1ª Hora
“Um tema da Argélia sobre a tristeza, uma melodia do México sobre a atracção pelas viagens, uma canção que reinventa o tango argentino e um canto da máfia italiana sobre a importância da honra. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.
(1) Souad Massi (10) Malou (6:08) “honeysuckle (mesk elil)”
(2) Lhasa de Sela (6) La frontera (3:02) “The Living Road”
(3) Silvana Deluigi (1) La Cumparsitta (3:36) “Yo!”
(4) Autor desconhecido (13) Tira la pinna (4:27) ”Omertà, Onuri e Sangu”
(Separador)
O território Saami é a maior região rural contínua da Europa, estendendo-se pela costa noroeste da Noruega, pelo Norte da Suécia e da Finlândia e ainda pela península de Kola, no Noroeste da Rússia. Os Saami, estimados em cerca de 50 mil, são, muitas vezes, conhecidos no Ocidente por Lapões e o seu território por Lapónia. No entanto, preferem que os tratem por Saami, palavra que significa simplesmente “Homem”, enquanto Lapão se pode traduzir por “povo que foi levado para o fim do mundo”.
A canção tradicional dos Saami, a joik, é anterior à sua evangelização e foi caracterizada por alguns investigadores como uma das mais antigas tradições musicais da Europa. Normalmente interpretadas à capela, ou seja, sem acompanhamento musical, com palavras ou só com sons vocais, que procuravam transmitir a essência de uma pessoa, de uma vida, de uma realidade, de um fenómeno, as joik foram rejeitadas pelos primeiros missionários cristãos que as consideravam “canções do diabo”.
Um joik pessoal é um símbolo acústico individual Saami, que é partilhado apenas num muito restrito círculo de pessoas. Aprende-se a joik quando se é criança. Os pais podem oferecer uma joik ao seu filho e, mais tarde, quando a criança se torna adulta, essa joik pode alterar-se. Também se pode dar uma joik à pessoa amada e, nesse caso, trata-se de um compromisso, de algo que está sempre presente. É uma oferta, uma prenda que durará para toda a vida.
A principal embaixadora cultural dos saami, a norueguesa Mari Boine, tem-se dedicado a recuperar as entoações xamânicas do canto joik, cruzando-o com ritmos de todo o mundo. Com efeito, Mari Boine, saami mas também cidadã do mundo, junta a música tradicional do seu povo com a riqueza rítmica e harmónica de outras culturas ancestrais. Um encontro que passa pelo cruzamento dos sons étnicos de África ou da América do Sul com influências mais actuais como o jazz, o rock, a pop ou mesmo a música electrónica. Enceta, a cada álbum, autênticas peregrinações sonoras, utilizando instrumentos como o violino árabe, a charanga peruana, as flautas andinas ou as percussões africanas.
Com mais de vinte anos de carreira e treze álbuns editados, Mari Boine tem vindo a ser destacada, ao longo dos anos, no Templo das Heresias, nomeadamente aquando da edição dos registos “Gula Gula” (1989), “Goaskinviellja/Eagle Brother” (1993), “Leahkastin/Unfolding” (1994), “Bálvvoslatnja/Room of Worship” (1998), “Odda Hámis” (Remixed) (2001) e “Gávcci Jahkejuogu/Eigth Seasons” (2002). Voltamos agora, para vos dar a conhecer “Idjagieđas/In the Hand of the Night” (2006) e “Bodes Bat Gal Buot Biros/It Ain’t Necessarily Evil” (Remixed Vol II) (2008), os seus dois últimos álbuns, verdadeiros manifestos que acrescentam novas sonoridades à joik tradicional.
(3) Suoivva/The Shadow (6:03) “Idjagieđas/In the Hand of the Night”
(1) Vuoi Vuoi Mu/ Vuoi Vuoi Me (4:49) “Idjagieđas/In the Hand of the Night”
(2) Gos bat munno cinat leat/syntax Erik (6:07) “It Ain’t Necessarily Evil”
(4) Boadan nuppi bealde/120 Days (5:27) “It Ain’t Necessarily Evil”
(Separador)
“Um tema tradicional do Uzbequistão em homenagem aos pais, um fragmento de uma história arménio-curda sobre o rapto de uma jovem e uma demonstração das potencialidades do Kanoun (instrumento que descende da harpa faraónica). São os sons que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Matlubeh (9) Ateh-Anah (4:50) “Yar Kelour”
(2) Kotchnak (8) Gulizari voghpe (4:53) “Chants Populaires Arméniens”
(3) Soliman Gamil (7) Sufi Dialogue (5:26) “The Egyptian Music”
2ª Hora
“Um canto anónimo da Sicília do Séc. XV, um hino a Santiago retirado do Codex Calixtinus do Séc. XII e um tema anónimo dos Cruzados, do Séc. XIII.”
(1) Al Qantarah (8) Dolce lo mio drudo (6,40) “Abballati, abballati! Canti e suoni della Sicília Medievale”
(2) Ensemble Weltgesang (1) Dum Paterfamilias (7,36) “Primus ex Apostolis: Saint Jacob in the Medieval Pilgrimage Songs”
(3) The Toronto Consort (5) Quen quer que na Virgen fia (5,59) “The Way of the Pilgrim: Medieval Songs of Travel”
(Separador)
Se nos debruçarmos sobre os últimos séculos da Idade Média, concretamente entre XII e XIV, constatamos que a fermentação social e cultural desta época não se pode pôr em paralelo com o imobilismo até então reinante. É certo que, a partir do séc. X, findas as últimas invasões, a Europa se começa lentamente a transformar; mas só então a nova mentalidade, a princípio confinada à orla mediterrânea, passa a ocupar o primeiro plano.
É a vez da língua vulgar ascender à dignidade da escrita, tradicionalmente restrita ao latim; é a vez do indivíduo se descobrir como autor, reivindicando uma voz original. Saímos do reino dos anónimos, dos que apenas julgam transmitir uma herança e entramos no reino dos criadores, dos que deixam assinatura.
Nascendo no seio de uma cultura oral, a expressão da nova atitude é, naturalmente poética: a poesia, com as suas rimas, a sua métrica, e o seu repertório de expressões, facilita a memorização. Por outro lado, um suporte musical permite realçar certas características formais da poesia, enquanto dá tempo à sua fixação e à sua reprodução. A lírica do séc. XII a XIV surge, pois, com dois aspectos inseparáveis: o literário e o musical.
É sobretudo sobre as produções poéticas e musicais da Baixa Idade Média, mas também do Renascimento, que se move a acção do Ensemble Cantilena Antiqua, fundado por Stefano Albarello em Bolonha (Itália) em 1987 e composto por músicos que se especializaram em realizar simultaneamente repertórios sagrados e profanos.
A recuperação dos repertórios antigos pelos elementos dos Cantilena Antiqua é o resultado de uma investigação cuidada em fontes musicais, na literatura e na história das épocas medieval e renascentista. A recolha musical abrange uma vasta gama de diferentes tradições musicais e a interpretação tem em conta, o mais possível, uma fidelidade à tradição, uma vez que o Ensemble assegura que são preservados os sons e estilos originais do período que abarcam.
Naturalmente que o Ensemble Cantilena Antiqua faz uso de réplicas de instrumentos para aprofundar particularmente o aspecto do desempenho. Desses instrumentos, que variam de acordo com o período abordado, contam-se alaúdes de vários tamanhos, flautas, bombardas, realejos, symphonia, percussões e violas, entre outros. Relativamente às vozes, os intérpretes variam cada tempo, de acordo com a polifonia, dando preferência a vozes masculinas e a contra tenor.
Da riquíssima produção discográfica do Ensemble Cantilena Antiqua, destacamos três registos: “Ondas do Mar” (el canto de amor en el Mediterráneo del siglo XIII) (Symphonia 1998), uma mistura de sons, ritmos e letras que expressam com clareza o mundo musical do século XIII, principalmente da Espanha e da Sicília, mas também da Grécia e da Turquia; “Canticum Canticorum” (il simbolo sacro dell’amore nella tradizione musicale Medioevale dell XII e XIII Secolo) (Symphonia 1995), que tem por base o "Cântico dos Cânticos", que na Idade Média se tornou uma das mais importantes referências do ascetismo espiritual, a chave que abriu as portas para o caminho que conduz a alma a Deus, tornando-a perfeita na união com a mente; e “Aines” (Mistero Provenzale Medioevale dell XV Secolo) (Symphonia 1999), sobre o Mistério de Santa Agnes, cujo martírio, narrado num manuscrito conservado na Biblioteca do Vaticano, se insere numa tradição de teatro popular religioso que se desenvolveu nos meios seculares.
(30) Rex Salomon fecit templum (3:52) “Canticum Canticorum”
(19) Virgines egregie/Veni dilectus meus in hortum/Veni in ortum meum (4:12) “Canticum Canticorum”
(12) Ay ondas (3:47) “Ondas do Mar”
(02) Ai tal domna (5:09) “Ondas do Mar”
(05) Rei Glorios (5:51) “Aines”
(Separador)
“Uma oração penitencial sefardita e uma cantiga dedicada a Santa Maria, do tempo do rei Afonso X, de Castela. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.
(1) Alia Musica - (2) Eleja (7,52) “Puerta de Veluntad: Liturgia y mística en la música judeoespañola”
(2) Malandança (5) Cantiga 323 Ontre todalas vertudes (12,50) “Unha noite na corte do rei Afonso”
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