2009/10/11

Lhasa (México) / Paulina Ceremuzynska & Meendinho (Polónia/Espanha)

“Da Polónia surge um lamento de um jovem moribundo ferido na guerra, da Jugoslávia um encontro feliz entre a tradição e a modernidade, da Hungria uma canção sagrada, da Bulgária uma balada habitualmente entoada na altura das colheitas e da Rússia um canto normalmente interpretado nos casamentos. São as Heresias que abrem hoje as portas do Templo”.
(1) Warsaw Village Band (13) Lament (2:30) “Uprooting”
(2) Boris Kovac (2) Noon at Ural (3:58) “Ritual Nova II”
(3) Irén Lovász (5) Márton Szép Ilona (2:05) “Rosebuds In a Stoneyard”
(4) Stefka Sabotinova (11) Mir Stankele (0:18-3:07) “Le Mystère des Voix Bulgares”
(5) Dmitri Pokrovsky Ensemble (5) Pine Tree (2:44) “The Wild Field”

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Filha de um escritor mexicano e de uma fotógrafa e antiga actriz americana, Lhasa de Sela passou grande parte da sua adolescência a viajar numa carrinha com os seus pais e com duas irmãs, pela costa norte-americana e fronteira com o México, onde passa a residir. Aos 25 anos muda-se para o Canadá, onde conheceu o guitarrista Yves Desrosiers, com o qual escreveu os temas que iriam compor o seu primeiro registo de originais, “La Llorona”, pleno de sentimento e sensualidade, em que Lhasa canta em espanhol sobre paisagens sem nome, assombradas pelos blues, pela música cigana, pelos ritmos sul-americanos e pelo cabaret.
Seis anos mais tarde, a cantautora apátrida edita “The Living Road”, optando por diversificar o som e os instrumentos utilizados, cantar em espanhol, inglês e francês e afastar-se das sonoridades do primeiro registo, numa possível alusão à sua adolescência de constante itinerância. Se no primeiro álbum, Lhasa contou com a co-autoria de Yves Desrosiers, no segundo registo as participações estenderam-se a Vincent Segal, Didier Dumoutier e Jérôme Lapierre.
Em 2009, Lhasa de Sela regressa com um registo simplesmente intitulado “Lhasa”, em que a sua voz comovente e bela percorre doze temas cheios de intensidade dramática, vislumbrando um México distante e etéreo construído por sentimentos de amor, desespero e melancolia profunda.
A voz de Lhasa, aqui suficientemente destacada (aquando da edição dos seus dois primeiros registos, bem como das suas duas tournées em Portugal com passagem por Lisboa, Famalicão, Coimbra, Aveiro, Porto), continua a evidenciar uma grande sensibilidade, beleza e maturidade, pelo que não podíamos deixar de a divulgar de novo, ainda que o seu novo registo se revele manifestamente inferior aos anteriores.

(02) Rising (3:49)
(01) Is Anything Wrong (3:55)
(06) Fool’s Gold (3:01)
(03) Love Came Here (3:51)
(09) The Lonely Spider (3:18)

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“Um tema de Rembetiko, a música característica da Grécia, e duas versões de uma balada otomana, uma proveniente de Israel e outra da Turquia. São as sonoridades que encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”
(1) Martha Frintzila (II-2) Thalassa Lipisou (5:22) “The Diaspora of Rembetiko”
(2) Sara Alexander (2) Madré (6,18) “Café Turc”
(3) Istanbul Oriental Ensemble (2) Nihavent Oriental (6,49) “Sultan’s Secret Door”


2ª Hora

“Uma chanson de toile de um trovador anónimo, uma Cantiga de Santa Maria de Afonso X de Castela e uma Canção de Trobairitz da trovadora Condessa Beatritz de Dia. O universo musical dos séculos XII e XIII abre as portas da 2.ª hora do Templo das Heresias.”
(1) Duo Trobairitz (Inglaterra) (10) Bele Doette (9:04) “The Language of Love (Songs of the Troubadours and Trouvères)”
(2) Obsidienne (França) (4) Quen na Virgen (6:25) “Miracle! Cantigas d’Alfonso el Sabio”
(3) Delphine Aguilera/ Marc Bellity (França/Tunísia) (1) A Chantar (5:56) “Fin amor”

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Da rica tradição medieval em lírica profana galaico-portuguesa chegaram até aos nossos dias cerca de 1650 obras, das quais apenas 13 com notação musical. Conhecemo-las graças à descoberta dos manuscritos O Pergamiño Sharrer e o Pergamiño Vindel, ambos conservados pela sua utilização como material de encadernação de códices.
Da poesia trovadoresca, salientam-se as cerca de 500 Cantigas de Amigo, compostas entre 1220 e 1350, por um total de 88 poetas, que constitui o maior espólio de poesia amorosa de voz feminina que sobreviveu da Europa pré-renascentista e a mais antiga manifestação literária da nossa história.
As Cantigas de Amigo são poemas cujo sujeito poético é uma rapariga que se dirige à mãe, à irmã mais velha, à amiga, a um cavaleiro (mais raramente), à natureza (antropomorfismo) ou aos santos da sua devoção, para exprimir o seu amor, a sua angústia ou a sua saudade pelo seu amado, que designa habitualmente por amigo. A figura feminina que as Cantigas de Amigo retratam é, pois, a da jovem que se inicia no universo do amor, por vezes lamentando a ausência do amado, outras cantando a sua alegria pelo próximo encontro. Tratam-se, pois, de cantigas de origem popular, que tiveram as suas origens na Península Ibérica (Galiza e norte de Portugal), com marcas evidentes da literatura oral, nomeadamente pela utilização de recursos como as reiterações, o paralelismo, o refrão e o estribilho, próprios dos textos para serem cantados e que propiciam facilidade na memorização.

Depois das brilhantes interpretações dos La Batalla (Portugal), Ensemble Alcatraz with Kitka (EUA), Supramúsica (Espanha), Paulina Ceremuzyrska (Polónia), Fin’Amor (França), Martin Códax (Espanha) e Ensemble Cantilena Antiqua (Itália), as Cantigas de Amigo conhecem agora mais uma extraordinária versão, a do Grupo Meendinho.
Fundado pela musicóloga e cantora Paulina Ceremuzynska, o ensemble polaco-espanhol Meendinho, especializado na interpretação da música medieval, principalmente da procedente da tradição trovadoresca, aborda nos seus programas uma rigorosa e ao mesmo tempo criativa recuperação das músicas da Idade Média. Em 2006, editou o fabuloso registo E Moiro-me d’ Amor” (Cantigas de desexo e soidade), gravado na Rádio Galega e editado pela Secretaria Geral de Política Linguística, que integra dezasseis Cantigas de Amigo (de Nuno Fernandez, Lourenço xograr, Fernand’Esquío, Martin de Ginzo, Pero Meogo, Pai Gomez Charinho, Martin Codax e Meendinho). Apesar de só agora nos ter chegado às mãos, merece um justo destaque no Templo das Heresias.
(01) Vi eu, mia madr', andar (Nuno Fernandez) (2:26)
(02) Tres moças cantavan d'amor (Lourenço xograr) (3:58)
(03) Vayamos, irmana, vayamos dormir (Fernand'Esquío) (3:20)
(13) As ffroles do meu amigo (Pai Gomez Charinho) (3:16)
(08) Levous' a loaçana, levous' a velida (Pero Meogo) (3:08)
(09) Levad', amigo, que durmides as manhanas frias (Pero Meogo) (4:25)

(Separador)

“Uma Ballata de um anónimo italiano do século XIV, uma balada do século XVI provavelmente de origem árabe, um tema inspirado no canto gregoriano e um texto da Galiza do século XIII encerram o Templo das Heresias de hoje”.
(1) Ensemble Syntagma (Rússia/França) (1) Che Ti Zova Nasconder (5:10) “Stylems, Italian Music from the Trecento”
(2) Begoña Olavide (Espanha) (1) Paseabase el rey moro (5:27) “Mudejar”
(3) Catherine Braslavsky (França) (12 ) Kyrie de la nuit (4,04) “Un jour d’ entre les jours”
(4) Stellamana (EUA) (3) Zephyrus (4,34) “Star of the Sea”