com grandes músicos da Argélia, mas também de Marrocos, Tunísia e Níger.
Em 2010, Hasna El Becharia regressa com Smaa Smaa (Il canto di Lilith/Lusafrica), gravado entre as dunas do Sahara, com simples e extraordinários instrumentos acústicos, descrevendo-o como um álbum muito pessoal. Uma vez mais, Hasna canta com uma voz calma, profunda e quase masculina e expressa inteiramente a sua espiritualidade numa linguagem contemporânea. Por um lado, desenvolve um estilo enraizado na tradição (nos ritmos gnawi, mas também nos populares estilos chaâbi da Argélia e Marrocos) e, por outro, pisca os olhos às novas sonoridades, pontuadas por guitarras, clarinete e violino.
Mais informações: http://www.myspace.com/hasnaelbecharia


(01) Smaa Smaa (5:12)
(02) Sadrak(4:09)
(06) Galbi (3:55)
(09) Hamou (5:19)

(Separador)

“Uma fusão suíço-guineense em que as sonoridades da kora entrelaçam brilhantemente nos instrumentos de cordas ocidentais, uma morna cabo-verdiana adornada com arranjos de cordas egípcias, uma guajira (dança de salão de Cuba e um curioso diálogo entre as tradições do Senegal e das Caraíbas. São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Taffetas (Guiné Bissau/Suíça) (1) Fano Keita (7:50) “Taffetas”
(2) Cesária Évora (Cabo Verde) (3) Vento de Sueste (4:44) “Nha Sentimento”
(3) Guillermo Portabales (Cuba) (10) Al Vaivén de mi Carreta (3:17) “El Carretero”
(4) Orchestra Baobab (Senegal) (7) Hommage a Tonton Ferrer (5:52) “Specialist in all Styles”


2ª Hora

“Um mawwal, isto é, um tema livre e com introdução improvisada, cantado em circunstâncias felizes; um poema andaluz do século XII interpretado numa métrica longa, próxima da Mashri egípcia; e um texto místico baseado na música otomana clássica. A poesia litúrgica judeo-espanhola na abertura da 2.ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Naguila (França) (1) Rahamekha (7:08) “Chants Mystiques Séfarades”
(2) Meirav Ben David-Harel/Yaïr Harel/Nima Ben David/Michèle Claude (Israel) (1) Yedidi Hashakhakhta (7:11) “Yedid Nefesh – Amant de mon âme”
(3) Alia Mvsica (Espanha) (2)Nostalgia y alabanza de Jerusalém (5:58) “El Camino de Alia Mvsica”

(Separador)

Desde 1992, o grupo francês Diabolus in Musica tem-se dedicado ao estudo e interpretação de todas as músicas medievais, desde o canto gregoriano até a grande polifonia do século XV.
Fundado e dirigido por Antoine Guerber (tenor e exímio instrumentista – harpa e tambores, consoante o repertório), editou até à data 14 discos, o último dos quais "Rose Tres Bele: Chansons & polyphonies des Dames trouvères" (2010 Alpha).
Neste registo, o ensemble explora todos os aspectos da presença feminina no repertório dos trouvères, os trovadores do norte da França medieval. Para o efeito, recorreu a vários tipos de fontes: as cantigas atribuídas às mulheres pelas rubricas de vários manuscritos (autoria feminina), embora sejam raras (dos 250 trouvères conhecidos, apenas oito são mulheres); os (poucos) poemas falados nas vozes femininas (a voz da mulher), embora não seja certa a sua autoria; algumas das cantigas trovadorescas anónimas expressas gramaticalmente na voz feminina, supondo-se que, algumas delas, tenham sido de facto escritas por mulheres; e as canções religiosas em langue d'oïl que dão uma ideia dos sentimentos das mulheres medievais.
Apesar de alguns estudos sobre a matéria, a voz da mulher na literatura medieval é um enigma. O historiador Georges Duby defendeu, por diversas vezes, que na Idade Média a representação da mulher era claramente moldada por uma perspectiva masculina (clérigos, escribas ou directores espirituais), fazendo com que a vida real das mulheres fosse inacessível e os seus pronunciamentos praticamente inaudíveis. Por sua vez, as teorias de Pierre Bec (1979) de que nenhuma das cantigas dos Trouvères foi escrita por mulheres e de Michel Zink (1977) de que a cantiga feminina seria uma ficção artística criada pelo homem, nomeadamente no género chanson de toile (cantigas de tear) prevaleceram durante muito tempo.
Alguns pesquisadores, no entanto, já não afirmam que cada canção com um texto falando do ponto de vista da mulher foi escrita por um homem. Acreditam que, pelo contrário, as mulheres foram as autoras de um grande número de peças que não só lhes dão uma voz, mas que também exploram toda uma gama de sentimentos e comportamentos que são supostamente característicos das mulheres. O facto de, a partir do século VI, a Igreja ter condenado as canções escritas por mulheres demonstra não só a sua existência, mas também, e sobretudo, a sua popularidade. O famoso moçárabe kharjas, por exemplo, no século XI, evidenciou um tipo de canções de mulheres, provavelmente canções de dança, em torno da bacia do Mediterrâneo. Por outro lado, romances do século XII, no norte da França, incluem muitas inserções líricas, compostas e cantadas por uma das heroínas. Além disso, vários textos, como também uma rica iconografia, provam que, no século XIII, havia muitas mulheres cantoras e instrumentistas no norte da França, nomeadamente as jongleresses na corte e na cidade e as freiras de clausura nos conventos. Nos estatutos da guilda de menestréis de Paris de 1321, por sua vez, surge a referência a “menestreus et menestrelles, jougleurs et jougleresses” e cita trinta e sete nomes, incluindo os de nove mulheres.
O programa dos Diabolus in Musica tem como objectivo mostrar que as mulheres da Idade Média se expressavam lírica e musicalmente, mesmo que a imagem que dão delas possa ser transmitida através do prisma masculino. O eco da voz que chega até nós, embora em surdina, mantém, por vezes, uma incrível e singular força e vitalidade, levantando uma ponta do véu que mantém as vozes das mulheres medievais ainda envolto em mistério.
Mais informações em: http://www.myspace.com/ensemblediabolusinmusica


(15) Dudous Jhesu (5:11)
(01) Las, Las, Las (2:54)
(02) Onques n’aimai (6:48)
(11) Amours que vous ai meffait (3:34)
(06) Margot, Margot (2:15)

(Separador)

“O extraordinário tema La Serena (Si la mar era de leche), dos judeus sefarditas expulsos de Espanha no século XVI, em diferentes versões. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.

(1) Mosaic (Israel) (12) La Serena (2:19) “Yiddish & Judeo-Spanish Songs”
(2) Ensemble Lyrique Ibérique (Marrocos/França) (12) La Serena (3:43) "Romances Judéo-Espagnoles”
(3) Renaissance Players Winsome Evans (Austrália) (7) Si la mar era de leche (6:40) “The Sephardic Experience, Volume 4: Eggplants”
(4) Ensemble Accentus (Áustria) (2) La Serena (3:26) “Sephardic Romances”
(5) Azam Ali (Irão) (29 La Serena (4:32) “Portals of Grace