2007/09/05

Kal (Sérvia) / Delphine Aguilera & Marc Bellity (França/Tunísia)

“Uma canção de embalar da Grécia, um canto cigano da Rússia, uma voz misteriosa da Bulgária e um tema da Turquia sobre a procura da felicidade. São os sons que abrem hoje as portas do Templo das Heresias”.

1. Nikos Kypourgos with Savinna Yannatou (5) Slumber … (3,22) “Traditional Lullabies”
2. Lilya Shishkova & Rosy Na Snegu (8) Pavlina Kylya (4,17) “Russian Gypsy Soul”
2. Yanka Rupkina (3) Dafino (4,48) “World Connection”
3. Senem Diyici Quartet (4) Altin Hizma (5,50) “Morceaux choisis”

(Separador)

Vindos provavelmente da Índia, bem antes do ano 1000, os ciganos nunca deixaram de contribuir para o desenvolvimento da cultura musical do planeta. Para onde quer que se dirigissem, ainda que vítimas da mais primária rejeição social e alvos da exacerbada crítica literária e cinematográfica, os ciganos continuam a manter as suas tradições. À margem das nossas evoluções tecnológicas e sociais, eles transportam consigo um Oriente quente, profundo e tribal.
Como nos recorda o historiador e filósofo Al-Firdusi, os ciganos cedo abraçaram um estilo de vida marginal, em que os músicos trocavam conhecimentos e prazer por dinheiro. À sua maneira, os músicos ciganos preservavam assim a tradição transmitindo-a através de emotivos cantos e declamações por poetas profissionais (como por ex. os “langa” ou “manghaniyar” do Rajastão ao serviço do seu mestre ou por músicos itinerantes como os ciganos do Afeganistão que cantam em “dari”, uma língua derivada do persa).
Desde a sua chegada à Europa no séc. XV, os músicos ciganos invariavelmente adaptaram o seu estilo com grande versatilidade às culturas que encontraram nas suas viagens. Nesse sentido o Húngaro Bártok considerou em 1933 que a denominação “música cigana” é, do ponto de vista científico, incorrectamente utilizada e aquilo a que se chama música cigana não é mais que a popular tocada por ciganos.
Ser-se cigano no séc. XXI na Sérvia implica navegar num campo de minas (social e cultural) potencialmente explosivo. Actualmente ninguém consegue abordar, com tanta propriedade, a história, os mitos, as tradições, os preconceitos e o orgulho comunitário cigano como o grupo Kal.
Revelando-se como a mais excitante banda dos subúrbios de Belgrado, os Kal acabaram de editar para a Asphalt Tango Records (2006) um registo sem título que funde as raízes dos blues dos Balcãs com o beat urbano.


(5) 5,56
(12) 4,25
(7) 3,29
(1) 4,43

“Um canto sagrado de Tagore, uma melodia dos montanheses do Tibete, um tema sobre a tranquilidade da noite em Gazli, no Uzbequistão e uma canção marroquina dos subúrbios magrebianos de Bruxelas. São os sons que encerram a primeira parte do Templo das Heresias”.

1. Evelyne Daoud (13 Akh Tagore …(4,44) “Chants sacrés / voix de femmes”
2. Yungchen Lhamo (3) Ari-lo (4,30) “Tibet, Tibet”
3. Sevara Nazarkhan (9) Gazli (5,35) “Yol Bolsin”
4. The Natacha Atlas & Marc Eagleton Project (3) Zitherbell (5,07) “Foretold in the Language of dreams”


2ª Hora

“Um texto da ilustre freira beneditina Hildegard Von Bingen, do séc. XII e um feliz encontro da música europeia com um canto devocional indiano”.

1. Ensemble Capella Floriani (2) O quanta … (8,58) “Songs of the Soul”
2. Aruna Saíram & Dominique Vellard (11) Naadabinda (7,42) “Sources: Devotional Chants of Southern Índia & Medieval Europe”

(Separador)

Nos séculos XII e XIII, um leque de canções emergia pela pena das “trobaïritz” (poetisas) e dos “trobadors” (poetas). Estes trovadores, poetas mas também músicos e compositores, são os primeiros artistas profanos a surgir na Europa, mais precisamente na região de Limousin, estendendo-se depois a toda a Provença.
Por volta de 1160, a estrutura e a temática dos trovadores foram adaptadas pelos “trouvères” do pais d’Oil (norte de França), pelos “Minnesänger” na Alemanha e por outros trovadores da Itália e de Espanha.
O status e as origens sociais destes trovadores eram diversificados: Se Guillaume IX era duque da Aquitânia e Jaufré Rudel príncipe de Blaye, já Cercamon (“aquele que correu o mundo”) e Marcabru (conhecido também por “pena perdida”) eram simples jograis. Bernard de Ventadour, que sucedeu a Aliénor d’Aquitânia na corte de Inglaterra, um dos principais trovadores na 2ª metade do séc. XII, era filho de um servo do castelo de Ventadour e, portanto, também de origem humilde.
Por outro lado, as Trobaïritz como Contesse de Die, Azalaïs de Porcairages, Na Caslelloza, entre outras, eram damas cultas da nobreza que se dedicavam a contar histórias para serem cantadas ou declamadas.
A francesa Delphine Aguilera, especialista em repertórios líricos e poéticos, e o tunisino Marc Bellity, que toca cistre e mandola (acompanhados pelas percussões orientais de Mathias Autexier), recuperam os trovadores medievais em “Fin Amor” (Buda Musique 2007). Trata-se de um registo que privilegia o amor cortês, impregnado de valores heróicos próprios da cavalaria (humildade, reserva, submissão, lealdade e fidelidade sem mácula do cavalheiro à sua dama), um amor realista e carnal, não que se dirija ao adultério, mas que evoque emoções delicadas.


(3) Méditation sur le thème de la Sybille Na Carenza (Anonyme)) (4,33)
(1) Prélude sur Annus Novus in Gaudio (Recueil Limousin) / A Chantar (Beatriz de Dia) (5,56)
(9) Improvisation instrumentale (D’après une réponse de Hildegard Von Bingen) / Rei Glorios (Guiraud de Bornelh) / Ave Rosa Novella (Motet du XII siècle de l’école Notre Dame) (9,04)

(Separador)

“Versões modernistas de composições do Llibre Vermell (séc. XIV), do manuscrito St. Martial, da abadessa beneditina do séc. XII Hildejard Von Bingen e de uma cerimónia religiosa. São os sons que encerram o Templo das Heresias”.

1. Hughes de Courson (1) Stella Splendens (4,45) “Lux Obscura: a medieval electronic project”
2. Pilgrimage (1) Campus Stella (5,10) “9 Songs of Ekstasy”
3. Garmarna (6) O vis aeternitates (3,40) “Hildegard Von Biñgan”
4. Lászlo Hortobágyi (4) Rex Virginum (6,00) “The Arcadian Collection”

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