2010/10/08

Mariem Hassan (Sahara Ocidental) / Musica Ficta (Dinamarca)

“Uma canção tradicional da Mauritânia dedicada aos homens; um canto dos tuaregues do Mali sobre as recordações da juventude; um tema de música mística de transe da Argélia; e um tema de música Gnawa de Marrocos, dedicado aos Sherfa, os santos descendentes do profeta Mohammed. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

(1) Khalifa Ould Eide & Dimi Mint Abba (Mauritânia) (7) Art’s Plume (8:03) “Moorish Music from Mauritania”
(2) Tinariwen (Mali) (12) Chabiba (3:20) “Imidiwan: Companions”
(3) Hasna El Becharia (Argélia) (06) Galbi (3:55) “Smaa Smaa”
(4) Hassan Hakmoun (Marrocos) (1) Sala Alla ‘Alik Dima Dima (4:10) “The Fire Within”

(Separador)
Mariem Hassan, a residir actualmente em Barcelona, é a mais importante voz e, de certa forma, a embaixadora da música do Sahara Ocidental. Fazendo-se acompanhar por tambores tradicionais, alaúdes, guitarras e baixo, canta apaixonadamente os blues do deserto e narra as difíceis condições do povo Saharaui.
Nascida em 1958, perto da cidade santa de Smara, Mariem Hassan, vivendo no seio de uma família modesta (que criava camelos e caprinos), não pertencia a uma família de Igawa (griots), embora a música fosse uma parte importante da sua vida familiar. O seu pai tinha uma boa voz e a sua mãe cantava habitualmente em aniversários, casamentos e outras celebrações; a sua tia Zaina era conhecida como cantora e dançarina, o seu tio Bushad como um poeta e, de entre os seus irmãos, um é guitarrista e outro compositor. Mariem seguiu-lhes as pisadas e, ainda muito jovem, quando o Sahara ainda pertencia à Espanha, começou a cantar em pequenas festas privadas e a participar em reuniões clandestinas, onde o povo saharaui desenvolvia a sua cultura musical.
Mariem tinha dezassete anos quando a "Marcha Verde" teve lugar. Os dois irmãos militares levaram a família para o enclave de Mjeriz, a primeira etapa do exílio, e de lá para a Argélia, a um passo da inóspita Hamada. Depois da Espanha ter deixado o Sahara Ocidental a Marrocos e à Mauritânia, o povo Saharaui, antes maioritariamente nómada, passa a viver no exílio, em grandes campos. Mariem passou vinte e sete anos no campo de Smara (Argélia) e aí nasceram os seus cinco filhos.
Mariem Hassan começou por enquadrar o grupo El Hafed (que, mais tarde, mudou o nome para Mártir Luali), com o qual viajou para vários países participando em eventos culturais carregados com um alto teor político. No entanto, em plena guerra com Marrocos, eram muitas vezes boicotados por activistas e funcionários marroquinos no estrangeiro. Foi preciso esperar até 1998 para poder desfrutar da voz de Mariem Hassan, sobretudo com o grupo Leyoad, que actuou por toda a Europa. Após quatro anos de trabalho intensivo com a editora espanhola Nubenegra, Leyoad afirma-se graças à permanência no seu seio de Mariem Hassan e de Nayim Alal, duas das maiores figuras da música saharaui. Em 2002, Mariem gravou com o grupo um disco de medej e, desde então, consolidou-se como uma artista solo, participando em numerosas tournées e apresentações, sob o seu nome próprio. Esporadicamente actuava, no entanto, com as mulheres saharaui, com quem gravou Medej, uma colecção de cantos espirituais antigos.
A consagração final chegou com "Deseos", o seu primeiro álbum a solo, uma obra ardente, sólida e plena de ritmo, que aparentemente não deixa perceber as duas tragédias que ocorreram durante a sua realização, a leucemia e morte do seu produtor e o cancro da mama da própria Mariem.
Em 2009, Mariem Hassan regressou com "Shouka" (A espinha), um hino desafiante, honesto e eloquente, para orgulho e alento do povo saharaui, bem como de dor e suplício desde a invasão marroquina do Sahara Ocidental, em 1975. A voz de Mariem, com a sua intensidade e poder, é a espinha cravada na alma mórbida da consciência marroquina e na apática amnistia internacional. A sua paleta de emoções oscila entre o desafio e a melancolia, evocando o amor pela pátria e a alegria do ardente vento do deserto. Todas estas cores estão pintadas com palmas cadenciadas, tebales (tambores) ressonantes, coros efusivos, clarinetes evanescentes, guitarras hipnóticas e a suavidade dos nay (flautas). A experiente produção de Manuel Domínguez converte este complexo manifesto político numa das mais importantes edições discográficas do ano.
Mais informações:
http://www.nubenegra.com/artistas/index_ampli.php3?id=36


(01) Azzagafa (4:49)
(04) Baba Salama (4:17)
(11) Hinwani (3:11)
(02) Terwah (3:23)
(10) Ragsat naáma (3:55)

(Separador)

“Um tema onde um ensemble ocidental penetra nos meandros do klezmer, a música judaica do leste europeu, entre duas composições onde o oud, o zarb, o daf, o gatam, congas e percussões indianas interagem maravilhosamente com saxofones, contrabaixos, trompetes e flautas; Extraordinárias fusões do jazz com as sonoridades tradicionais encerram a 1ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Michel Bismut/… (Tunísia) (2) Ludio (7:26) “Ur”
(2) John Zorn/Masada Chamber Ensembles (EUA) II (1) Tannaim (4:38) “Bar Kokhba”
(3) Rabih Abou-Khalil (Líbano) (1) Sahara (8:18) “Blue Camel”


2ª Hora

“Um canto aos estudantes da Finlândia do século XVI, um tema sobre um rei sobrenatural das montanhas da Noruega e uma balada da Suécia sobre uma mulher do mar que simboliza os desejos carnais. A música medieval da Escandinávia na abertura da 2.ª parte do Templo das Heresias.”

(1) Zefiro Torna (Bélgica/Finlândia) (15) Scholares convenite (3:35) “De Fragilitate: Hymns from Medieval Finland”
(2) Agnes Buen Garnas/Jan Garbarek (Noruega) (5) Venelite (7:34) “Rosensfole: Medieval Songs from Norway”
(3) Lena Willemark/Ale Möller (Suécia) (2) Gullharpan (6:33) “Nordan”

(Separador)

O ensemble Musica Ficta, sediado em Copenhaga, fundado em 1996 pelo compositor e maestro Bo Holten, é um notável grupo vocal profissional que se dedica à música antiga. Tendo-se especializado em música vocal, na polifonia, em madrigais e na música medieval, o grupo tem trabalhado exclusivamente em projectos temáticos, com base na ideia de que a experiência musical é reforçada pelas perspectivas histórica, literária ou filosófica, que desempenham um papel activo na programação. Entre outros, lançou registos dedicados à Renascença, à música da corte do Rei Cristian III, a cantigas dinamarquesas, a músicas infantis e a canções de Natal.
Em 1999, os Musica Ficta editaram o extraordinário registo “Medieval Music in Denmark”, que abarca as primeiras referências conhecidas da música dinamarquesa, desde o século IX ao XV. O registo, editado pela Dacapo, inclui uma polifonia parisiense do século XIII, encontrada numa notável fonte da Dinamarca, e versões dinamarquesas de canções do repertório internacional. Ilustra, assim, tanto a contribuição dinamarquesa para a música europeia como os contactos musicais que a Dinamarca desfrutou com o resto da Europa na Idade Média.
Em certa medida, a Música Medieval na Dinamarca e nos outros países escandinavos, tem sido quase sempre sinónimo de baladas nórdicas para dançar, que dependem da cooperação entre o vocalista principal, que narra uma história na língua vernácula, e sua audiência, que dança. Mas, apenas um pequeno número de peças medievais sobreviveram na Dinamarca e torna-se mesmo difícil decidir o que é dinamarquês dessa época. Há autores que consideram virtualmente impossível constituir um programa que inclua exclusivamente a música medieval da Dinamarca, mesmo que se utilizem fontes dinamarquesas. Contudo, é possível (e os Musica Ficta fizeram-no com mestria) elaborar um programa com uma ou outra conexão com a Dinamarca do ano 1000 até cerca de 1500, quando os reis dinamarqueses, tal como outros príncipes da Europa do tempo, começaram a dar ênfase à música como uma importante actividade cultural das cortes.
Mais informações em: http://www.myspace.com/musicafictadk


(12) Dromdae mik aen drom (c. 1300) (1:21)
(05) Decus regni (1170) (2:54)
(03) Regalis ostro sanguinis (2:06)
(07) Maria candens lilium (c. 1450) (2:29)
(18) O rosa in Iherico (c. 1450) (1:12)
(14) Mith hierthae brendher (c. 1450) (2:10)
(16) Nicolai solempnia (c. 1450) (1:23)

(Separador)

“Um hino da Escócia do século XIII, retirado do Manuscrito Uppsala; o mais antigo tema secular inglês conhecido, de um anónimo de cerca de 1250; um conhecido poema do género “canções de raparigas” do Minnesänger alemão Walther von der Vogelweide (c. 1170 – c. 1230); uma composição polaca do século XVI, de devoção à Virgem; e um tema da Hungria do século XVIII, sobre damas e bruxas. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.

(1) Graysteil (Escócia) (3) Hymn to St Magnus (5:14) “Music from the Middle Ages and Renaissance in Scotland”
(2) Ensemble Belladonna (Suécia/Canadá/Alemanha) (3) Miri is while sumer ilast (3:03) "Melodious Melancholye”
(3) Freiburger Spielleyt (Alemanha/Suíça) (12) Under der linden na der heide (4:27) “O Fortuna”
(4) Dekameron (Polónia) (18) Zdrowa Badz Maria (3:25) “Ave Mater, O Maria!”
(5) Musica Historica (Hungria) (3 What a pity that I will remain single (4:13) “Dames and Witches”